quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Por seu direito de dizer (o que eu quero)

O vídeo é longo e as melodias das músicas são muito ruins, mas cada minuto vale a pena e cada rima pobre diz mais sobre o Rio de Janeiro do que toda a Bossa Nova fantasiou. O texto que o segue, também é longo. Como ninguém lê mesmo, vou escrever o quanto eu quiser.

Grosso Calibre (High Calibre) from ShootingPoverty on Vimeo.

O pessoal do Instituto Millenium, que tem seu direito de dizer QUALQUER BOBAGEM mais do que garantido, esperneia contra o governo federal e o Conselho Federal de Jornalismo, que pra eles seria sinônimo de censura.

Tão longe de concordar com o pranto deste instituto quanto de acreditar que ele represente um Revival de Abril de 64, tenho que dar o braço a torcer, quando vejo que a censura acontece de fato no país. Pelo Estado e pelo status.

É, o MC Smith testa o Voltaire (se pá, apócrifo, vai saber) em nós. Fala muita bobagem. E, se não faz apologia ao crime, no mínimo desmistifica a posição de mocinho e vilão da história. Só que, numa certa altura do vídeo, se pá cansado de falar bobagem, que aquilo é a realidade do morro. Banquinho e violão, peixe, é só em Ipanema.

O cara teve amigos mortos pelo B.O.P.E. (santos ou não), não é um choque que não amem o Capitão Nascimento como faz a classe média. Se ele canta que usa roupas da marca X, calçados da marca Y, é por que a playboyzada o discrimina pelas roupas que usa e esse é o jeito de mostrar que pode ter o mesmo mau gosto que qualquer Mauricinho.

O Funkeiro foi preso por apologia ao crime, bem como, segundo a lei vigente, também deve ser quem faz apologia ao uso da maconha. Pela regra, se você for favorável ao aborto ou à eutanásia, é bom não sair espalhando sua opinião, que também pode sobrar pra você.

O Estadão reclama estar há quase dois anos sob censura do Estado, que não lhe permite divulgar documentos em segredo de justiça sob um processo movido contra o filho de um famigerado colunista da Folha. Contudo, paga o salário do colunista Demétrio Magnóli (veja, deve ser mal das iniciais) , que, entre lamúrias reacionárias, reclama do apoio que Lula deu ao Wikileaks, numa coluna que poderia ser chamada de "tiro no pé".

O Wikieaks não faz menos do que o jornal - que, acredite, eu admiro, mesmo não concordando- mas, ao invés de cobrar do presidente o mesmo apoio à sua causa, que se resume a um breve parágrafo no final do seu texto, Ataca o Wikileaks falando de uma teoria elitista sobre a distinção entre interesse público e interesse do público, que o colega de redação Eugênio Bucci já mostrou como está ultrapassada.

O Estadão não é santo também. Maria Rita Khel que o diga. Censura? Não, o direito de uma empresa demitir um funcionário que não trabalha de acordo com seus padrões. Estes são os pesos, e as medidas em questão.

A Folha não fica atrás. Além de ser acusada colaborar com a ditadura, o jornal não gostou muito da crítica que recebeu. Apesar de reclamar, como o restante da Imprensa, da cara feia que faz o presidente quando uma crítica o importuna, processou um site que a satirizava e tirou do ar seu antigo domínio, Falha de São Paulo. A treta é que os caras do site tem um milhão de contatos, e levantaram o site Desculpe a Nossa Falha, e estão fazendo barulho.

Curiosamente, a Folha não recebeu processos por fazer praticamente a mesma coisa.

É muito difícil não se posicionar sob as questões abordadas. Jornalista bom mesmo não consegue.
E, ao se posicionar, fica muito difícil aceitar o que o pessoal do outro lado diz. Dá muita vontade demandar calar a boca, ou de pedir pra Justiça mandar calar a boca. Um poema que você conhece, e deve achar que é do Maialovski (mas é de Eduardo Alves da Costa) explica o fim da história:

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho e nossa casa,

(...)

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada

Pra que a voz que diz o que você quer ouvir ser arrancada como no poema, é só achar que tudo bem se, um dia, qualquer que seja, a voz do outro lado for limitada. O revide não é um jogo de soma zero. Quando um revida, o outro vai estar perdendo e vai querer revidar. Pois é.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Mais uns conselhos ao revoltado

Sobre o texto do Jota, eu reuni mais alguns conselhos aos revoltados:

1 - é terminantemente proibido usar o termo "companheiros". Chamar os colegas manifestantes de "camaradas" então nem pensar.

2 - pode cantar! É bom, faz bem pra saúde, faz mais barulho... mas "um, dois, três, quatro, cinco, mil" vai pra puta que o pariu!

3 - seria magnífico chamar a atenção do máximo de gente possível, mas não faça isso parando uma avenida, sobretudo da maior cidade da América Latina. Pode ter certeza que nenhum veículo de comunicação vai dar atenção pro motivo do protesto, só pra consequência. Você só conseguirá atrair a antipatia do povo.

4 - Pelamor!! INOVE!


Manual do bom militante

Tem pouca coisa que me irrita mais que os desmandos políticos nacionais.
Um forte candidato a superá-los é a mania do povo de protestar de acordo com uma cartilha maldita que reza os seguintes dogmas da militância, quais sejam:
§1. Todo e qualquer manifestante deverá usar preto;
§2. É conveniente misturar todas as reivindicações num mesmo protesto;
§3. Os organizadores do protesto deverão usar de linguagem adequada para o público manifestante.
#3.1 A linguagem deverá ser douta e apenas ligeiramente compreensível para as manifestações que busque o endosso popular;
#3.2 A linguagem deverá ser descolada cheias de gírias de malandrões do gueto, tal qual se vê fidedignamente retratada pelo personagem Boça ou pelos personagens de um dos bastiões da teledramaturgia brasileira, a novela Malhação, sempre que a plateia for composta por adolescentes;
§4. Todo e qualquer manifestante reconhece o portador do megafone como seu pastor e nada lha faltará no que depender deste;
#4.1 O portador do megafone tem a prerrogativa de reunir os manifestantes e revisar, em forma de monólogo extensivo ou jogral com os demais líderes.
§5. Toda reunião que protocolar um documento sobre o manifesto deverá tratar de cada minúcia do tema antes de abordar a questão principal, que geralmente é unânime.
§6. O movimento Caras-Pintadas será sempre a referência mor do movimento e seu hino será tocado ao final de qualquer ato reivindicatório
$7. Os cartazes deverão trazer os dizeres ABAIXO + motivo do manifesto. Em caso de dúvida, completar com ditadura.
§8. As cores a serem estampadas no rosto dos manifestantes deverão seguir o padrão indicado abaixo, em ordem de importância:
a)Manifesto contra corrupção e abuso de poder: Preto + cores da Bandeira
b)Manifesto contra violência: Preto + vermelho
c)Manifesto em favor dos direitos dos homossexuais: Cores do Arco-íris + Pretinho Básico
d)Manifesto em favor da legalização de drogas culturais: Preto (pode ser cinza) + Verde, Amarelo e Vermelho
e)Manifesto pela Paz: Exclusivamente Branco.
§9. É IMPRESCINDÍVEL O USO DE NARIZ DE PALHAÇO PARA QUE A MANIFESTAÇÃO SEJA RECONHECIDA COMO TAL.

Gostaria de deixar claro que defendo todas as causas citadas acima, até mesmo a última, geralmente defendida em casos de violência indisciplinada que atinge a classe média ao invés de limitar-se à população de baixa renda. Contudo, é revoltante ver como até as manifestações populares foram enlatadas e congestionaram a criatividade da manifestação política.

O mais do mesmo é extremamente prejudicial à causa defendida, que perde o apelo popular por falta de inovação, por falta de mostrar que quem está ali gritando está protegendo os interesses de uma população oprimida.
Criatividade é marca registrada de um ativismo que teve muita dificuldade de driblar a censura (mais sobre ela no próximo post). Mas hoje, ainda que as fileiras manifestos sejam formadas sobretudo por universitários das ciências humanas, é como se o vírus simbionte da classe-média alienada e pouco autônoma parece ter infectado a todos, por mais politizados que sejam.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CQSenta lá, Cláudia

Atendendo à provocação do Russo, vou comentar sobre o prorama do Marcelo TAS.
O cara é um gênio da mídia, sabe fazer TV como ninguém. Depois do Serginho Groismam, claro.
A mais notória peripécia dele é a adaptação do Argentino CQC, de estrondoso sucesso.

Não tiro seu mérito de saber reciclar o programa dos hermanos e adaptá-lo à nossa cultura.
Se o humor faz sucesso aqui mais que tudo, que mantenhamos o humor. Se é sexo que as pessoas querem ver, que o sexo seja abordado no programa. Esculacho de políticos e estrelas, tem relativa importância, que os esculachem. São itens essenciais para a sobrevivência de um programa na TV com as pretensões do CQC. O mal do CQC, bem como da mídia nacional em geral, é não desafiar o espectador.

