Aproveito o texto do Musta, Saudosa "porra louca", para emendar mais uma sobre essa musa do kitch.
O jornalista pergunta:
_Dercy, você (pois ela odiava ser tratada por “senhora”) não acha que fala muito palavrão?
Dercy estava sendo provada. Ela não podia deixar barato, teria que responder a altura:
_Porra nenhuma!
Essa era Dercy, uma mulher sem medo (a não ser da morte, claro), muito menos de seu pior vilão: ela mesma. De tão verdadeira, chegou a ser uma personagem, um ser mitológico, um dinossauro da dramaturgia (com certeza ela me mandaria tomar naquele lugar se me ouvisse chamando-a de dragão). Língua afiada, de um esplêndido mau humor que de tão devasso transformava-se em bom humor (aliás, como lembra Ruy Castro, é do veneno de cobra que se faz o soro antiofídico). Afinal, "porra" e "merda" soam muito bem em sua voz. Dercy representava Dercy. Dercy era uma caricatura dela mesma. Dercy era verdadeira, autêntica, embora de uma autenticidade forjada (o que não importa). Ela viveu bastante para muitos, para outros morre na flor da idade. Mas é fato: sua verborragia enrolou a morte por mais de um século! Isso sim é poder de persuasão!
Quando um repórter da Folha lhe perguntou como encarava nunca ter recebido um prêmio importante no teatro, Dercy foi categórica:
_ Para que eu quero essa merda? Eu não quero, até hoje. Quero dinheiro. Não me dê prêmios, que odeio.
De fato, ela conseguiu ganhar muito dinheiro com sua excentricidade, não ser uma grande atriz, mas viver um grande papel, escrito por ela mesma: Dercy Gonçalves!
Um comentário:
Muito bom esse texto Roney,
realmente a Dercy tinha a lingua muito generosa com os palavrôes, o que a fazia ser a Dercy Gonçalves...
é uma pena que ela tenha ido tão cedo...para muitos.
Parabéns pelos textos no blog
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