terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Luz, escura luz


Gilberto Kassab, corretor de imóveis: Creci 32754-F.
O higienismo paulistano, que varreu corpos do bairro da Luz no centro de São Paulo, deu o primeiro passo na garantia de aposentadoria de Gilberto Kassab e dos seus chegados. A ocupação militar da “cracolândia”, no início incógnita a Alckmin e ao prefeito, tem sido agora assumida como uma operação bem sucedida pelas mesmas autoridades. Ainda há muito a ser feito, não com relação aos usuários e moradores do bairro, mas para a especulação imobiliária.

O “Projeto Nova Luz” pretende desocupar e demolir boa parte dos prédios da região em até 15 anos. O destino de moradores e “pessoas em situação de rua” ainda é incerto. Ao que tudo indica, a urbanização da região obedece fundamentalmente a critérios estruturais, não sociais.

Corretor de imóveis e técnico em transações imobiliárias, Gilberto Kassab não tem mesmo a formação necessária para observar o desenvolvimento da cidade sob uma ótica social. Não há como cobrar uma gestão social do prefeito, a despeito de seu atual cargo. É inelutável.

Conhecendo essa fatalidade, remediável apenas com impeachment, chegamos ao processo de gentrificação. A palavra tem origem no inglês e nomeia o processo de renovação de espaços urbanos deteriorados, banindo residentes, quase sempre de classes baixas.

Ora, um processo urbanístico que muito interessa à especulação imobiliária. Você, como prefeito e corretor de imóveis, não desapropriaria uma grande área para realizar um negócio imperdível? A população pobre que se escoe. A alocação nas periferias evita que "gente diferenciada" ande pelas nossas ruas.

O Secovi, sindicato de construção e comércio de imóveis, foi um dos principais financiadores da campanha de Kassab à prefeitura. O famigerado lobby dá as caras mais uma vez e já tem planos para a Av. Faria Lima, atropelando o Plano Diretor e agravando o já insustentável trânsito da região.

A gentrificação da Luz acolheria de braços abertos moradores com alto poder aquisitivo, dispostos a pagar alto às construtoras e imobiliárias para viver perto do escritório. Ninguém aguenta o trânsito, não é?

E para aproximar ainda mais o escritório, em outubro de 2007 o prefeito Gilberto Kassab anunciou o nome de 23 empresas que se instalariam na Nova Luz após a limpeza do local.

Já teve início a gentrificação com a ocupação militar da “cracolândia”. O problema do crack não foi combatido, foi dificultado. Mas o terreno está sendo asseado para a especulação dos próximos anos.

Veja o documentário "Luz" do Left Hand Rotation, esclarecendo os planos sobre o bairro da Luz.

Tradicionalmente segregacionista, a classe média alta paulistana é a principal patrocinadora do corretor e técnico em transações imobiliárias Gilberto Kassab. Teoricamente o prefeito, como representante do município, deveria zelar pela necessidade social de seus munícipes. Mas há conflito de interesses. O mercado imobiliário e o apoio do tradicional higienismo paulistano sustentam a gestão mercantil de Kassab.

Não é ilógico. Kassab trabalha para aqueles que o elegeram. Se nada for feito, em alguns anos a segregação aumentará. A tradicional eugênica classe paulistana corre atrás do próprio rabo. Não resolve o problema, só o agrava. Reféns de condomínios, de poucos bairros seguros e do medo, ela alimenta a violência que teme.

Mas esse é um papo mais profundo, pra outro texto quem sabe, raciocínio inacessível aos que “reaciocínam” à escura Luz.

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