Em nome da audiência, uma fórmula de programa que poderia dar certo além de não evoluir vai se desgastando, caindo no óbvio. Foi assim que o humor resumiu-se aos bordões da Praça É Nossa ou Zorra Total. Com o CQC, a história se repetiu.

Quadros como o Proteste Já perderam seu caráter de denúncia de patrimonialismo para virar relatório de violência aos repórteres, com direito à chamadas durante a programação com cenas das agressões. Logo, o caráter político do programa foi se perdendo, dando lugar ao tititi de festas de ente famosa e piadinhas baratas no pior estilo Amaury Júnior. O Pânico já fazia essa bobagem há anos e pelo menos algumas nádegas aparecem entre um entrevistado e outro.

Essa queda na qualidade do programa - de seus critérios - ocorre em nome da audiência e da lógica "se eu exigir menos do espectador, mais gente consegue ver". Qualificar o espectador é muito difícil em um país cuja educação é convenientemente desprezada, mas quando não há nenhuma tentativa neste sentido, é sinal de nada de novo vai ser apresentado ali.

Há sim como falar com o público sem ser raso. O Altas Horas, às 2 da madrugada de sábado, disputando com o Cine Privé, fala de sexo com a Laura Müller. É uma forma de emancipar o povo, tão igorante no assunto.

Falar de política sem esculhambar figuras, mas explicando as ideias dos partidos seria uma tentativa de emancipação, mas isso é querer demais. Escancarar a ignorância de alguns políticos já serve. O mau-caratismo de outros também. Mas bater no Maluf, no ACM, é praxe, não conta.

Quem precisa ser escancarado, Bolsonaros, Afanásios, Dirceus, Agripinos etc são deixados na paz das entrevistas dos jornalões que os bajulam, protegem ou não conseguem alcançar. CQC fez isso no início. Não faz mais. Prestou um serviço pra população. Não presta mais.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

As esquerdas

Nao bastassem os debates dos centros acadêmicos que participei, o #atoWikileaks confirmou uma velha suspeita minha:
Falta dialética interna pra esquerda.

O debate de ontem lembrou o ainda mais antigo dilema da esquerda , divdida entre os grupos que aceitam jogar com as regras atuais - pra poder jogar também - e a ala mais dogmática (por favor, sem o tom pejorativo do termo) que prefere ser fiel às suas bases conceituais mesmo que isso a impeça de um dia chegar ao poder.

O diálogo, ao qual nos dizemos favoráveis, convenhamos, é miseravelmente falho. É comum recorrermos a um mesmo tópico exaustivamente, não por conta e respostas insatisfatórias, mas por que as soluções encontradas por aquele que responde não foram satisfatórias.

Pô, a regrado jogo para o Wikileaks era vazar pra alguém que desse visibilidadepra bagaça. Com todo respeito à Carta e à variados meios, Folha e Globo, por pior que sejam, tem maior audiência. Seguramente foi esse o critério usado.

Porque não distribuíram os vazamentos aos demais veículos? Essa pergunta foi a mais intressante, embora feita para a pessoa quenão podia responder. Mas considerando que eles só vazaram pra 5 jornalões lá fora, ter dois só aqui não é um número pequeno. Talvez seja uma questão de praticidade de mobilização de equipe, nao sei, mas sinceramente, me parece uma justificativa plausível.

Pode não ser plausível pra você, eu entendo e discuto, mas ficar horas apedrejando a Nathália Vianna por causa da escolha da Organização Wikileaks, espero quepossamos concordar neste ponto, é inútil!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Apartheid estudantil

Na cidade de Bauru, localizada no centro do Estado de São Paulo, é cada vez mais comum a proibição do aluguel de apartamentos para estudantes. Fora isso, vários proprietários de casas se recusam a alugar imóveis a universitários.

Vamos começar de maneira radical: proibir estudantes em apartamento é o mesmo que proibir negros, pobres. Ou seja: puro preconceito.

Escutei um cidadão dizendo: "Não é preconceito. É uma situação que eles mesmos criam, fazendo baderna. Só quem mora ao lado de república sabe como é".

Não é preconceito dizer que: estudante = baderna?

Não estou dizendo que estudante não exagera. Alguns exageram sim. Fazem barulho, festas até o início da manhã seguinte. Mas se fazem isso, estão quebrando a lei do silêncio pós 22h. Daí baixa polícia na frente da casa e tudo mais.

E quanto aos apartamentos? Estudantes fazem barulho. Sim, alguns fazem. Mas se o condomínio pode colocar multas (no meu prédio a multa é de R$ 500 reais!!!) o barulho diminui. Do mesmo jeito muitos não-estudantes fazem barulhos e aprontam as suas nos condomínios. Eles só não são etiquetáveis.

Uma coisa é repreender e punir quem comete excessos. Outra coisa é simplesmente proibir alguém de entrar ou morar em um lugar porque outros da "mesma classe" (falam de classe de estudantes fosse uma coisa homogênea) fizeram bagunça.

Quem procura um lugar para morar, ao saber das regras daquele local, fica ciente do que pode ou não fazer. Mostrar o que pode ou não pode é completamente diferente de (e muito mais difícil que) proibir todos que um dia talvez, quem sabe, numa hipótese, possam vir a infringir a regra.

É a punição a quem não fez nada errado.

E mesmo quem exagera é tratado de maneira extremamente preconceituosa, como se aquele "pai de família" (e nem dá pra sabem o quão 'pai de família' que diz isso realmente é) nunca tivesse sido jovem, aprontado as suas. Como se nunca tivesse ido numa festa, ou como se no fundo, não estivesse com enorme inveja de poder trocar aquele terno por uma roupa casual e entrar na festa do "vizinho bagunceiro".


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Aliás, em Bauru começou um apelo pela recontagem da população no Censo do IBGE. Falam em 400 mil, mas o Instituto apontou 335 mil. Os bauruenses retrucam: "mas Bauru é uma cidade universitária, tem 9 faculdades... os estudantes foram contados em outras cidades".

Na hora de inflar estatísticas lembram dos universitários.

Às vezes não dá vontade de ser contado como habitante da cidade.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Salve CQC - ou não

Pergunta: O CQC é um bom programa ou já está apelando?

Quando o Pânico na TV surgiu, há 7 anos (estou ficando velho), o programa era o máximo. Parecia algo impensável um repórter fazer piadas com o próprio entrevistado. Eu assistia o programa inteiro para poder ver o Vesgo e o Sílvio cobrindo festas. Eis que uma professora minha profetizou: "Eles são ricos e engraçados. Daqui a pouco ficam milionários e sem-graça".

E foi o aconteceu. O programa ficou repetitivo, agressivo, e não saiu daquelas histórias de sandália da humildade, porrada no Vesgo e tudo mais.

Aí surgiu o CQC. Era o Pânico politizado e com mais conteúdo. As piadas não eram mais sexuais (apenas). Tinha crítica, posicionamento político, crítica social. Os deputados tinham que responder as perguntas capciosas e se não respondessem pegava mal. Rafinha Bastos, na bancada ao lado de Marcelo Tás, dava voz às piadas pesadíssimas enquanto Marco Luque era o responsável pelas piadas (nem um pouco) inocentes. Surge também o Top Five, e as mazelas da TV brasileira são expostas. Genial.

Eis que... Danilo Gentili começou a apanhar (Vesgo 2?) Tudo bem, era o ímpeto "jornalístico" pela notícia, pela entrevista. Forças ocultas agiam contra o programa televisivo. Mas depois, Rafael Cortez começou a distribuir selinhos em atrizes (Vesgo 2...).

Não dá pra dizer se a máscara caiu e dizer que de programa revolucionário, o CQC parece ter virado reacionário. Tás, durante a greve de estudantes da USP, chegou ao escrever no seu blog "Cadeia nesses vagabundos!" se referindo aos estudantes. Parecia até apresentador do Balanço Geral.

Durante a eleição de Dilma Rousseff mais uma do CQC pegou mal: "Danilo Gentili foi agredido por militantes do PT" denunciou Tás no Twitter. Absurdo, com certeza. Mas não era nada disso. Ele mesmo admitiu depois no Twitter: "Danilo Gentili foi agredido por seguranças do hotel onde Dilma estava hospedada". Segurança virou petista. Para completar, o apresentador dizia "Assistam o CQC e tirem suas próprias conclusões". É, pego mal para o CQC, pelo menos na minha opinião.

O CQC levanta diversas questões: é um programa jornalístico? Deve ter espaço numa entrevista coletiva? [vamos lembrar que os próprios jornalistas esportivos pediram a saída dos humoristas em entrevistas durante a Copa]. Alías, o que o CQC faz é jornalismo? A Revista Imprensa, em 2009 apontou os programas humorísticos com uma das causas da futura morte do jornalismo.

