quarta-feira, 16 de julho de 2008

Show Olímpico

Olimpíadas, época em que aflora todo aquele patriotismo, em que sentimos o fervor de uma nação. “Representar as cores verde e amarela do Brasil” como pregam de maneira ufanista os comerciais da Rede Globo, o que dá um medo danado, pois lembra muito o tom propagandístico da Ditadura Militar na década de 1970, aquele que buscava derramar ópio na goela dos brasileiros para esquecerem as atrocidades e mazelas do governo.
Os Jogos Olímpicos são também uma espécie de guerra em época de paz: as forças das nações são canalizadas como demonstração de hegemonia, como aconteceu de maneira explícita durante a Guerra Fria.
E, claro, existem todas aquelas histórias de “superação” e “gana pela vitória”, mas importando “competir mais do que ganhar”, porque esse é o “espírito olímpico” que “emociona todos os brasileiros” que, alias, estão “mais unidos” e “torcendo juntos” pelo país. E quando é o Brasil, a “emoção fala mais alto”! Tudo isso aliado às grandes mostras de excentricidades da China, com toda a “riqueza de sua cultura milenar”. Balelas olímpicas! A cobertura dessa olimpíada está batendo todos os recordes de lugar-comum, chavões desnecessários e sensacionalismo. Sim, porque sensacionalismo não é só aquela prática de jornalismo sempre associada ao Notícias Populares ou aos programas do Datena - aquele gênero que espremendo sai sangue -, mas é também “divulgar notícias dando-as como acontecimentos extraordinários” (isso segundo o dicionário Aurélio). É praticar o Shownarlismo, como bem definiu José Arbex Jr, colocando a notícia como espetáculo. E é isso que a cobertura jornalística desse evento tão cultuado no mundo faz: reduz a China a um simples país exótico, esquecendo-se da outra China, país ditatorial com o contraditório socialismo mais capitalista do mundo; produz exemplos fajutos de vida para a população e tenta criar um clima artificial de nacionalismo. Simplesmente balelas. Os deuses gregos devem estremecer de revolta no Olimpo.

Um comentário:

Renato Diniz disse...

texto mto bom cara! mas vou confessar que discordo de algumas coisas, e isso daria pano pra manga pra umas discussões... eu apoio, por exemplo, esse patriotismo e espírito de competição (moderados é claro), até pela situação do jornalista. é bem melhor vc cobrir uma derrota olímpica, ou melhor, uma vitória do que cobrir mortes, assassinatos e coisa e tal. claro que sem fechar os olhos.

flw! abraço!