domingo, 26 de outubro de 2014

Meus votos.

Primeiro, muito obrigado por se interessar pelo meu voto. Este post sai após o final da votação, mas se possível durante a apuração, por que este não é um pedido de votos, é um pedido por um novo debate. Se quiser, tenho muita vontade de conhecer os seus votos também. Agora sigo:

Hoje votei na Dilma. Para algumas pessoas, essa informação resume o propósito do texto, então poupo-lhes a leitura toda, pra bem ou pra mal. Mas, se voto 13 hoje, não o faço por achar que a candidata petista seja mais honesta que Aécio; nem por achar que ela tenha se portado de forma menos reprovável durante a campanha ou debates; nem por achar que ela venha a ser melhor cônjuge que seu oponente, ou que tenha menos vícios, embora esses temas tenham pautado as discussões sobre a sucessão presidencial de 2014.

É preciso que entendamos que os candidatos são a vitrine de programas de governo, e suas características pessoais, como opiniões, gostos ou vícios pouco influem. Afinal, diante de financiamentos milionários de empresas, de coligações multipartidárias, de uma estrutura de Estado gigantesca (apesar de insuficiente), de um Congresso repleto de interesses conflitantes até mesmo dentro da base aliada, da opinião pública e de tantos outros fatores críticos, acha mesmo que opinião pessoal do presidente tem tanta influencia assim? Óbvio que não, e é isso que nos diferencia de uma ditadura (ainda não nos coloca em uma democracia plena, também, mas já é muito melhor).

Também acho relevante esclarecer que não voto como quem escolhe um candidato que me satisfaça plenamente, tenho muitas queixas à gestão de Dilma, e se ela for eleita, volto já no dia 27 a ser sua oposição de esquerda. Por isso mesmo, voto nela como quem escolhe um adversário. Ou melhor, como quem escolhe um desafio.

Quero dizer, tive o privilégio de acompanhar a luta da comunidade educacional contra o poder político durante a gestão PT. Aprovar o Plano Nacional de Educação 2014-2024 foi uma luta árdua, que levou 7 anos entre elaboração do plano e sua sanção definitiva, enfrentando deputados e senadores conservadores, empresários e economistas que se opunham ao plano elaborado por milhares de trabalhadores da educação, pais e alunos (a quem interessar, ainda tem luta pelos Planos Estadual e Municipal, vá ver).

A longa peleja foi vencida apenas este ano, não sem algumas derrotas. Se o PT continuar no poder, a luta vai ser pelo cumprimento das metas do PNE, pela regulamentação eficiente dessas metas que, repito, foram traçadas pelas pessoas que tem relação direta com a educação e pleno domínio de suas dificuldades, com uma proposta de investimento para o futuro do país. O jogo é duro, mas vimos que é possível vencê-lo.

Já com o PSDB de volta ao poder, não tenho como dizer como esse plano será encaminhado, mas posso analisar o cenário e expor minhas dúvidas. Não é uma cultura do medo, é uma análise simples do cenário que os tucanos oferecem.O primeiro fato é que, a partir do ano que vem, enfrentaremos o pior Congresso em tempos democráticos.  Sei que o primeiro PNE (2001-2011) teve suas metas de financiamento vetadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e previa o investimento de 7% do PIB para a área.

Pois bem, o time do FHC era composto em grande parte pelo novo time de Aécio, como o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, agora candidato a Ministro da Fazenda, e um dos economistas mais respeitados do mundo. Mas, se esta equipe já considerou que 7% do PIB era dinheiro demais para educação no final de seu mandato, por que agora estariam comprometidos a cumprir os 10 %, se o aumento dos gastos públicos contradizem suas próprias bandeiras de campanha?

Não vou dizer que os tucanos não cumpririam, nem que estão errados em não cumprir, é uma proposta diferente apenas. Mas o PNE é uma causa importante pra mim (e muito mais importante para pessoas que vivem dela, como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação), e se já não foi fácil convencer o Mercadante, que tanto teria a ganhar com a promoção do PNE, imagine o trabalho com quem teria que promover uma política desenvolvida durante o governo adversário?

Como é praxe pra marcar uma gestão, Aécio precisa de políticas públicas com a sua bandeira. Isso é do jogo. O problema é que só principal projeto de Aécio, o Mutirão de Oportunidades, já custaria mais que o orçamento do MEC inteiro. A intenção é bacana, recolocar 15 milhões de pessoas na escola, mas não diz, por exemplo, onde toda essa galera vai estudar ou quanto vão ganhar os professores desse pessoal todo - pensa, se colocarem 50 alunos por sala, dá pelo menos 300 mil turmas - e isso tudo não é barato.