Bom, parece que daqui só vai sair uma chuva de críticas, mas pelo contrário. Eu adoro o CQC, acho o melhor programa da TV na atualidade e quando não consigo assistir vejo na Internet.
Acho que Marcelo Tás é um ícone do jornalismo de humor - daí pra saltar dizendo que é jornalismo eu fico em cima do muro. Se não concordamos sobre o jornalismo, garanto que entretenimento mais informativo que o CQC não há.

Na verdade, os repórteres do CQC fazem algumas perguntas muito melhores que as de outros jornalistas. A criatividade das matérias, dos assuntos e das edições acabou servindo de lição para o noticiário fraquinho que a gente via por aí. Alguns dos assuntos levantados no programa pautaram o noticiário nacional - violência de seguranças, mordaça aos humoristas são alguns exemplos.

Há quem diga que o programa ridiculariza o jornalismo e a política. Eu acho que o programa questiona e altera ambos.

E vocês? O que acham?

sábado, 16 de outubro de 2010

Quem vai limpar a bagunça?



Mesmo sendo um cara de muita fé, quando observo o panorama atual, sinto um forte desânimo. Muito a se fazer, muita sujeira, ninguém sabe como se chegou a esse ponto, nem sabe quem fez isso, quem deixou de fazer aquilo - quando sabe, deve algum favor para os culpados, e aceita o pacto de silêncio. Seja como for, ninguém toma providências para contornar a situação.

A pressão por reforma é intensa, mas já não se espera muito dos que deveriam resolver o problema, tanto que nem são mais cobrados pela solução. A sujeira vai se acumulando e a conivência nos torna igualmente culpados. Alguém reclama aqui, outro acolá, mas "é melhor não chiar muito que algum podre meu pode aparecer"!

Ficamos à espera de uma ação do terceiro setor, de alguém que se disponha a resolver tudo, gesto tão é tão raro quanto árvores paulistanas. E quando aparece alguém querendo mudar tudo, quer tudo do seu jeito, não aceita negociar, o que sugere um cenário pior do que o atual. Como ninguém tem tanta coragem pra se envolver em tamanha bagunça de graça, ficamos nas mão do setor terciário, que cobra, e caro, bem caro.

Ainda assim, espero de forma mui cristã que, em 10 anos, eu possa ver a cozinha da República em que moro sem essa pilha monstruosa de louça, talheres e fungos que se hospedaram na nossa pia!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Uma Tropa do Barulho

O filme Tropa de Elite 2 não é exatamente a continuação do filme Tropa de Elite. É na verdade uma desconstrução do primeiro filme: Capitão Nascimento, agora Coronel e sub-secretário percebe que tudo o que havia feito - entrar em favela matando traficantes - era manter o "Sistema" (no sotaque do personagem, sissstema) que ele tanto incriminava.

No primeiro filme, há um maniqueísmo entre o policial honesto linha-dura no lado do bem e o traficante desalmado e policiais corruptos ou no mínimo negligentes no lado do mal. Agora, Coronel Nascimento percebe que não deveria lutar contra traficantes, nem contra usuários de drogas que sustentam traficantes. O problema vem de cima.

No primeiro filme há uma série de bordões jogados para o espectador. No segundo há uma série de detalhes de uma trama muito mais grave que um tiroteio ou uma invasão numa favela.

Em Tropa de Elite 2, o protagonista entra para o "Sistema" para tentar combatê-lo por dentro. Inicialmente percebe que aos poucos estava se entregando ao "Sistema", depois percebe que sempre fez parte dele. Que sempre fizemos parte dele. Matando traficante, o Capitão Nascimento não encostava em nenhum um fio de cabelo dos políticos que favoreciam o tráfico.

Tropa de Elite 2 é uma aula de ética sem citar qualquer teórico. Além disso, é uma aula de jornalismo: um dos vilões é apresentador de um daqueles famigerados programas policiais do tipo "espreme que sai sangue" que tem na televisão. Parece até uma referência ao apresentador Wallace Souza, de Amazonas, que encomendava mortes para poder exibir os corpos na TV. Outra personagem-chave é uma jornalista que vai até fundo nas investigações do tráfico aliado à política.

Aliás, política é o principal assunto do filme. "Em ano de eleição..." é a frase mais repetida pelo Subsecretário Nascimento. Tudo gira em torno de eleição. Além disso, a parte mais genial do filme é o fim da eterna dicotomia esquerda-direita. O protagonista começa ridicularizando os "intelectuais de esquerda", depois passa a depender deles. Do mesmo modo, o professor de história que casa com a ex-mulher de Nascimento começa desprezando as idéias de "bandido bom é bandido morto" do capitão do Bope, mas acaba precisando dele para instalar uma CPI. Os dois percebem que tinham os mesmo objetivos mas falavam línguas diferentes.

Na verdade, o filme rechaça o "Sistema" fazendo parte do "Sistema" - o que dizer de um filme popular cheio de patrocinadores? Cheio de telespectadores? Que em breve passará na TV Globo? Mesmo assim, o filme é o ataque perfeito ao "Sistema".

Ah, e diga-se de passagem, a escolha da música "O Calibre" dos Paralamas do Sucesso para fechar o filme foi genial.

Bom, e se Tropa de Elite virou filme da Sessão da Tarde, fica a sugestão de títulos: "Uma Tropa do Barulho" "Um Capitão da Pesada" ou até "As Aventuras de Capitão Nascimento"

sábado, 9 de outubro de 2010

desibernando

O blog estava parado há tempos, prcisava de uma causa séria pra ressucitar.
As eleições estavam muito mornas, sem um debate sério. Surgiu um.
Segundo turno rolando, minha insossa candidata disputa com uma versão geriátrica de Mark Schreck. Tudo muito previsível, motivos de sobra para o blog continuar hibernando: a queda de braço que tende a marcar os livros de história do futuro como a disputa entre os liberais privatistas tucanos e os liberais estatistas vermelhos não é exatamente uma disputa ideológica. O PT foi melhor que o PSDB justamente naquilo que mais criticava, a política de mercado. Meu voto vai para os petistas mesmo assim porque me parecem mais preocupados com o âmbito social, e acho que o PV ainda não é partido minimamente autônomo para ir pra porrada, haja vista suas alianças absurdas... haja vista o Gabeira, em especial.

Mas o PV, ainda que não tenha um capital político consolidado, conseguiu voto a rodo no primeiro turno. Um voto filho de jacaré com cobra, que reúne ativistas libertários e religiosos dos mais conservadores. E, ao contrário do que idealizam meus sofisticados amigos marineiros, é evidente que o segundo grupo é o que pesou na votação recente. Quanto pesou? Só um censo pra dizer, até as pesquisas de intenção de voto vão precisar se reformular depois desta eleição.

Seja como for, os dois candidatos, por mais vampirescos que se aparentem, apostam que conquistar os votos dos religiosos conservadores e tradicionalistas (os religiosos mais modernos estão sendo igualmente ignorados) será definitivo no sufrágio vindouro.

Quando o debate ganha importância na eleição, os militantes se destacam. Daí surge a relevâcia do organizador de campanha, que deve ser escolhido tão casutelosamente quanto o candidato a vice, por exemplo. É ele que vai responder pelo partido aos boatos de campanha, que inclusive angariaram um bom bocado dos votos que compuseram a fração verde da votação.

Pensando nisso, o PT escolheu o Ciro Gomes, experiente pólítico para tal cargo. O PSDB delegou a função à ex-petista Soninha Francine. São figuras que não possuem ligação direta com os partidos que disputam a eleição, mas que tem grande representatividade política.

O PT errou feio nessa. A campanha petista na internet está fragmentada, apesar de ter grandes figuras apoiando sua candidata, e que poderiam fazer um grande trabalho. Escoheram alguém que criticou muito a sua candidata por rancor à chapa. Ele deve ser bom de palanque, mas a unidade da campanha está fazendo falta ao partido, e ele não tem grande penetração no público mais vulnerável às campahas de SPAM, o qual , incusive, vai pesar.

Os tucanos, por sua vez, escolheram uma ex-jornalista brilhante nessa área. Sabe falar com o público jovem desde os tempos de Debate MTV, e não se engane, o programa realmente era bom quando ela apresentava. Esse é o público que alimenta a militância. E, apesar do esforço recente pra me desapontar, ainda tenho muita admiração por ela. Alguém que defende a legalização do direito ao aborto e do uso de maconha da forma honesta que ela fez merece um Nobel. Não é exageiro.

O post de retorno é um apelo. Um apelo inútil, eu sei.
Mas eu gostaria muito de ver essa mulher defender suas visões absurdamente avançadas, absurdamente progressistas, em trincheiras que pretendam realizar suas convicções um dia. Não agora, que a campanha impede imaginar até mesmo o progresso do debate. Sugerir avanços divide a população, e campanha é tempo de unir o eleitorado, mesmo que através do discurso retrógrado. Não dá pra jogar a eleição um plebiscito sobre essas questões. Seria um erro estratégico infantil, melhor deixar pra depois ... é um preço que pode ser caro, mas que não pode ser evitado.

