quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Movimento Estudantil e Movimento Estudantil de esquerda...

A dificuldade da esquerda em lidar com a democracia é histórica. O próprio Marx foi bem reaça quando não deixou os anarquistas participarem das Internacionais Comunistas, por exemplo. A esquerda (não só) estudantil herdou isso.

Também pudera, estamos perdendo em quase todos os aspectos: a desigualdade social, a heteronormatividade, o software-proprietário, o racismo, o oligopólio midiático, a proibição da maconha, a proibição do aborto, o consumismo, a meritocracia, o Estado não-laico, o novo estádio do Corinthians, a PM na Universidade, a seleção do Mano, o programa do Datena etc.

Estas e tantas outras são demandas justíssimas e um dia a mais que vivemos sob estas deformidades sociais, mais difícil fica para que revertamos a situação. Mas o fato é que em 68 o inimigo vestia verde oliva, era fácil identificar o adversário, e não seria visto como exagero bradar "abaixo à repressão!"; "contra a ditadura!" e outros motes do não muito vasto repertório do Movimento Estudantil. Mas uma coisa é brigar por direitos em um Estado de Exceção; outra coisa, num Estado (ainda policial, mas minimamente) de Direito. Negar isso é dizer que a reabertura foi inútil, o que é absurdo. Os vermelhos precisam dar braço a torcer um pouco.

Hoje a situação é outra. Nem toda esquerda compartilha das causas que cito  acima, até por serem tantas e tão diferentes. Daí ficam duas opções pros grupos: Andar só entre amigos ou tentar uma conciliação em busca de poder político, deixando pontos polêmicos em discussão e tocando os consensos.

A segunda opção é politicamente mais funcional, mas é uma utópica dentro da esquerda. Haja vista a recente eleição de Chapa pra tocar o Movimento Estudantil da USP (a partidarização e a cultura do Racha a colaboraram muito pra minar a representatividade da esquerda, majoritária, que quase perdeu para a única chapa da direita, integrada).

Tentar resolver tantos problemas sem apoio, sem se flexibilizar, é impossível. Todas essas fragilidades da nossa sociedade não surgiram do nada, nem são naturais. Querer resolver tudo de uma vez, só por que pudemos identificar os problemas é ignorar a complexidade deles.

Não bastassem os problemas do Movimento Estudantil de esquerda, ganha voz uma direita estudantil (é a velha oposição da galera dos "cursos de mercado" contra o pessoal dos "cursos pra sociedade", com infinitas ressalvas nessa distinção). O "cansei", o "movimento contra a corrupção", do "Jogo Justo" e até ações mais sérias como o Ficha Limpa (que a esquerda endossou) são manifestações dessa direita em sua origem (se acha que a dualidade não existe, pare de ler o Fukuyama e vá buscar algo que preste).

Pois é, estudantes de direita. E a representação deles é legítima e deve ser respeitada. Mas, se a galera não se entende nem com oposições dentro da esquerda, escondendo-se em jargões e etiqueta, a reação à manifestação da Direita dentro do feudo que domesticava há décadas era óbvio.

Vêem? Este é o pau de amassar ideologias
E a cobertura destes eventos da imprensa (que tem audiência) apoia quem se aproxima de seus ideais. A direita sabe jogar nas regras do jogo, ela que as fez. Mudar o cenário precisa de ações radicais em certos momentos, mas quando o Movimento Estudantil de Esquerda já está fragilizado, usar a linguagem do Datena em vídeo, usar os velhos artifícios da ocupação da reitoria e da greve dos estudantes, tão questionados pela sociedade, é jogar pedra na diagonal da Dama.

Se a Universidade busca alternativas e soluções para a sociedade, então lá é lugar para que o Estado policial seja questionado, e quiçá corrigido. Mas a luta para que isso aconteça não pode ultrapassar as regras do Estado de direito que nós mesmos buscamos. Democracia tem seus ônus, mas como podemos questionar os abusos que fazem em nome dela se nós mesmos não arcamos com esses revezes?

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