sexta-feira, 8 de julho de 2011

“Pelo sonho é que vamos”

As coisas que vemos são claras, entretanto exige-se um esforço distinto para observá-las com a acuidade que a matéria demanda. E não é um esforço que encerra um diferencial quantitativo, mas qualitativo, numa postura que não ignora centelhas de meias-verdades e fagulhas de abjetos interesses que um espírito menos preocupado costumeiramente deixa escapar.

O poema de Sebastião da Gama, cujo verso inaugural intitula este texto, poderia bem ser um hino de batalha daqueles que, como nós neste blog, combatem uma ainda lúgubre realidade política e social brasileira. Afinal, “comovidos e mudos” muitas vezes, pelo sonho é que vamos.

“Chegamos? não chegamos?”

Sacamos e empunhamos nossas críticas e nossos anseios sociais de nossos princípios políticos. Não são rigorosamente os mesmos, ainda bem. Contudo reconhecemos uns aos outros, em meio à fumaça e o fogo da guerra que diariamente travamos contra ‘políticos’, mídias, “a opinião pública líquida” e quimeras semelhantes. Somos frustrados muitas vezes, ossos do ofício, mas como versam os versos desse nosso hino “Haja ou não haja frutos, / pelo sonho é que vamos.”

“Basta a fé no que temos.

Basta a esperança naquilo

que talvez não teremos.”

Reconhecemos resultados nesse velejar, mas alertamos que ainda há muito a navegar. Numa terra que deu à luz as mais diversas caras, etnias, religiões, numa terra que assistiu seus filhos protagonizarem as mais diversas batalhas, aqui travamos as nossas em utopias e vírgulas, perseguindo ideais e delatando anacronismos. Conhecemos algo da nossa história e escrevemos quando a percebemos se repetir, como farsa, lembrando Marx.

“Basta que a alma demos,

com a mesma alegria,

ao que desconhecemos

e ao que é do dia a dia.”

E nesse muito ainda a navegar vamos sempre encontrar cerração, dúvidas, obstáculos do desconhecido. No entanto sabemos que nós (eu, tu, ele/ela) fazemos a nação. E por nos acreditarmos protagonistas da nossa história coletiva, gritamos pra que sejamos ouvidos. Gritamos, sobretudo, pra abafar os sedutores cantos das sereias que sempre alienaram, e ainda alienam, muitas almas brasileiras. Mas tentamos ser mais sedutores, e com a alegria (sarcástica, há que reconhecer) proclamada por Sebastião da Gama em seu poema, enfrentamos o que conhecemos e o que desconhecemos. E pelo sonho caminhamos, afinal...

“Chegamos? não chegamos?

Partimos. Vamos. Somos.”


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