Numa eventual vitória tucana, as idéias de Soninha seriam evidentemente abortadas. No PT, postergadas. Evidentemente não é o ideal, mas é a opinião da maioria, temos que aceitar a democrática derrota que o pensamento libertário sofreu, mas buscar espaço para reverter o placar. O PT não é um PSOL em termos de respeito às liberdades civis, mas é muito mais flexível que o PSDB, cuja base aliada conta com DEM, Veja (cujo esporte predileto, depois de tentar convencer o povo de que o PT é um braço das FARC, é entrar em contradição) e tanta gente reacionária.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CQCim não é a resposta!

A COLUNA DO EDITOR-CHEFE
Prefácio de Oliveira

Quando vejo estes humoristas protegidos pelos seus óculos escuros reclamando da violência de políticos e das rígidas leis eleitorais, lembro-me de como eram realmente difíceis minhas atuações nesta cômica verve do jornalismo político.

Há muito tempo, quando aquele carequinha ainda tinha cabelo, eu já não me contentava com um “Porque sim”.

Logo em minha estréia no humor, fui me encontrar com Jânio Quadros para entregar-lhe um shampoo anti-caspa e uma mostra da bebida-sólida para saber se ele come-la-ia. Pena que o presidente alegou motivo de forças superiores para não me conceder-me entrevista-me.

Tive então que partir para um caminho alternativo. Infiltrei-me-lhe na conderação do guerrilheiro Che Guevara fingido-me-lhe de vendedor de camisa de Che. Eis que Jânio veio indagar-me se eu vendia Cuba Livre. Estendi meu gravador e pedi para que ele explicasse a proibição do biquíni na praia, a proibição da Briga de Galo e o que achava da última escalação de Aimoré Moreira.

Mas isso tudo foi moleza perto do meu trabalho como repórter-humorístico de política durante a Ditadura. Eu e meu amigo Stanislaw Ponte Preta 2 x 0 Guarani resolvemos partir para o Humorismo Verdade.

Fui a uma unidade do DOPS para perguntar ao Delegado Fleury se a situação estava mais suja que pau de galinheiro. Parece que Fleury entendeu “pau-de-arara” e me fez passar várias horas de cabeça para baixo trocando uma idéia com Fernando Gabeira e Mário Covas.

Com o fim do Regime Militar, e do meu regime de pão e água na cadeia, achei por bem encerrar minha carreira humorística com uma entrevista exclusiva com o Presidente João Figueiredo, que me garantiu que concederia entrevista nem que fosse na porrada.

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Prefácio de Oliveira é jornalista e entrou para o humor quando Plínio de Arruda Sampaio entrou para a política. Quando pequeno sentou no colo do titio Barão de Itararé e tomou gosto pela coisa... estou falando do humor!

sábado, 26 de junho de 2010

Chutando de onde der

No último post chutei o candidato a vice de Serra. Análise séria sobre o cenário político , aspas e mais aspas de candidatos, notícias e pesquisas, e resumo minha opinião a um chute? Não é assim.
É que o PSDB também está chutando nomes.
O anúncio de Álvaro Dias não foi definitivo. Nem oficial, Nem mesmo feito pelo partido que preside a chapa. Um tweet de Roberto Jeferson, do PTB, é que espalhou a notícia.

Se a reação for boa, fecha esse mesmo, o DEM acaba tendo que engolir. A repercussão não foi uma maravilha, parece que não vai virar. Dias mesmo já admitiu ceder a vaga, apesar de feliz com a indicação. Se o DEM não bancar o senador do paraná, não demora muito, deve desistir, chuta-se outro nome, dessa vez o Jungman do PPS que twita, ou manda e-mail para redações, pra ver no que dá. Até o DEM se zangar e resolver bancar o seu nome de vez. Agripino Maia e Kátia Abreu são os dois nomes prováveis.

No segundo turno, o PV sempre fechou com o PSDB, mas vai pegar MUITO MAL se apoiar a Kátia, líder da bancada ruralista. Com o Agripino, já não daria tanta bandeira, preserva-se o apoio dos marinados.

Quando chegar a vez do DEM, não vai ser tweet, e-mail pra redações, vai ser coletiva de imprensa e coquetel. Possivelmente festa. Vai fazer muito barulho. Não deixará de ser um chute, só que arriscado, como cruzar para o Ronaldo no final do jogo: pode ser que dê certo, mas já não tem dado bons resultados ultimamente. Mesmo assim, não se pode menosprezá-lo.

Deve acontecer pouco depois do final da Copa. Até lá, chute de longe, e carrinho pra não deixar o adversário correr com a bola.

Bicão

É , parece que furei o chute para indicar o vice do PSDB. Parece, ainda seria tempo de correr atrás, já que o Bob Jeff disse Álvaro Dias seria o indicado a vice de Serra. Não vou: Aécio não tá muito a fim de ser vice, Dorneles perdeu sua chance à tôa, e os tucanos não estão muito dispostos a colocar alguém do DEM na chapa, queimaria muito o filme, mas vou insistir no palpite.Olha só:

O DEM , ex PFL, era o único partido que fazia frente ao PMDB, com cerca de mil prefeituras na década de 90. O chapão debutante PSDB/DEM cresceu muito nessa década, mas nos últimos anos vem sofrendo o governo petista: com a morte de ACM, um de seus principais líderes, a perda de quase quinhentas prefeituras nas última eleições e mais recentemente o escândalo do Distrito Federal fragilizaram significativamente o partido.

O DEM não pode permitir uma chapa tucana puro sangue se não quiser virar um PPS ou PTB da vida. O Álvaro, que deve estar em êxtase com a idéia, já refugou, no entanto: não se oporia ao partido de Kátia abreu e Agripino Maia, não tem escolha: o PSDB não pode virar o cenário atual sozinho e o DEM, mesmo fragilizado, é um aliado muito mais forte que todos os outros, juntos.

E ele não deve ser mesmo vice de Serra. Sejamos realistas: o DEM, se não aceitar o senador tucano num inédito surto de bom-senso, vai querer indicar um nome seu. PPS e PDT podem bater o pé à vontade, precisam estar numa chapa forte e não têm força pra discordar, tão pouco para largar a chapa.

O Agripino Maia é o nome que julgo mais provável para novo Marco Maciel. Mas vai saber, né?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Desconfiômetro

Matéria do Valor econômico de ontem:
A confiança dos brasileiros nos políticos segue em baixa. Uma pesquisa realizada pela GfK revelou que apenas 11% da população afirmou que confia na categoria. Em 2009, esse índice era de 16%.
O resultado no país está abaixo da média mundial, que passou de 18% no ano passado para 14% em 2010. A Índia foi o país onde o nível de confiança da população nos políticos alcançou o maior percentual (29%). Em 2009, esse patamar era de apenas 7%
Na moral, acho a minha confiança nessa pesquisa anda meio em baixa também... que houve na Índia que justificasse tamanha variação? Nem a variação no Brasil é fácil de se explicar. Alguém errou nas continhas, deveriam ter chamado a Gisele !

alhos com bugalhos, Matéria do Times de ontem também, sobre músicos que cancelaram seus shows em Israel :

Like many here, Mr. Weiss argued that music and politics should not mix.(...)If the Pixies had something to say to Israel’s leaders,(...) they could have come and said it here.

(tradução livre, desimpedida e mau-caráter)

Como muitos aqui, Mr Weiss argumentou que música e política não deveriam se misturar.(...) Se os Pixies tivessem algo para dizer aos líderes de Israel,(...) aqueles covardes deveriam ter vindo e dito o que quisessem aqui.

Um colunista, Hanoch Daum ainda ilustra bem como o país está aberto aos visitantes:
“Life was pleasant enough without the Pixies, and it will continue to be so,” (...) “You don’t want to come? As you wish. Don’t come.”
"A vida ia bem sem os Pixies, e vai continuar assim"(...)"Não querem vir? Como quiserem, estrelinhas de segunda, Não venham."
Talvez fosse melhor não ir mesmo, Noan Chomsky que o diga!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sacrifício das Ideologias Parte Dois

No texto que cancelou o post sobre o vice do PV (coisa que o Musta faria melhor que eu, inclusive), Matt Bai critica a política dos EUA e ressalta que nos idos de 60 o posicionamento político era mais claro: havia uma guerra colonialista no Vietnã, segregação racial, limitações dos direitos civis tão radicais que você por essência é pró ou contra. Hoje, a guerra no oriente médio busca, em tese, combater grupos terroristas, não um simples confronto de nações; há um debate interessante sobre o direito ao aborto - salvo, evidentemente, as estúpidas certezas que possuem os radicais de ambos os lados. Posicionar-se não é mais tão claro.

Tente analisar as questões possíveis e verá que a incoerência dos partidos não é tão absurda: Ditames liberais e estatais vêm um resolvendo os problemas do outro desde o Iluminismo, as relações internacionais não são mais uma decisão simples entre apoiar EUA ou URSS: há o ultra liberalismo das transnacionais apoiadas na falta de opção dos países subdesenvolvidos, liberalismo Norte-Americano, o liberalismo comedido do Reino Unido, o protecionismo meio livre da União Européia, o Socialismo de mercado Chinês, os controladores regimes do Oriente Médio, o Socialismo do século XXI andino, o Casa-da-Mãe-Joanismo do Mercosul e Sabe-Deus-Mais-Que-Outras-Possibilidades.