Veja, é uma questão de perspectivas diferentes, não vou entrar no mérito de uma ser melhor que a outra, não sou especialista no tema. Mas prefiro a primeira porque, se vamos investir boa parte da arrecadação do país em educação, acho melhor a proposta que reuniu mais especialistas. A aposta é importante pro país, vença quem vencer: considerando as projeções da "pirâmide etária" da população brasileira, ou nos especializamos para continuarmos produtivos quando envelhecermos, ou não vai ser mais possível pagar a previdência social pra todos os futuros (merecidamente) aposentados.

Aqui mais detalhada, essa lógica segue de forma similar para outras políticas públicas. Não entro no mérito de questões mais ideológicas, parto para a análise de uma política em que, como a maioria dos eleitores , estou na condição de leigo. É assim que eu voto. Seja em Dilma ou em Aécio, espero que seu voto siga uma linha similar, desprezando boatos.

Que em 2018, a essa hora, a gente possa estar votando em candidatos nos quais acreditamos, se possível , mais independentes que os dois que ora se enfrentam. Quem sabe eu esteja votando em você ou em algum conhecido nosso. Mas que, definitivamente, o que pese na análise dos nossos votos seja a análise das propostas dos candidatos, da ideologia de seus partidos, e não aspectos negativos da vida pessoal de cada um, enfatizada por seus marqueteiros e por sua mídia de apoio.

E que, seja qual for o resultado, que os eleitores adversários se respeitem. Não há vencidos e vencedores, por que o barco segue com todos dentro, felizes ou não.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Quando é que a gente vai debater política?

"- O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para diante daqui?
- Isso depende muito de para onde você quer ir.
- Não me importo muito para onde.
- Então não importa o caminho que você escolha.
- Contanto que dê em algum lugar...

Não importa se você se sente no país das Maravilhas ou dos Pesadelos, diante da urna estará como Alice e o Gato. Sem uma posição segura sobre pra onde devemos ir, escolhemos entre teclar 13 ou 45 para evitar a alternativa que desprezamos. Ainda podemos teclar 69 para evitar promover qualquer das duas, mas com a certeza de que, apesar do protesto, vamos acabar seguindo por um dos lados.

Se a princípio o caminho que queremos seguir não é tão certo, a repulsa ao oposto é tão absoluta que nos faz agarrar desesperadamente a opção restante. E aí a gente vota tão influenciado pelo personalismo, com uma idolatria tão infantil, que parece acreditar que Dilma ou Aécio governariam sozinhos todos os seus ministérios e secretarias e ainda liderariam bancadas no Congresso. Deve ter gente achando que vai ser atendido pela pessoa em quem votou quando for a um posto de saúde ou escola pública.

As já corriqueiras briguinhas de Facebook são forte sinal disso. É uma cultura tão enraizada que chegou aos debates presidenciais televisionados, nos quais os candidatos se vangloriam e se acusam sobre seus governos como se fossem os únicos responsáveis por tudo que aconteceu durante as gestões que chefiavam.

O flagrante desrespeito com os servidores públicos, cujo trabalho continua dia a dia a despeito de quem sejam os eleitos, produzindo as estatísticas tão divulgadas no horário político, não é o único inconveniente dessa cultura política tão birrenta.

As orientações do marketing político - de quem entende muito de imagem, mas pouco de política, e parece evitá-la - são cada vez mais estúpidas. Num esforço para incentivar a gritaria fanática e acrítica das redes sociais, atiçam seus clientes a arriscarem seu tempo de TV em um "nocaute retórico", fazendo do debate uma rinha de denúncias a seus adversários e expondo pessoas próximas, repetindo velhas críticas insistentemente em cada um dos minutos tão suadamente negociados em alianças contraditórias.

Já no plano social, por outro lado, a estratégia é não contrariar consensos. Quanto mais gente concorda com uma questão, menos ela tende a ser questionada por presidenciáveis. Com alto risco eleitoral, é difícil que as candidaturas abordem claramente a ampliação de direitos civis, ainda que estas violações impeçam a plena cidadania de grande parte dos brasileiros.

É até risível como essa postura conservadora foi vendida pelas três principais campanhas como uma forma de "mudança". Não se engane, meu caro, não há político capaz de mudar o país sem nem mesmo tentar mudar a nossa cabecinha de vento. 

E, no fim, o mais importante, que é o debate sobre políticas públicas, a política que impacta diretamente a vida das pessoas, fica negligenciado. O tema é considerado complexo demais, talvez pela incompetência dos técnicos de ambos os times, que são capazes de convencer bancas acadêmicas de que possuem a solução para o país, mas não conseguem explicá-las para as pessoas que precisam dessas soluções.

Como consequência, não nos esforçarmos para entender o funcionamento dos programas que os candidatos nos propõem, não avaliamos a perspectiva sobre os problemas que cada um deles oferece, nem observamos a forma como pretendem viabilizar suas propostas. Ainda que quiséssemos, nem recebemos informação pra isso.

Só sabemos da vida pessoal dos candidatos, sobre isso, temos notícias de sobra. Daí, como falíveis somos todos, a equivocada conclusão de que são iguais é inevitável, mesmo que representem projetos absolutamente diferentes.