O vídeo é longo e as melodias das músicas são muito ruins, mas cada minuto vale a pena e cada rima pobre diz mais sobre o Rio de Janeiro do que toda a Bossa Nova fantasiou. O texto que o segue, também é longo. Como ninguém lê mesmo, vou escrever o quanto eu quiser.
Grosso Calibre (High Calibre) from ShootingPoverty on Vimeo.
O pessoal do Instituto Millenium, que tem seu direito de dizer QUALQUER BOBAGEM mais do que garantido, esperneia contra o governo federal e o Conselho Federal de Jornalismo, que pra eles seria sinônimo de censura.
Tão longe de concordar com o pranto deste instituto quanto de acreditar que ele represente um Revival de Abril de 64, tenho que dar o braço a torcer, quando vejo que a censura acontece de fato no país. Pelo Estado e pelo status.
É, o MC Smith testa o Voltaire (se pá, apócrifo, vai saber) em nós. Fala muita bobagem. E, se não faz apologia ao crime, no mínimo desmistifica a posição de mocinho e vilão da história. Só que, numa certa altura do vídeo, se pá cansado de falar bobagem, que aquilo é a realidade do morro. Banquinho e violão, peixe, é só em Ipanema.
O cara teve amigos mortos pelo B.O.P.E. (santos ou não), não é um choque que não amem o Capitão Nascimento como faz a classe média. Se ele canta que usa roupas da marca X, calçados da marca Y, é por que a playboyzada o discrimina pelas roupas que usa e esse é o jeito de mostrar que pode ter o mesmo mau gosto que qualquer Mauricinho.
O Funkeiro foi preso por apologia ao crime, bem como, segundo a lei vigente, também deve ser quem faz apologia ao uso da maconha. Pela regra, se você for favorável ao aborto ou à eutanásia, é bom não sair espalhando sua opinião, que também pode sobrar pra você.
O Estadão reclama estar há quase dois anos sob censura do Estado, que não lhe permite divulgar documentos em segredo de justiça sob um processo movido contra o filho de um famigerado colunista da Folha. Contudo, paga o salário do colunista Demétrio Magnóli (veja, deve ser mal das iniciais) , que, entre lamúrias reacionárias, reclama do apoio que Lula deu ao Wikileaks, numa coluna que poderia ser chamada de "tiro no pé".
O Wikieaks não faz menos do que o jornal - que, acredite, eu admiro, mesmo não concordando- mas, ao invés de cobrar do presidente o mesmo apoio à sua causa, que se resume a um breve parágrafo no final do seu texto, Ataca o Wikileaks falando de uma teoria elitista sobre a distinção entre interesse público e interesse do público, que o colega de redação Eugênio Bucci já mostrou como está ultrapassada.
O Estadão não é santo também. Maria Rita Khel que o diga. Censura? Não, o direito de uma empresa demitir um funcionário que não trabalha de acordo com seus padrões. Estes são os pesos, e as medidas em questão.
A Folha não fica atrás. Além de ser acusada colaborar com a ditadura, o jornal não gostou muito da crítica que recebeu. Apesar de reclamar, como o restante da Imprensa, da cara feia que faz o presidente quando uma crítica o importuna, processou um site que a satirizava e tirou do ar seu antigo domínio, Falha de São Paulo. A treta é que os caras do site tem um milhão de contatos, e levantaram o site Desculpe a Nossa Falha, e estão fazendo barulho.
Curiosamente, a Folha não recebeu processos por fazer praticamente a mesma coisa.
É muito difícil não se posicionar sob as questões abordadas. Jornalista bom mesmo não consegue.
E, ao se posicionar, fica muito difícil aceitar o que o pessoal do outro lado diz. Dá muita vontade demandar calar a boca, ou de pedir pra Justiça mandar calar a boca. Um poema que você conhece, e deve achar que é do Maialovski (mas é de Eduardo Alves da Costa) explica o fim da história:
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
(...)
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada
Pra que a voz que diz o que você quer ouvir ser arrancada como no poema, é só achar que tudo bem se, um dia, qualquer que seja, a voz do outro lado for limitada. O revide não é um jogo de soma zero. Quando um revida, o outro vai estar perdendo e vai querer revidar. Pois é.