Trazendo a visão pra terra tupiniquim, fica evidente que não dá mais pra sustentar as bandeiras do começo do século passado, a não ser que você ainda ache uma boa idéia o plantation escravagista do DEM, no industrialismo tóxico do PP ou que ache que livros como a Bíblia do PSDC ou n'O Capital do PSOL ou PSTU sejam integralmente atemporais, sem qualquer relação com o tempo em que foram concebidos.

O maniqueísmo PT x PSDB mostra que ainda estamos na década de 60, entre militares e militantes. Nem mesmo esses partidos conseguem, nem pretendem, sustentar esse debate retrógrado que, ainda que inconcluso, não pode ser tomado como definitivo para a leitura do cenário político atual.

A falta de definição do PV é um sinal de despreparo , mas também um primeiro passo no sentido de encontrar alternativas políticas para os novos tempos. O problema é que, feito sem precauções, pode trazer mais problemas que soluções.

domingo, 6 de junho de 2010

Sacrifício das Ideologias Parte Um

Um post sobre o vice do PV, que estou devendo, estava praticamente pronto, mas, como muita gente gosta do PV, vou postergá-lo. Um outro, sobre incoerência partidária, também estava engatilhado, e esse texto sobre debates retrógrados foi cabal para eu decidir postá-lo primeiro. Como os dois inspiram muita ladainha, divido o post em duas partes:

Até então, estudando os candidatos, chamava-me a atenção a falta de coerência ideológica dos partidos. PT, PSDB e PV tem cores estranhas nas bandeiras que defendem.

O PT, tradicional crítico do neoliberalismo e da corrupção tucanos, não tinha um paradigma econômico definido. Despreparado, tomou pra si o sistema vigente, com êxito de dar inveja aos antecessores. Tanto na economia pública como na privada, se é que fui claro...
O PSDB se revolta com a carga tributária, avessa ao projeto liberal que lhe rendera alguns frutos quando governava, e se esquece (só às vezes) que o projeto social democrata prevê um estado forte e atuante na economia, consequentemente caro.

O curioso caso do PV brasileiro, onde os ambientalistas se alinham à tímida "centro-direita", contrariando a regra global, é fruto de militância de uma classe média de melhor escolaridade que se opõe ao capitalismo selvagem da bancada ruralista (liderada pelo DEM) e vê com tortos olhos políticas assistencialistas do governo federal. Em tese o posicionamento é legítimo, mas na prática, as coisas são um tanto mais complexas: para conseguir expressão, o PV se aliou a chapa liderada pelo PSDB, que inclui o DEM

O PPS e o PCdoB tem feito movimentações políticas tão coerentes quanto um jogador de futebol palmeirense que vai jogar no Corinthians por que lá teria maior chance de aparecer. Quanto ao multifacetário PMDB, falar sobre coerência ideológica significaria desfazer o partido. Os únicos que possuem essa coerência são DEM, PP no córner direito, contra PSOL e PSTU no córner esquerdo, se você acha coerente definições políticas com mais de um século de aplicações infrutíferas.

Essa bagunça de princípios mostram que os partidos se importam muito mais com o poder do que o viés político que representam. No próximo post, no entanto, pretendo mostrar que a infidelidade ideológica dos partidos é também um sinal dos tempos, um sinal da obsolescência dos dogmas e a necessidade de se buscar alternativas. Até lá!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

pílulas:

O desentendido Roberto Jefferson defende a campanha Ficha Limpa e a candidatura de Fernando Collor de Mello ao governo de Alagoas.

Incoerente? Nada!
Quer dizer o seguinte: O ficha Limpa serrá muito bom, desde que não funcione!


O Partido Socialista Brasileiro (PSB) confirma a candidatura de Paulo Skaf ao governo de São Paulo. Acha estranho o partido socialista indicar o presidente da Fiesp para o governador? O Partido Social Liberal (PSL) não. O partido finalmente encontrou uma campanha tão paradoxal quanto a sua existência para endossar.

E não me surpreenderia se o PT o apoiasse num segundo turno. A própria candidatura do nada carismático Mercadante me parece mais um sinal da afinidade entre os partidos. Ou alguém realmente acha que ele tem alguma chance?

Sabe o que maisme choca? é capaz de eu mesmo votar nele!

sábado, 15 de maio de 2010

3º Plano Nacional do Desculpa Qualquer Coisa

O governo não recuou quanto ao 3º Plano Nacional dos Direitos Humanos. Ele desistiu e pediu desculpas. Isso porque as alterações que foram feitas mudam completamente o seu rumo. Só faltou alguém de lá falar "desculpa qualquer coisa".

Mais lamentável foi o recuo quanto à Ditadura Militar. O veto à ruas com nome de torturadores (ou autoridades que permitiram a tortura) caiu. Com isso, continuam existindo as Av Geisel, Médici, Figueiredo e vai saber lá quanto generais.

E olha que essa era a medida mais 'branda' contra contra a 'dura'. Afinal de contas, o PNDH não pode pedir o julgamento de militares porque a Lei da Anistia foi mantida pelo Supremo Tribunal Federal, numa decisão que deve levar o Brasil à julgamento pela Organização dos Estados Americanos, através da Corte Interamericana (advinha do que!!!) dos Direitos Humanos (ah, vá!).

Por falar nesta decisão do STF, o argumento de que a anistia veio para os dois lados, sendo por tanto "ampla" cai por terra, como se pode ver em reportagem da revista Carta Capital nº 595, 12 de maio. Militares acusados de subversivos, foram 'educadamente' afastados durante o Regime (de emagrecimento moral) e ainda não conseguiram reaver seus direitos.

Voltando ao Plano (que virou Plano de fuga), caiu também o "controle sobre a mídia", que obrigava aos veículos da mídia a acatar (advinha quem???) os Direitos Humanos. Vestindo a carapuça, o veículos rebateram dizendo que isso era uma censura. Poderiam ter limpado sua barra dizendo "Ué? Mas porque se eu já cumpro os Direitos Humanos?".

Além disso, a mídia majoritária se esforça em dar a entender que o "acompanhamento editorial" não é simplesmente um fulano assistindo tv e anotando o que foi ofensivo aos Direitos Humanos, mas sim, um homem carrancudo de olhar amedrontador acompanhando a produção jornalística de uma empresa de dentro da sala da redação, da sala da diretoria e da sala de reuniões.

Para completar, a pressão da Igreja Católica (que não costuma pressionar com mesmo empenho os... ah deixa pra lá) derrubou a proibição de símbolos religiosos em locais públicos. Imagine um comentarista esportivo, num programa de TV analisando um jogo vestindo o uniforme de um time. Agora imagine um umbandista sendo julgado num tribunal que expõe em destaque uma cruz.

Pra quem leu até o fim, obrigado, e desculpa qualquer coisa.

terça-feira, 11 de maio de 2010

QUARTA SEMANA



Labirinto de lápides, Evita Perón. Feira Internacional do Livro. Porto Madero. O nariz do peixe. Sem artes e/ou suplícios. Despedida.

A quarta semana começa e fomos finalmente conhecer o Cemitério Recoleta, localizado ao lado da Praça França, onde aos domingos acontece feira de artesanato, acompanhada por apresentações musicais independentes pelo gramado. A visita ao que poderíamos chamar de “labirinto de Recoleta” foi uma experiência um tanto curiosa. Ao caçar a lápide de Evita Perón durante 20 minutos nos deparamos com jazigos abertos, caixões a mostra e um cheiro que poderia ser dispensável no que deve ser o mais tradicional local de sepultamento da cidade. Ao encontrarmos Evita, percebemos que a fama não deve ser (ao menos neste cemitério) um critério para se determinar a qualidade e a grandeza da última morada.

No primeiro dia “inútil” da viagem, a segunda-feira, fiquei todo o tempo dentro do apartamento por uma renite que me sugou o animo e toda a gana de sair de casa.

Na terça-feira, conhecemos a 36ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires. Mesmo resistindo a tentações e resignado pela falta de dinheiro acabei comprando dois livros. “La economía social desde la periferia”, organizado por José Luís Coraggio. e “Gráfica y comunicación visual”, de Jorge R. Bermúdez.

À margem do Rio La Plata, na quarta-feira, conhecemos um pouco do bairro de Porto Madero. Com sangue paulistano nas veias, não pude deixar de comparar com o que seria uma Avenida Paulista margeando um rio que nada parece com o Tiete ou o Ipiranga; um grande centro econômico da cidade, com restaurantes e churrascarias que me pareceram ter ótimas refeições e, logicamente, altos preços.

