quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Por seu direito de dizer (o que eu quero)

O vídeo é longo e as melodias das músicas são muito ruins, mas cada minuto vale a pena e cada rima pobre diz mais sobre o Rio de Janeiro do que toda a Bossa Nova fantasiou. O texto que o segue, também é longo. Como ninguém lê mesmo, vou escrever o quanto eu quiser.

Grosso Calibre (High Calibre) from ShootingPoverty on Vimeo.

O pessoal do Instituto Millenium, que tem seu direito de dizer QUALQUER BOBAGEM mais do que garantido, esperneia contra o governo federal e o Conselho Federal de Jornalismo, que pra eles seria sinônimo de censura.

Tão longe de concordar com o pranto deste instituto quanto de acreditar que ele represente um Revival de Abril de 64, tenho que dar o braço a torcer, quando vejo que a censura acontece de fato no país. Pelo Estado e pelo status.

É, o MC Smith testa o Voltaire (se pá, apócrifo, vai saber) em nós. Fala muita bobagem. E, se não faz apologia ao crime, no mínimo desmistifica a posição de mocinho e vilão da história. Só que, numa certa altura do vídeo, se pá cansado de falar bobagem, que aquilo é a realidade do morro. Banquinho e violão, peixe, é só em Ipanema.

O cara teve amigos mortos pelo B.O.P.E. (santos ou não), não é um choque que não amem o Capitão Nascimento como faz a classe média. Se ele canta que usa roupas da marca X, calçados da marca Y, é por que a playboyzada o discrimina pelas roupas que usa e esse é o jeito de mostrar que pode ter o mesmo mau gosto que qualquer Mauricinho.

O Funkeiro foi preso por apologia ao crime, bem como, segundo a lei vigente, também deve ser quem faz apologia ao uso da maconha. Pela regra, se você for favorável ao aborto ou à eutanásia, é bom não sair espalhando sua opinião, que também pode sobrar pra você.

O Estadão reclama estar há quase dois anos sob censura do Estado, que não lhe permite divulgar documentos em segredo de justiça sob um processo movido contra o filho de um famigerado colunista da Folha. Contudo, paga o salário do colunista Demétrio Magnóli (veja, deve ser mal das iniciais) , que, entre lamúrias reacionárias, reclama do apoio que Lula deu ao Wikileaks, numa coluna que poderia ser chamada de "tiro no pé".

O Wikieaks não faz menos do que o jornal - que, acredite, eu admiro, mesmo não concordando- mas, ao invés de cobrar do presidente o mesmo apoio à sua causa, que se resume a um breve parágrafo no final do seu texto, Ataca o Wikileaks falando de uma teoria elitista sobre a distinção entre interesse público e interesse do público, que o colega de redação Eugênio Bucci já mostrou como está ultrapassada.

O Estadão não é santo também. Maria Rita Khel que o diga. Censura? Não, o direito de uma empresa demitir um funcionário que não trabalha de acordo com seus padrões. Estes são os pesos, e as medidas em questão.

A Folha não fica atrás. Além de ser acusada colaborar com a ditadura, o jornal não gostou muito da crítica que recebeu. Apesar de reclamar, como o restante da Imprensa, da cara feia que faz o presidente quando uma crítica o importuna, processou um site que a satirizava e tirou do ar seu antigo domínio, Falha de São Paulo. A treta é que os caras do site tem um milhão de contatos, e levantaram o site Desculpe a Nossa Falha, e estão fazendo barulho.

Curiosamente, a Folha não recebeu processos por fazer praticamente a mesma coisa.

É muito difícil não se posicionar sob as questões abordadas. Jornalista bom mesmo não consegue.
E, ao se posicionar, fica muito difícil aceitar o que o pessoal do outro lado diz. Dá muita vontade demandar calar a boca, ou de pedir pra Justiça mandar calar a boca. Um poema que você conhece, e deve achar que é do Maialovski (mas é de Eduardo Alves da Costa) explica o fim da história:

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho e nossa casa,

(...)

