sábado, 16 de outubro de 2010

Quem vai limpar a bagunça?



Mesmo sendo um cara de muita fé, quando observo o panorama atual, sinto um forte desânimo. Muito a se fazer, muita sujeira, ninguém sabe como se chegou a esse ponto, nem sabe quem fez isso, quem deixou de fazer aquilo - quando sabe, deve algum favor para os culpados, e aceita o pacto de silêncio. Seja como for, ninguém toma providências para contornar a situação.

A pressão por reforma é intensa, mas já não se espera muito dos que deveriam resolver o problema, tanto que nem são mais cobrados pela solução. A sujeira vai se acumulando e a conivência nos torna igualmente culpados. Alguém reclama aqui, outro acolá, mas "é melhor não chiar muito que algum podre meu pode aparecer"!

Ficamos à espera de uma ação do terceiro setor, de alguém que se disponha a resolver tudo, gesto tão é tão raro quanto árvores paulistanas. E quando aparece alguém querendo mudar tudo, quer tudo do seu jeito, não aceita negociar, o que sugere um cenário pior do que o atual. Como ninguém tem tanta coragem pra se envolver em tamanha bagunça de graça, ficamos nas mão do setor terciário, que cobra, e caro, bem caro.

Ainda assim, espero de forma mui cristã que, em 10 anos, eu possa ver a cozinha da República em que moro sem essa pilha monstruosa de louça, talheres e fungos que se hospedaram na nossa pia!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Uma Tropa do Barulho

O filme Tropa de Elite 2 não é exatamente a continuação do filme Tropa de Elite. É na verdade uma desconstrução do primeiro filme: Capitão Nascimento, agora Coronel e sub-secretário percebe que tudo o que havia feito - entrar em favela matando traficantes - era manter o "Sistema" (no sotaque do personagem, sissstema) que ele tanto incriminava.

No primeiro filme, há um maniqueísmo entre o policial honesto linha-dura no lado do bem e o traficante desalmado e policiais corruptos ou no mínimo negligentes no lado do mal. Agora, Coronel Nascimento percebe que não deveria lutar contra traficantes, nem contra usuários de drogas que sustentam traficantes. O problema vem de cima.

No primeiro filme há uma série de bordões jogados para o espectador. No segundo há uma série de detalhes de uma trama muito mais grave que um tiroteio ou uma invasão numa favela.

Em Tropa de Elite 2, o protagonista entra para o "Sistema" para tentar combatê-lo por dentro. Inicialmente percebe que aos poucos estava se entregando ao "Sistema", depois percebe que sempre fez parte dele. Que sempre fizemos parte dele. Matando traficante, o Capitão Nascimento não encostava em nenhum um fio de cabelo dos políticos que favoreciam o tráfico.

Tropa de Elite 2 é uma aula de ética sem citar qualquer teórico. Além disso, é uma aula de jornalismo: um dos vilões é apresentador de um daqueles famigerados programas policiais do tipo "espreme que sai sangue" que tem na televisão. Parece até uma referência ao apresentador Wallace Souza, de Amazonas, que encomendava mortes para poder exibir os corpos na TV. Outra personagem-chave é uma jornalista que vai até fundo nas investigações do tráfico aliado à política.

Aliás, política é o principal assunto do filme. "Em ano de eleição..." é a frase mais repetida pelo Subsecretário Nascimento. Tudo gira em torno de eleição. Além disso, a parte mais genial do filme é o fim da eterna dicotomia esquerda-direita. O protagonista começa ridicularizando os "intelectuais de esquerda", depois passa a depender deles. Do mesmo modo, o professor de história que casa com a ex-mulher de Nascimento começa desprezando as idéias de "bandido bom é bandido morto" do capitão do Bope, mas acaba precisando dele para instalar uma CPI. Os dois percebem que tinham os mesmo objetivos mas falavam línguas diferentes.

Na verdade, o filme rechaça o "Sistema" fazendo parte do "Sistema" - o que dizer de um filme popular cheio de patrocinadores? Cheio de telespectadores? Que em breve passará na TV Globo? Mesmo assim, o filme é o ataque perfeito ao "Sistema".

Ah, e diga-se de passagem, a escolha da música "O Calibre" dos Paralamas do Sucesso para fechar o filme foi genial.

Bom, e se Tropa de Elite virou filme da Sessão da Tarde, fica a sugestão de títulos: "Uma Tropa do Barulho" "Um Capitão da Pesada" ou até "As Aventuras de Capitão Nascimento"

sábado, 9 de outubro de 2010

desibernando

O blog estava parado há tempos, prcisava de uma causa séria pra ressucitar.
As eleições estavam muito mornas, sem um debate sério. Surgiu um.
Segundo turno rolando, minha insossa candidata disputa com uma versão geriátrica de Mark Schreck. Tudo muito previsível, motivos de sobra para o blog continuar hibernando: a queda de braço que tende a marcar os livros de história do futuro como a disputa entre os liberais privatistas tucanos e os liberais estatistas vermelhos não é exatamente uma disputa ideológica. O PT foi melhor que o PSDB justamente naquilo que mais criticava, a política de mercado. Meu voto vai para os petistas mesmo assim porque me parecem mais preocupados com o âmbito social, e acho que o PV ainda não é partido minimamente autônomo para ir pra porrada, haja vista suas alianças absurdas... haja vista o Gabeira, em especial.

Mas o PV, ainda que não tenha um capital político consolidado, conseguiu voto a rodo no primeiro turno. Um voto filho de jacaré com cobra, que reúne ativistas libertários e religiosos dos mais conservadores. E, ao contrário do que idealizam meus sofisticados amigos marineiros, é evidente que o segundo grupo é o que pesou na votação recente. Quanto pesou? Só um censo pra dizer, até as pesquisas de intenção de voto vão precisar se reformular depois desta eleição.

Seja como for, os dois candidatos, por mais vampirescos que se aparentem, apostam que conquistar os votos dos religiosos conservadores e tradicionalistas (os religiosos mais modernos estão sendo igualmente ignorados) será definitivo no sufrágio vindouro.

Quando o debate ganha importância na eleição, os militantes se destacam. Daí surge a relevâcia do organizador de campanha, que deve ser escolhido tão casutelosamente quanto o candidato a vice, por exemplo. É ele que vai responder pelo partido aos boatos de campanha, que inclusive angariaram um bom bocado dos votos que compuseram a fração verde da votação.

Pensando nisso, o PT escolheu o Ciro Gomes, experiente pólítico para tal cargo. O PSDB delegou a função à ex-petista Soninha Francine. São figuras que não possuem ligação direta com os partidos que disputam a eleição, mas que tem grande representatividade política.

O PT errou feio nessa. A campanha petista na internet está fragmentada, apesar de ter grandes figuras apoiando sua candidata, e que poderiam fazer um grande trabalho. Escoheram alguém que criticou muito a sua candidata por rancor à chapa. Ele deve ser bom de palanque, mas a unidade da campanha está fazendo falta ao partido, e ele não tem grande penetração no público mais vulnerável às campahas de SPAM, o qual , incusive, vai pesar.

Os tucanos, por sua vez, escolheram uma ex-jornalista brilhante nessa área. Sabe falar com o público jovem desde os tempos de Debate MTV, e não se engane, o programa realmente era bom quando ela apresentava. Esse é o público que alimenta a militância. E, apesar do esforço recente pra me desapontar, ainda tenho muita admiração por ela. Alguém que defende a legalização do direito ao aborto e do uso de maconha da forma honesta que ela fez merece um Nobel. Não é exageiro.

O post de retorno é um apelo. Um apelo inútil, eu sei.
Mas eu gostaria muito de ver essa mulher defender suas visões absurdamente avançadas, absurdamente progressistas, em trincheiras que pretendam realizar suas convicções um dia. Não agora, que a campanha impede imaginar até mesmo o progresso do debate. Sugerir avanços divide a população, e campanha é tempo de unir o eleitorado, mesmo que através do discurso retrógrado. Não dá pra jogar a eleição um plebiscito sobre essas questões. Seria um erro estratégico infantil, melhor deixar pra depois ... é um preço que pode ser caro, mas que não pode ser evitado.

Numa eventual vitória tucana, as idéias de Soninha seriam evidentemente abortadas. No PT, postergadas. Evidentemente não é o ideal, mas é a opinião da maioria, temos que aceitar a democrática derrota que o pensamento libertário sofreu, mas buscar espaço para reverter o placar. O PT não é um PSOL em termos de respeito às liberdades civis, mas é muito mais flexível que o PSDB, cuja base aliada conta com DEM, Veja (cujo esporte predileto, depois de tentar convencer o povo de que o PT é um braço das FARC, é entrar em contradição) e tanta gente reacionária.