Mais próximo do pouco esperado final de semana, fomos na quinta-feira para o Jardim Japonês. Espaço com uma paisagem característica aos padrões nipônicos, onde encontramos desde pontes e estátuas de samurai até um curioso peixe e seu nariz.

E a sexta-feira foi o mais aguardado dia. O primeiro e talvez o único. O impressionante dia em que, neste país em que a crise se percebe pela história de falências e desilusões de alguns taxistas, não encontrei ao menos uma pessoa que fizesse artes e/ou suplícios em troca de algumas moedas no subte (metrô).

O sábado chega triste pela despedida de minha namorada. Ana Lis. Passados quinze dias, em uma rotina que denominei em momento áureo de ideal, foram embora meus olhos coloridos. Não que vá deixar de aproveitar o que vier em minha estada por aqui, mas sentimento forte e inevitável esse com o poder de fechar a garganta e encher lágrimas.

Na noite do último dia da semana (Feriado pelo Dia do Trabalhador), pude aproveitar o emocionante show de Caetano Veloso, e o imenso público argentino que o aplaudia demonstrando fama e grandeza do cantor brasileiro em terras estrangeiras que eu até então desconhecia.

Saudades, saudades...



Beijos e abraços

“Extrañando mucho la negra-rubia y sus ojos llenos de color”

sábado, 8 de maio de 2010

A importância do alicerce 2 - PSDB

O bicho pega com PSDB e PV. O partido de José Serra tem um impasse. Aécio Neves seria perfeito para montar uma chapa puro sangue e manter a cara "boa praça" do partido. O DEM concordaria, uma vez que são dois nomes de grande expressão nacional. Seria, mas o neto de Tancredo parece preferir indicar Francisco Dornelles do PP, descendente de mais ex-presidentes, para o cargo.

A idéia deve ser atrair o apoio do atualmente neutro PP, que tricota o país com apoios cruzados. Como o PP deve definir seu endosso no final de maio, o PSDB pode estar querendo ganhar tempo. Definido o PP, o PSDB ficaria livre para decidir entre o Dornelles ou a pressão do DEM, sem medo de perder apoios. A tática parece estar dando certo.

Contudo, entretanto, todavia, porém, se Aécio não for o vice, o DEM, que hoje desconversa, vai querer um nome seu na chapa. É uma aliança histórica, sólida, mas é perigoso arriscar perder seu apoio e seus minutos. Os nomes cogitados? Kátia Abreu e Agripino Maia, uma é lider da bancada ruralista, a mais controversa do senado, e o outro, uma das figuras mais controversas do senado (quase tanto quanto este indigno).

Resumindo, das quatro opções de Serra, a ideal, com Aécio, é improvável, apesar do FHC seu interesse, uma aliança neutra, com Dorneles, não teria grande expressão política, e as restantes são um tiro no pé. A pressão sobre Aécio deve crescer muito, mas definição mesmo, só depois da copa.

terça-feira, 4 de maio de 2010

TERCEIRA SEMANA

“Si, pero que vos habla muy bien castellano”, disse a senhora cubana (residente na Califórnia desde que se implantou a revolução), em breve conversa ao ceder meu assento em uma de nossas viagens pelo subte (metrô).

“Acá solamente por dos semanas ya sabes bien la lengua”, confessou um vendedor, ao passar de 5 minutos de conversa, tentando me vender algumas das camisetas que exibia em sua loja.

A terceira semana termina e fico otimista por acreditar que melhorei bastante aquela conversa inicial, de apresentação, um tanto quanto superficial, mas de inegável importância.

Passo o primeiro dia acompanhado de minha namorada, Ana Lis, e repito praticamente o mesmo trajeto turístico em Buenos Aires: Casa Rosada e algumas horas na Rua Defensa, pela Feira de San Telmo. Voltamos sob uma forte chuva de granizo e, acabando o domingo, assistimos um programa na TV argentina sobre a devastação da soja, citando o documentário “Soja de la hambre”.

Na segunda-feira, além de conhecermos o Museu de la Ciudad, fomos ao teatro para assistir a gravação do programa “Radioactividad”. Uma bela homenagem aos tempos áureos do rádio, onde tive o prazer de ouvir a cantora argentina Júlia Zenko, que demonstrando algumas das músicas de seu cd “Para Elis”, revelou uma voz excepcional e um sotaque quase imperceptível ao cantar as canções de Elis Regina.

No dia do feriado brasileiro de Tiradentes (quarta-feira) fomos até o Museu Fernando Blanco, que tem um acervo sobre a colonização espanhola na América do Sul, a presença dos Jesuítas e fala um pouco da exploração dos indígenas naquela época. No caminho do museu, quase me furtaram enquanto caminhava pela rua Florida: uma mulher tentava aproveitar a rua movimentada e uma possível distração para abrir minha mochila. Felizmente para mim, é claro, percebi a tempo e a tal mulher saiu ligeira e, literalmente, pela tangente até perdê-la na multidão.
A quarta-feira terminou com uma boa e gratuita noite de Jazz, com a banda Jazz Daniel`s no bar Roxy Live, em Palermo.

Na quinta-feira eu, Ana e Marion (a francesa) fomos ao bairro “La Boca”, onde experimentamos um churrasco um tanto “psicodélico”. Uma comida ideal para os que têm um olfato aguçado e um bom espírito de aventura.

Na sexta, conheci a casa do eterno cantor Carlos Gardel e me surpreendi ao saber da influência da música e dos artistas negros na história dessa expressão de tristeza que agrega a paixão e a ferocidade em um drama admirável, o tango.

O último dia desse breve relato semanal, no qual eu e Ana comemoramos dois anos de namoro, começou mais cedo. Acordamos às seis horas da manhã e fomos ao bairro Flores para comprar algumas roupas de frio por um preço acessível. À tarde fomos à Praça Nações Unidas, para a celebração do Dia da Terra (Día de la Tierra), com apresentação da cantora brasileira Bebel Gilberto.

Engraçado pensar que ou eu busco sempre coisas e eventos relacionados com sustentabilidade e ecologia, ou essas coisas sempre acabam aparecendo no meu caminho sejam em eventos, folhetos, shows, filmes e projetos.

O Dia da Terra em Buenos Aires me impactou como um evento de grande proporção, com palestras construtivas, iniciativas admiráveis, mas como contradições infelizes: folhetos de papel não reciclável distribuídos compulsivamente (por cada fundação, ONG e por comerciantes de produtos vegetarianos), papéis e garrafinhas jogados ao chão e a grande publicidade das marcas patrocinadoras e suas tendas pelo evento.

E assim acaba o sábado. Espero que venha por aí uma semana tão proveitosa quanto e que passe mais vagarosamente.
Peço perdão mais uma vez pela demora a escrever, justificável (ou não) pelos compromissos afetivos e pessoais que me obrigaram a não permanecer muito tempo no computador.

Beijos e Abraços a todos!
Saudades, saudades...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A importância do alicerce 1 - PT e PSOL

Não há pedra que não saiba quem são os candidatos à presidente da república. Nem há mistério grande sobre quais serão os candidatos a disputar o segundo turno, quem tem uma mínima chance de bagunçar o cenário e quem vai representar os Bolcheviques.

Mas pouco se fala sobre os "vices" desses Twitteiros. A decisão é delicadíssima. É o momento em que os partidos aliados vêm pedir algo em troca dos seus preciosos minutos no horário eleitoral. Como o tema é complicado , divido o post em duas partes, primeiro com PT e PSOL, já definidos, depois com PSDB e PV, que devem render muitas manchetes ainda.

O PT, parece, se resolveu. Michel Temer é pouco expressivo para conseguir votos, mas traz consigo o apoio do PMDB à chapa (uma parte, já que PMDB sempre será PMDB), e vale a pena ceder para o partido com mais prefeituras no país. O PSB de Ciro Gomes não jogaria para perder, vai apoiar a situação , apesar do mau comportamento do ex-futuro candidato.

O PSOL e o PSTU devem formar uma aliança, (outros partidos da esquerda mais dogmática como o PCB devem vir à reboque) o que significará um gigantesco avanço nas relações entre os dois partidos - mas não deve ter grande diferença no cenário final da eleição: apesar de ser bastante respeitado entre as bases dos dois partidos, a escolha do pré-candidato Plínio de Arruda não foi unânime, a coligação recebe pouca atenção da mídia e Heloísa Helena, talvez a figura mais popular do PSOL, é contrária a candidatura própria, preferindo manifestar o apoio a Marina Silva do PV, mesmo depois de rejeitada como vice.

O PSOL vai ter que escolher entre Martiniano Cavalcante(GO), nome que agrada Heloísa Helena e poderia representar uma maior coesão partidária, ou a unidade da Frente de Esquerda, provavelmente com Zé Maria, que é pré-candidato do PSTU (mas , devido a limitada expressão do seu partido, não deveria negar o convite).

sábado, 1 de maio de 2010

Prazo de Validade

Um dos maiores argumentou contra a revisão da Lei da Anistia é o fato de que a lei teve uma importância histórica e não há motivo para apagá-la.