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada

Pra que a voz que diz o que você quer ouvir ser arrancada como no poema, é só achar que tudo bem se, um dia, qualquer que seja, a voz do outro lado for limitada. O revide não é um jogo de soma zero. Quando um revida, o outro vai estar perdendo e vai querer revidar. Pois é.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Mais uns conselhos ao revoltado

Sobre o texto do Jota, eu reuni mais alguns conselhos aos revoltados:

1 - é terminantemente proibido usar o termo "companheiros". Chamar os colegas manifestantes de "camaradas" então nem pensar.

2 - pode cantar! É bom, faz bem pra saúde, faz mais barulho... mas "um, dois, três, quatro, cinco, mil" vai pra puta que o pariu!

3 - seria magnífico chamar a atenção do máximo de gente possível, mas não faça isso parando uma avenida, sobretudo da maior cidade da América Latina. Pode ter certeza que nenhum veículo de comunicação vai dar atenção pro motivo do protesto, só pra consequência. Você só conseguirá atrair a antipatia do povo.

4 - Pelamor!! INOVE!


Manual do bom militante

Tem pouca coisa que me irrita mais que os desmandos políticos nacionais.
Um forte candidato a superá-los é a mania do povo de protestar de acordo com uma cartilha maldita que reza os seguintes dogmas da militância, quais sejam:
§1. Todo e qualquer manifestante deverá usar preto;
§2. É conveniente misturar todas as reivindicações num mesmo protesto;
§3. Os organizadores do protesto deverão usar de linguagem adequada para o público manifestante.
#3.1 A linguagem deverá ser douta e apenas ligeiramente compreensível para as manifestações que busque o endosso popular;
#3.2 A linguagem deverá ser descolada cheias de gírias de malandrões do gueto, tal qual se vê fidedignamente retratada pelo personagem Boça ou pelos personagens de um dos bastiões da teledramaturgia brasileira, a novela Malhação, sempre que a plateia for composta por adolescentes;
§4. Todo e qualquer manifestante reconhece o portador do megafone como seu pastor e nada lha faltará no que depender deste;
#4.1 O portador do megafone tem a prerrogativa de reunir os manifestantes e revisar, em forma de monólogo extensivo ou jogral com os demais líderes.
§5. Toda reunião que protocolar um documento sobre o manifesto deverá tratar de cada minúcia do tema antes de abordar a questão principal, que geralmente é unânime.
§6. O movimento Caras-Pintadas será sempre a referência mor do movimento e seu hino será tocado ao final de qualquer ato reivindicatório
$7. Os cartazes deverão trazer os dizeres ABAIXO + motivo do manifesto. Em caso de dúvida, completar com ditadura.
§8. As cores a serem estampadas no rosto dos manifestantes deverão seguir o padrão indicado abaixo, em ordem de importância:
a)Manifesto contra corrupção e abuso de poder: Preto + cores da Bandeira
b)Manifesto contra violência: Preto + vermelho
c)Manifesto em favor dos direitos dos homossexuais: Cores do Arco-íris + Pretinho Básico
d)Manifesto em favor da legalização de drogas culturais: Preto (pode ser cinza) + Verde, Amarelo e Vermelho
e)Manifesto pela Paz: Exclusivamente Branco.
§9. É IMPRESCINDÍVEL O USO DE NARIZ DE PALHAÇO PARA QUE A MANIFESTAÇÃO SEJA RECONHECIDA COMO TAL.

Gostaria de deixar claro que defendo todas as causas citadas acima, até mesmo a última, geralmente defendida em casos de violência indisciplinada que atinge a classe média ao invés de limitar-se à população de baixa renda. Contudo, é revoltante ver como até as manifestações populares foram enlatadas e congestionaram a criatividade da manifestação política.

O mais do mesmo é extremamente prejudicial à causa defendida, que perde o apelo popular por falta de inovação, por falta de mostrar que quem está ali gritando está protegendo os interesses de uma população oprimida.
Criatividade é marca registrada de um ativismo que teve muita dificuldade de driblar a censura (mais sobre ela no próximo post). Mas hoje, ainda que as fileiras manifestos sejam formadas sobretudo por universitários das ciências humanas, é como se o vírus simbionte da classe-média alienada e pouco autônoma parece ter infectado a todos, por mais politizados que sejam.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CQSenta lá, Cláudia

Atendendo à provocação do Russo, vou comentar sobre o prorama do Marcelo TAS.
O cara é um gênio da mídia, sabe fazer TV como ninguém. Depois do Serginho Groismam, claro.
A mais notória peripécia dele é a adaptação do Argentino CQC, de estrondoso sucesso.

Não tiro seu mérito de saber reciclar o programa dos hermanos e adaptá-lo à nossa cultura.
Se o humor faz sucesso aqui mais que tudo, que mantenhamos o humor. Se é sexo que as pessoas querem ver, que o sexo seja abordado no programa. Esculacho de políticos e estrelas, tem relativa importância, que os esculachem. São itens essenciais para a sobrevivência de um programa na TV com as pretensões do CQC. O mal do CQC, bem como da mídia nacional em geral, é não desafiar o espectador.

Em nome da audiência, uma fórmula de programa que poderia dar certo além de não evoluir vai se desgastando, caindo no óbvio. Foi assim que o humor resumiu-se aos bordões da Praça É Nossa ou Zorra Total. Com o CQC, a história se repetiu.

Quadros como o Proteste Já perderam seu caráter de denúncia de patrimonialismo para virar relatório de violência aos repórteres, com direito à chamadas durante a programação com cenas das agressões. Logo, o caráter político do programa foi se perdendo, dando lugar ao tititi de festas de ente famosa e piadinhas baratas no pior estilo Amaury Júnior. O Pânico já fazia essa bobagem há anos e pelo menos algumas nádegas aparecem entre um entrevistado e outro.

Essa queda na qualidade do programa - de seus critérios - ocorre em nome da audiência e da lógica "se eu exigir menos do espectador, mais gente consegue ver". Qualificar o espectador é muito difícil em um país cuja educação é convenientemente desprezada, mas quando não há nenhuma tentativa neste sentido, é sinal de nada de novo vai ser apresentado ali.

Há sim como falar com o público sem ser raso. O Altas Horas, às 2 da madrugada de sábado, disputando com o Cine Privé, fala de sexo com a Laura Müller. É uma forma de emancipar o povo, tão igorante no assunto.

Falar de política sem esculhambar figuras, mas explicando as ideias dos partidos seria uma tentativa de emancipação, mas isso é querer demais. Escancarar a ignorância de alguns políticos já serve. O mau-caratismo de outros também. Mas bater no Maluf, no ACM, é praxe, não conta.

Quem precisa ser escancarado, Bolsonaros, Afanásios, Dirceus, Agripinos etc são deixados na paz das entrevistas dos jornalões que os bajulam, protegem ou não conseguem alcançar. CQC fez isso no início. Não faz mais. Prestou um serviço pra população. Não presta mais.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

As esquerdas

Nao bastassem os debates dos centros acadêmicos que participei, o #atoWikileaks confirmou uma velha suspeita minha:
Falta dialética interna pra esquerda.

O debate de ontem lembrou o ainda mais antigo dilema da esquerda , divdida entre os grupos que aceitam jogar com as regras atuais - pra poder jogar também - e a ala mais dogmática (por favor, sem o tom pejorativo do termo) que prefere ser fiel às suas bases conceituais mesmo que isso a impeça de um dia chegar ao poder.

O diálogo, ao qual nos dizemos favoráveis, convenhamos, é miseravelmente falho. É comum recorrermos a um mesmo tópico exaustivamente, não por conta e respostas insatisfatórias, mas por que as soluções encontradas por aquele que responde não foram satisfatórias.

Pô, a regrado jogo para o Wikileaks era vazar pra alguém que desse visibilidadepra bagaça. Com todo respeito à Carta e à variados meios, Folha e Globo, por pior que sejam, tem maior audiência. Seguramente foi esse o critério usado.

Porque não distribuíram os vazamentos aos demais veículos? Essa pergunta foi a mais intressante, embora feita para a pessoa quenão podia responder. Mas considerando que eles só vazaram pra 5 jornalões lá fora, ter dois só aqui não é um número pequeno. Talvez seja uma questão de praticidade de mobilização de equipe, nao sei, mas sinceramente, me parece uma justificativa plausível.

Pode não ser plausível pra você, eu entendo e discuto, mas ficar horas apedrejando a Nathália Vianna por causa da escolha da Organização Wikileaks, espero quepossamos concordar neste ponto, é inútil!