A fortiori, devo retornar à polícia. Pela força
dos acontecimentos, incógnitos até aos caudilhos pilotos da “Locomotiva do
País”, a função policial necessita de outra apreciação. Seria cômico, não fosse
trágico, o gato e rato que deu ares na famigerada “cracolândia” na primeira
semana de 2012. Atabalhoadamente, é assim que os problemas de saúde naquela
área são manejados.
Correria! No
embalo do sucesso “Ai, se eu te pego” de Michel Teló, o segundo escalão da
Polícia Militar do Estado de São Paulo inaugurou a corrida atrás do “noia”.
Sirene, correria, “mão na parede!”. Será que alguns usuários largaram o crack
pelo susto?
Já não
bastava o atropelo no processo, uma vez que o prefeito planejava inaugurar um galpão
para tratar massivamente os adictos, a operação parece não ter sido deflagrada
pelo governo civil do estado de São Paulo.
Policial pegando usuário na Cracolândia. Foto: Terra |
Uma operação
dessa magnitude não pode não ser do conhecimento das autoridades paulistas.
Logo, ou coronéis da PM têm autonomia para agir repressivamente em casos de
saúde pública ou Alckmin tirou o seu da reta diante do grotesco procedimento.
De tão desastrada a operação, chegou até a promover a “procissão do crack”, na
qual as velas foram trocadas por cachimbos com a pedra.
No entanto
teve início a “operação sufoco”. “Nossa! Nossa! / Assim você me mata.”
E o sufoco
foi literal: farda no corpo, cassetete na mão e “Ai, se eu te pego. / ai, ai,
se eu te pego”. Faz o quê? Internação compulsória? Cadeia? Chute, imobilização
e gás de pimenta?
O velho
hábito, já conhecido da população paulista, de resolver os problemas sociais
com medidas paliativas e eleitoreiras vingou outra vez. É de espantar que
depois de tanto tempo de uma mesma gestão na prefeitura, e de uma gestão ainda
maior no estado, o plano final tenha sido a correria e o enclausuramento
involuntário.
Ao que tudo
indica, os secretários estaduais e municipais de saúde do feudo paulista têm a
mesma mentalidade dos secretários de segurança, chumbo grosso, da dinastia tucana.
Isso se não forem coronéis reformados, que ganham cargos, mas não são ministros
para sofrer perseguição.
Novamente a
violência é generalizada. Há violência contra o usuário que, ao contrário do
discurso conservador, não está ali porque gosta. Há violência contra os
moradores da região, afinal a disseminação só aumenta. E há violência contra os
próprios policiais que, já não bastava o inútil trabalho de ter que revistar
aluno da USP dentro da biblioteca, agora precisa correr atrás de usuários e
prender “traficantes” no famoso trabalho de formiga. Exigir da polícia que se
resolva o problema é injusto com os próprios policiais.
Vale dizer
que a política de internação compulsória jamais resolverá o problema. Essa
Bastilha do Crack tem mesmo contornos higienistas, como o próprio sistema de
enclausuramento de delinquentes, de criminosos.
Privar o
usuário de uma reinserção social, mesmo que São Paulo hoje não ofereça o
ambiente ideal, é um passo dado na contramão da resolução da questão. E a
figura do galpão para tratamento, não só porque tenho lido Foucault, o desafeto
de Pondé, é de uma investida pouco terapêutica.
Sinceramente,
de nada adiantam profissionais da saúde, organizações que atendam usuários e
pensadores da questão bradando, no fim. A política da dinástica gestão estadual
e a da deletéria e cínica gestão municipal jamais enfrentarão o problema com a justa
sabedoria social. Até porque, eles próprios vivem na contramão de uma sabedoria
verdadeiramente social.
Até as
próximas eleições, “sufoco”! Nesse ínterim, estado e município estarão a caçar embananadamente
os pacientes e incoerentemente os problemas cruciais de São Paulo.
“Ai, se eu
te pego!”
Um comentário:
Ao menos parece que alguém começa a enxergar a realidade... http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1032475-promotores-abrem-inquerito-para-investigar-acao-na-cracolandia.shtml
Mas será que há força ou tempo suficiente?
Ótimo post!! Triste, mas não surpreendente, que mais uma vez as políticas públicas em São Paulo sejam conduzidas de forma reacionária e, é claro, elitista.
Postar um comentário