Mas vá lá! Até o Tratado de Tordesilhas teve importância histórica - aliás aparece em muito mais livros - e nem por isso estamos em território espanhol, não é?

Mas depois dessa decisão do STF ficamos de mãos atadas [só mãos atadas; as pernas amarradas, a fita na boca, os mergulhos forçados de tempo em tempo e os choques elétricos são intriga da oposição].

A diferença é que no contexto da época estupros, agressões e torturas se chamavam "política".

Enfim. Eu já ficaria contente com a mudança do nome de ruas e bairros que homenageam personagens que fizeram ... "política".

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Momento (não tão) Geek

Você assina o feed do Haja Paciência 4? Você lê o Haja? Por Favor, comente! São dois anos de persistência (quase)! Temos, seguramente, 4 leitores, mas nos surpreenderia muito saber que mais alguém lê esse blogue.

Aumentar a colaboração do leitor (é, está no singular por que só você mesmo deve ler isso) vai fazer esse blog mais interessante para quem lê e principalmente para nós (que está no plural em respeito aos fundadores, que não estão mais entre nós). Queremos saber quem são as duas pessoas que não escrevem no blogue e mesmo assim nos lêem!

Caso queira publicar algum texto, mande-o para o e-mail do Haja ( hajapaciencia4@gmail.com) e deixe um comentário neste post avisando. Caso queira que tratemos de algum tema em específico, discorde da nossa abordagem a determinado tema, ache que nós somos retardados ou precise demais uns pra completar seu time de futebol de salão, use o e-mail ou a caixa de comentários.

P.s.: Reparou que mudaram as cores do blogue? prefere as cores antigas? Acha que ficou "mei gay"? comentaê! Caso não tenha reparado, a gente tá precisando de incentivo!!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Baralho sujo

Marketing político é um lance delicado, que resolve eleições.
Não é à tôa, todos os partidos contratam cada vez mais variados profissionais pra cuidar do assunto. Toda ajuda é importante, mas, como diz o ditado, o inferno está cheio de boas intenções.
As coordenadorias de campanha de Dilma e Serra devem estar morrendo de vontade de encaminhar mais uns pra lá.

Anticronologicamente, vou falar do segundo caso , que, ainda que mais recente , gera menos discussão. Quando a Folha dá um erro dos tucanos, é que a coisa foi grave mesmo. O Instituto Sensus divulgou uma pesquisa que dava empate técnico entre os principais candidatos, e deixou o pessoal do PSDB meio cabreiro. O trabalho para a investigação não foi pequeno. Decidiram processar o Instituto.

Descobriram depois que a denúncia se baseou nos dados de uma pesquisa errada. Pois é.

Falha por Falha, em ano de eleição, o PT não ficaria atrás. Mas esta é questionável: Há quem dia que a campanha nova da Globo foi uma propaganda explícita em favor do candidato José Serra. Outros acham que foi uma campanha implícita. E minha professora de Jornalismo televisivo, que talvez fosse endossada pela velhinha de Taubaté, devem achar que não passa de coincidência: segundo a própria Globo, o jingle teria sido roteirizado em novembro passado. Como Serra só definiu seu slogan em 10 de Abril, a emissora não teria como adivinhar. (será que não dava, mesmo?). Se ainda não viu, confira:


Sabe que eu concordo com ela? Conveniência definiria melhor a situação. Seja como for, se o a marquetada do PT se mantivesse quieta, o debate mais importante seria sobre a parcialidade política da campanha Global. Seria um forte argumento caso precisasse questionar a honestidade da emissora, como em 1989.

Contudo, como o novo coordenador protestou twitter, a Globo resolveu tirar o jingle do ar, suscitando um novo debate: a Globo estaria sendo censurada? O PT não estaria abusando do poder?

Como vemos, ambos partidos têm que comer muito arroz com feijão pra manter uma campanha como fazem Republicanos e Democratas nos EUA.O jogo não é tão simples: O PSDB achou que tinha o Zap, mas não tinha conferido a carta virada. O PT, que distribuiu as cartas, fez maço, mas deu a Escopeta pro adversário e desperdiçou o Zap. Que será que eles ainda tem na mão? Seja como for, ainda há muito jogo pela frente.

SEGUNDA SEMANA

SEGUNDA SEMANA

Passada a primeira semana, de minhas primeiras impressões “digitais” sobre Buenos Aires, como disse Arnaldo (um bom amigo da família) esta semana acabou com algumas percepções mais sutis na rotina e nos caminhos feitos por Buenos Aires.

No domingo fui com minha irmã para o famoso e, quase exclusivamente, turístico Caminito, no bairro porteño “La Boca” que guarda suas particularidades pelo tango dançado e tocado em alto volume na frente dos bares e restaurantes, e por seus sobrados característicos em uma alternância de cores vivas e chamativas que encantam os pedestres com suas ferozes máquinas fotográficas (além é claro, dos dólares, euros e reais na carteira).

Da Boca, fora a venda de milhares de camisetas, enfeites e recordações, guardo o quão vale algumas moedas em Buenos Aires (já que precisamos de cerca de três lojas para conseguir os trocados necessários para o ônibus coletivo que nos levasse até lá). Guardo, também, a imagem do garçom “tcholo” que, ao nos atender, disse que a cerveja Quilmes, estava “Gelaaaadaaaa pra Caraalhioooo”.

Na segunda-feira à tarde, pude conhecer na Avenida de Mayo algumas das milhares de livrarias porteñas. Fiquei perdido no meio de livros por todos os lados e no meio da vontade de levar quase tudo para casa. À noite, dei de cara com a porta de uma escola de tango, o que nos levou (eu, minha irmã e Henrik, o alemão) a pararmos no bar mais próximo e mais barato para encerrar melhor o dia.

Buenos Aires acorda meio São Paulo na terça-feira. O tempo de chuva escassa e contínua e um frio que incomoda, mas que não nos obriga a colocar blusas pesadas, acompanha a cidade até o final da semana.

Ao decorrer da semana pude conhecer e me decepcionar com a Biblioteca Nacional que, apesar de ter me surpreendido com seu imenso tamanho, deixou-me só com a vontade de vasculhar seu acervo, já que a procura dos os livros apenas se dá por um sistema de informática e não fazem empréstimos das obras, permitindo exclusivamente as consultas.

Na sexta-feira, descobri que o já citado americano (Jake, colega do curso de espanhol) é formado em História, apesar de trabalhar com informática e tecnologia. Fiquei um pouco intrigado com sua formação depois de uma conversa em que ele (declarado admirador de nosso país com suas mulheres simpáticas e receptivas) confessou que prefere o Brasil porque o acha bem mais democrático que a Argentina. Segundo ele, o país de nuestros hermanos é “socialista demais”.

Ao término da semana me ocupei bastante com a expectativa e preparativos para a chegada de minha “novia” – namorada – e finalmente acabei de ler o livro “Jangada de Pedras” de José Saramago. No sábado, me indicaram o caminho errado para pegar o ônibus que me levasse ao aeroporto. Consegui recuperar a direção e coloquei para fora todos os xingamentos possíveis aos que nasceram desse lado da tríplice fronteira. Por fim, acabei a semana melhor do que o previsto: bem acompanhado e jantando um belo prato de milanesas a la americana.

A 1719 km de minha cidade natal crescem as saudades, saudades das minhas famílias, dos amigos e das expectativas (cada vez maiores) da minha estada aqui em Buenos Aires. Na próxima semana venho com menos atraso e com mais novidades.

Beijos e abraços.

Gabriel Salgado “Musta”

PRIMEIRA SEMANA

PRIMEIRA SEMANA

A primeira semana acabou e fico com a sensação que tenho de melhorar muito o falar castellano, que compreendo cada vez mais o que escuto pelas ruas porteñas, que tenho a ganhar cada vez mais com o intercâmbio com os outros “gringos” das aulas de espanhol e que as personas de Buenos Aires tratam de forma inusitada as pessoas que fazem suas artes e seus pedidos nos transportes públicos.

A semana começou com os exames clínicos de minha irmã, exigidos pela empresa, em um laboratório que se pode caracterizar como não tão organizado e, tampouco, higiênico; e também, com a minha procura por um curso de espanhol que fosse, ao menos, regular e barato. Encontramos na segunda-feira, final da tarde, o Instituto Universitário de Lenguas Modernas (IULM), próximo à linha de “metro” Facultad de Medicina.

O começo do curso, na manhã de terça-feira, se fez curioso pela diferença de culturas taxadas na cara de cada um dos alunos “extranjeros” e de uma professora argentina (Silvia) bem “doidona” que está saindo da meia-idade, com seus cabelos coloridos, sua voz estridente (característica recorrente em mulheres argentinas) e seus decotes “fora de época”. Somos em 4 brasileiros (eu – SP, Diulliany – SC, Areli – GO, e Suzana - PE), uma francesa (Marreon), um alemão (Henrik), uma canadense (Angelic) e um norte-americano (Jake), que alega veementemente que não há problemas com os estrangeiros em seu país.

