sábado, 14 de janeiro de 2012

Pinheirinho luta pra não virar cipreste


"Roubar para matar a fome não é pecado!"
A frase acima não tem referência na ABNT. Não perde seu valor, contudo. É atribuída a Antônio Conselheiro, um viajante louco e santo que adaptou o sétimo mandamento à condição miserável que a seca e o Estado Brasileiro submetia à ele e seus seguidores. O messiânico líder da população sertaneja daria um bom secretário de habitação: 5 mil moradias erguidas da areia de Canudos em "quatro anos de mandato" (da fixação em Bello Monte em 1893 até sua morte em 1897). Ali o Brasil viveu um evento raro em nossa história: resistência popular. Seria um orgulho nacional, não fosse um desrespeito, cobrir aqueles cadáveres com a nossa bandeira.
"Melhor um mau acordo que uma briga boa!"
Naji Nahas é dono de muita coisa, inclusive da frase acima. Um Capitalista voraz, que quebrou e voltou muitas vezes. Por que ele conversou infinitas vezes com Daniel Dantas, em nome de Marco Tronchetti Provera, hoje o grupo Telecom Itália permite que eu fale por horas com minha namorada ao celular. Nahas também era dono da holding Selecta-Comercio e Industria S.A., que agregada mais de 20 empresas.

Se eu entendi direito a "e-papelada" que eu andei fuçando, Naji se aproveitava de brechas legislativas e da boa vontade de José Augusto Mac Dowell Leite de Castro, diretor da Selecta e da CIS (Cia Internacional de Seguros) para comprar ações com informações privilegiadas sobre o preço mínimo, e revendê-las a um preço mais alto, lucrando a diferença. Como ensinou Amaury Ribeiro Jr., uma pessoa nos dois lados de uma transação é sinal de maracutaia. Isso é o que um leigo como eu consegue resumir. 

A Selecta quebrou em 1989, junto com a bolsa do Rio, por uma alteração nas regras de negociação da Bovespa. Abusado, Najas escapou de todas as acusações e ainda tenta na justiça ser indenizado por suas perdas em 1989. Um gênio. À massa falida da empresa pertence um terreno na zona sul de São José dos Campos, ocupado por mais de 1600 famílias, que desde 2004, chamam-no de Pinheirinho.

Fossem grileiros, a usucapião já teria resolvido o impasse (corrija-me algum entendido, por favor!). A justiça, no entanto, tem várias formas de ver o caso, ainda que vendada. Uma delas é observar o direito de posse da empresa falida e condenada por crime contra o sistema financeiro sobre um terreno que não utilizava.


Poderia ser observada a falta de 1,2 milhão de casas no Estado de São Paulo ou o esforço demagógico de Dilma e Alckmin para sorrirem entre si enquanto minam o efeito eleitoreiro que a construção de casas populares poderia ter para o poder federal ou estadual. Preferiu-se honrar o dinheiro do dono da área, muito embora o dinheiro seja notório fruto de fraude.

O prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB) poderia ter ajudado a resolver  o problema, registrando a área junto ao governo do Estado como uma Zona Especial de Interesse Social. Não o fez. Talvez considerasse mais interessante ter um supermercado no lugar.

As famílias em Pinheirinho lutam para permanecer no local. Reproduzem, pobres e sem perspectivas, a mesma luta de cem anos atrás, pelos metros quadrados que ocupam há 8 anos ou por uma parte que lhes caiba por direito, contada aos palmos, em lotes individuais. Seja como for, algum espaço o Estado lhes deve.

Nenhum comentário: