Pôster de Modern Times (1936), filme em que Chaplin estava inserido no mercado de trabalho, mas não podia ter aulas de democracia. Foto: IMDB |
Há máximas
veiculadas pela tradição socioeconômica que enaltecem o trabalho baseadas no
modo de produção dessa mesma tradição, como “O trabalho engrandece o homem”,
mas que trabalho é esse?
O trabalho
assalariado surgiu com a expansão da produção e do consumo de mercadorias
provocados pela Revolução Industrial. Até então a atividade produtiva era
doméstica e, antes disso, artesanal, envolvendo tanto o artesão quanto o
aprendiz. O capitalista, proprietário dos meios de produção, tal como o
conhecemos, vem do nascer das fábricas.
Karl Marx
(1818-1883) em seus Manuscritos Econômico-Filosóficos
de 1844 explica a situação do artesão que vê sua produção ser dizimada pela
pujança da nascente fábrica. Restam apenas ao artesão duas possibilidades:
vender sua capacidade produtiva ao capitalista ou morrer.
Duro dilema,
mas o artesão vendeu sua capacidade produtiva. Troca seu trabalho, sua
atividade vital, por dinheiro. “E o que é a vida senão atividade?” expõe Marx na
obra supracitada. A essa venda da atividade vital do trabalhador, Marx, grosso modo, dá o nome de alienação.
Venda, troca, o único produto que o trabalhador possui é sua atividade, que se
torna mercadoria. O trabalhador se torna mercadoria, é “coisificado” ou
reificado.
Ora, há anos
tenho acompanhado pesado investimento, por parte do Governo do Estado de São
Paulo, em formações técnicas, tecnológicas e cursos geradores de emprego. É
quase o tecnicismo educacional dos anos 70, de chumbo.
A política
de expansão das Fatecs, Etecs e a criação do “Via Rápida” contrastam com o
pouco prestígio de cursos onde o pensamento de Marx, e de qualquer outro teórico da política e sociedade, é veiculado. Não tenho
acompanhado a mesma expansão de cursos de humanas, ciências sociais, ciências
políticas e formações afins.
Concordamos,
apagão de mão de obra qualificada exige formação de trabalhadores aptos. Mas, e
o pensamento crítico, permanece esquecido? É melhor permanecer, já não basta o
que tem provocado na USP com a “fedidíssima e decadente FFLCH”, como disse o
politizado de horário nobre Marcelo Tas.
Política
educacional pode ser cruel se não a analisarmos em seus detalhes ideológicos. Há
anos o governo de São Paulo tem investido na formação para secretariado,
soldagem, especialização em gestão empresarial e afins nas Fatecs; mecatrônica,
química, calçados, móveis, tecelagem, hospedagem e afins nas Etecs; ajudante de cozinha,
pintor, maquiagem, pizzaiolo, operador de máquinas para transformação de
borracha, eletricista instalador e afins no “Via Rápida”.
Há
oportunidade para todos, mas para ser assistente de logística portuária,
soldador básico ou eclético e tratorista agrícola. E para alternativas menos
mercadológicas, como ser um cientista político, jurista, um sociólogo, para
profissões que pensem a sociedade para além de seu valor de uso?
A segregação é silenciosa, a reprodução da
vassalagem sutil e a produção do pensamento crítico é abafada. A própria educação é reificada nesse processo. Como é que poderemos ter aula de
democracia se faltam os cursos para isso?
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