Na quarta, conhecemos nosso segundo professor (que dá aulas em dias alternados aos de Silvia), Federico, sujeito que me lembrou muito o personagem “Godines”, com cabelo um pouco mais escuro e uma feminilidade “implícita-explícita” o que, independente de escolha ou opção sexual, me parece também ser uma característica recorrente só que, neste caso, em professores de línguas extrangeiras.

Conheci, na quinta-feira, com Angelic (CAN) e Marreon (FR), o Centro Cultural Recoleta, com exposição de fotos de Frida Kahlo e Diego Rivera, e o Cemitério de Recoleta onde está Evita Perón. Esta visita foi encerrada, no entanto, por uma fome acentuada que atingia fortemente minha região estomacal e que foi “detida” por uma massa do famoso e providencial “Super Pancho”, por apenas quatro pesos, conhecido também em terras brasileiras como “cachorro quente”.

Encerrando a semana, na tarde de sábado, fui caminhar sozinho para conhecer algumas ruas do centro da cidade, reparando como é impossível que tenha uma só viagem pelo metrô aqui em BA em que não haja pessoas ora com artes, ora com súplicas. Achei bonito os aplausos dos passageiros quando o senhor e seu arcodeon terminam a segunda música naquele vagão, e fiquei confuso quando uma menina, com seus doze anos, passou vendendo cartões, ao mesmo tempo que o senhor cego declara as lamúrias de sua vida, ao mesmo tempo em que um senhor alto e gordo passa com seus filhos vendendo balas e uma anciã entra no vagão com um adolescente em cadeiras de rodas que impressiona e choca os passageiros, todos na caça de alguns trocados.

Enfim... Hoje é um sábado de El chavo (Chaves), de Homero (Simpsons) e milanesas, amanhã é domingo e segunda-feira meus amigos... Começa tudo outra vez!

Beijos e abraços a todos.

Saudades, saudades...

Gabriel Maia Salgado “Musta”

PRIMEIRO DIA

O primeiro dia em Buenos Aires já está acabando e a primeira impressão está sendo melhor do que esperávamos, eu e minha irmã.
A cidade me pareceu um tanto quanto "clássica", muito me lembrou o centro velho de São Paulo com os prédios antigos e a arquitetura característica, apesar de serem um pouco mais conservados e frequentes.
Engraçado ver que há muitos carros de modelos antigos... Talvez a promoção de Fiats 147 e de monzas foi bem maior em Buenos Aires do que em São Paulo há uns 40 anos atrás.

Dois impactos me chamaram a atenção hoje... O primeiro foi com a imposição da gorjeta pelo funcionário da empresa de "Taxis", o que me fez pensar se éramos talvez maleducados (por não ter essa predisposição automática à todos) ou se a imposição deste que fora despropositada. O segundo foi com a dona de nosso apartamento (Uma senhora viajada - pela américa latina - com seus 61 anos, que dá aula de francês e que parece ter como seu maior lazer o "hablar") que disse que éramos uns brasileiros diferentes... a ela deve ter parecido que erámos mais tranquilos, que deveríamos fazer menos algazarras... Imagino que ela nos tenha elogiado, mas uma visão pejorativa meio bizarra dos brasileiros... Eu imagino.

No mais fizemos a clássica visita à Casa Rosada (com exposição comemorando o bicentenário) e à Feira da Rua Defensa, "Feira de San Telmo" (com coisas muito loucas, músicos jazzistas, museu afro) que são passeios bem legais.

Engraçado pela sensação de que ainda somos turistas que ficarão mais alguns dias, brasileiros ainda mais ligados ao mundo particular que nos originou do que ao que os recepciona, e estranho pensar que as pessoas no veem como "extranjeros". A língua é uma coisa muito maluca e, apesar de poder ser óbvio para alguns, é curioso observar que a mesma coisa dita em castellano não é a mesma coisa, e certamente nunca vai ter o mesmo significado, que sua tradução para o português.

Apesar do que há de dizer minha irmã, a comunicação está caminhando e entendo a maioria das poucas coisas que ouvi.


Beijos e abraços.

Saudades, saudades...


Gabriel Salgado "Musta"

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Destino 03/04/2010 - Buenos Aires - ARG

Retomando minhas postagens, deixo aqui alguns relatos e observações das experiências que estou vivenciando em Buenos Aires.

Para os que não sabem, vim para a capital argentina no dia 3 de Abril e pretendo ficar até a terceira semana de Julho. Peço desculpas pelas primeiras postagens serem um pouco "frias", mas pretendo atualizá-las semanalmente a partir de agora.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O que contam os passarinhos

Cansados de espalhar fofocas da vida alheia, os passarinhos passaram a badalar a Internet no site mais discutido do momento. O Twitter resolveu elencar os 10 temas mais discutidos nos Trending Topics.
Muito protesto quando os TT's eram regionais, muitas falhas nas listagens, pronto, voltou a ser mundial. resultado:
Os passarinhos são adolescentes nerds e retardados

Enquadramento na Internet.

O retorno de debates inacabados

O habitualmente bem feito caderno LINK, do Estadão, traz um texto muito bom do Pedro Dória sobre o que poderíamos chamar de enquadramento na internet (assim que estiver on-line e eu revisitar o haja, eu posto o link).

A idéia é que os provedores, através do poder de definir que sites e usos da Internet podem ser acessados com maior ou menor velocidade, determinariam o conteúdo a ser visitado pelos internautas.

É uma ameaça real. Suponha a situação: você tem seu site de buscas e percebe que , através do UOL, por exemplo, é sempre demorado acessar seu site. Você troca idéia com o pessoal da UOL e descobre que, se quiser tornar a visita ao seu site mais ágil, vai ter que liberar uma grana pros caras. Você pega todas as suas economias e investe. Se o BING o a Google resolvem pagar mais e dizer pra UOL deixar todos os concorrentes lentos, GAME-OVER. É assim que funciona.

Injusto? Pois é. E ainda não se tem definido como controlar o bicho. O problema é um debate velho pra quem gosta de política e economia: Quem deve cuidar do caso? Estado ou Mercado?

A Mão forte do Estado poderia proibir ou regulamentar a prática, mas corre-se o risco de uma regulamentação excessiva, o que prejudicaria provedores e, por conseguinte, usuários. No entanto, deixar o Mercado resolver a parada pode significar concentração de poder, tal qual acontece com outras mídias .

Mire-veja, o problema pode ser ainda maior: Ano de eleição, um candidato é amigo dos donos de determinado provedor: que tal se eles deixarem lerdo o acesso aos sites e blogues de propaganda dos rivais? Tá aí um debate que não pode passar em branco. Ser dono deprovedor deve dar um dinheiro danado numa hora dessas. Esperem o bafafá.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Contra-ataque de direita

Crise de 2009, a sismologia do capitalismo apresenta graves oscilações, a esquerda cruza os dedos e as observa como a uma implosão. Acontece que demora...
E , enquanto demora, a direita vai se recuperando.

Mau-humorada, aproveita pra contra-atacar. E não bate leve: é injusta, fanática e histérica, carregando consigo algumas pessoas sensatas... mas estas se disfarçam muito bem.
Rancorosa, bate em quem não tem muita força: imigrantes, sobretudo aqueles cuja cultura se distingue visivelmente, distorcendo a idéia de igualdade pra ofender quem diverge do padrão que tenta impor. E usam de falácias e boatos para convencer que só querem restringir abusos, quando a intenção de selecionar cérebros - e bolsos.

Entre crises e bolhas, a direita mantém seu posicionamento liberal ... desde que não sejam seus bancos que precisem de ajuda. Nesses casos , nunca há um "Tea Party", sempre há moderação.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

As águas, antes de março

Uma cidade em Festa , final de ano, a Av. Paulista se inunda de gente. Comemorando que um novo dia, surpreendentemente, segue após os acabados.
De fato , digno de festa.

Depois disso , chove. Sampa é a terra da Garoa, pois. Mas isso se restringe à avenida Ipiranga e região. Na periferia, São Paulo é a terra das chuvas de Verão. Torrenciais, mostram que a especulação imobiliária não deveria passar sobre os rios.

Tarde demais, agora que a cidade mora no leito secundário de seus rios , reclamar da chuva, como fazem os tucanos, ou dizer que na sua época não enchia assim, como faz um determinado senhor senil. É da natureza de um rio transbordar, mesmo que achemos inconveniente. Não deveríamos ignorar isso.

O resultado é que, cheio ou não , seu curso não se altera, só mudam os penduricalhos que carrega: se antes eram paus e pedras, hoje são garrafas PET, sofás, toda sorte de objetos que, de acordo com as condições financeiras do fiel, se oferta às divindades do subterrâneo, de pneus à carros inteiros.

Nos preocupemos hoje, mas que essa preocupação seja também levada para os meses seguintes. Não pode chegar a outubro.
Aliás, como chegaria? O Carnaval, a festa mais importante do mundo vem ainda em fevereiro...