terça-feira, 11 de outubro de 2011

Comercial da Caixa, a cor do Machado Assis e o Politicamente Incorreto

Negros foram mercadoria por milênios. Os direitos civis não possuem dois séculos. E já tem gente reclamando de exageros politicamente corretos. É como se as minorias da população estivessem abusando do direito de pedir por respeito. Tanto que entrou para o vasto fundo cultural do senso comum a ideia de que o mundo sofre com uma "ditadura das minorias" e que ser politicamente incorreto é defender a liberdade de expressão.

Nessas, a Caixa fez um comercial com um Machado de Assis branco. Reclamou-se, bateu-se de todo lado na produção. Refizeram-no. No link, alguns comentários mostram uma galera achando que é excesso de "politicamente correto" refazerem o comercial. Veja a nova edição:



Os politicamente incorretos consideram bobagem, que a discussão é inútil, um exagero. Agora imagine Clarice Lispector, a quem cogitaram Meryl Streep para interpretar, vivida por uma atriz de pele negra. Imagine crítica e repercussão. Não é bobagem.

Madonna e Mary Lambert sabiam muito bem desse potencial polêmico quando contrataram um ator negro para representar Jesus (que seria loiro, de olhos azuis e cabelos lisos e ondulados, a despeito de sua naturalidade geográfica). Ainda que há 22 anos atrás e envolvendo fatores religiosos, a polêmica gerada pelo videoclipe - muito mais interessante que as polêmicas causadas por vestidos de cantoras, diga-se - revelam que não se trata de uma simples questão de "politicamente correto".

Quantos não são os vloggers e apresentadores a menosprezar essa e tantas outras causas por partirem de um PONTO DE VISTA "hetero-branco-rico-cristão"? O curioso é que a primeira vez que um humorista é de fato politicamente incorreto, desta vez com uma filha de cantor, esposa de gente poderosa, a conversa mole da liberdade de expressão cai por terra.

Evidentemente, o humorista é mais um mané que acha que há um excesso de pudor, muitos limites para a lirve-expressão. Justo por causa  de uma frase na qual não foi preconceituoso. Estúpido, inadequado, entre outros qualificadores, mas ele não manifestou um preconceito. Quando foi, assim como Boris Casoy o fez ao falar de garis, não teve grandes problemas. A Band defende esse tipo de "liberdade de expressão".

Que haja. Na hora em que todos forem respeitados da mesma forma e/ou houver piadas sobre brancos, ricos, cristãos e heterossexuais da mesma forma que há com negros, pobres, gays e (dis)crentes em outras formas de sagrado, o politicamente correto não vai ser mais necessário.

Nenhum comentário: