Hoje fui acometido por uma dessas felizes inspirações que reúnem, em duas notícias aparentemente diferentes, uma análoga lógica. E não se fazia referência, nem numa nem n’outra, à similaridade que as casavam tão apaixonadamente.
Na primeira dessas notícias, destaca-se o calvário do poder público paulista em despoluir o Rio Tietê, hoje um córrego que mal reflete a luz do sol. Não obstante o investimento bilionário (da ordem dos R$ 3 bi) na tentativa de limpeza do rio, parece não existir vontade política para que todo esse investimento dê resultado. Enquanto máquinas mostram aos transeuntes das marginais que há trabalho sendo feito, diversos bairros e cidades do arredor continuam despejando seus esgotos no saudoso Tietê.
A outra nova, dessas que a gente lê e não dá tanta importância, é a de que o “DEM rediscute imagem de ser ou não de ‘direita’”, ipsis verbis. Pegou a relação? Sempre que leio notícias desse calibre, tendo a pensar nas “Scènes de la vie politique” da antológica “La comédie humaine” de Honoré de Balzac. Se o escritor francês respirasse os ares de nosso tempo, ia lhe faltar décadas de vida para registrar tanta inspiração que a política brasileira emana.
Mas sobre a comédia política desses trópicos já dei meus apontamentos, e a notícia é satisfatoriamente cômica pra que eu volte agora a esse picadeiro. Continuemos com a correnteza da feliz inspiração.
O ponto de convergência, que você certamente sacou, é a situação parecida em que se encontram o poluído DEM, certamente antigo e talvez futuro PFL, e o despudorado Rio Tietê. O partido, que já não ostenta pudor há muitas eleições, maquina secretamente em suas convenções maneiras de parecer mais limpo ao eleitor, sem que consiga se desvencilhar de sua essência elitista e senhoril.
O Tietê, pelo contrário, faz navegar a céu aberto os detritos paulistas, sobretudo os governamentais. Confundem-se em suas pastosas e inconfundíveis águas, se é que ainda há águas, os restos do descaso político e das necessidades naturais dos particulares. É, tal qual um partido político decadente, um lugar onde o interesse público e a necessidade privada se embaraçam.
E entre poluídos e despudorados, perdoar-me-ão os puristas logomáquicos, a merda continua a boiar...
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