sábado, 22 de outubro de 2011

CBF: Covil Brasileiro do Fisiologismo


Já não é segredo, nem novidade, que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é um tonel de anomalias. A entidade é responsável por uma das maiores alegrias do brasileiro, o futebol, instituição cultural nacional, quiçá mundial. Sua atual estrutura e seu regimento não fazem jus ao novo e crescente movimento por transparência e democracia, que abala a cultura oligárquica que tanto tem perdurado em solo brasileiro.

Foto: Agência Estado

É possível conhecer a estrutura da instituição pelo seu site. Conhecemos o nome do presidente, vice-presidentes regionais, secretário geral, diretores e toda a hierarquia detalhadamente desenhada. Inclui-se nessa apresentação, a posição destacada das federações estaduais, se é que podem ser legalmente assim definidas.

Trata-se de uma instituição privada, gozando dos direitos de associação que a Carta Magna assegura em seu Art. 5º (XVII). E que fique claro que essa liberdade assegurada pela constituição se refere a “associações para fins lícitos”. Juridicamente a CBF tem, logo, direito de auto-organização e de auto-regulação.

Pouco se sabe, entretanto, do estatuto e consequente regimento interno da CBF, uma vez que não estão acessíveis no site. Mas é de quase conhecimento público que o presidente da entidade é eleito por votação. Têm direito ao voto as 27 federações filiadas à CBF, apesar de Roraima misteriosamente não constar na estrutura interna, mais 24 clubes.

O obscurantismo por trás da eleição do presidente é tal que alguns fatos atraem a atenção:

- Na última eleição, em 2008, votaram as 27 federações estaduais e presidentes de 24 clubes, quais sejam esses times: a escuridão não me permitiu averiguar;

- Essa mesma eleição foi alterada em 18 de abril de 2006 pela Assembléia Geral da CBF para que, assim que eleito, o próximo presidente perdurasse no cargo até 2015, sendo que a eleição segue normalmente o intervalo de 4 anos;

- Na eleição de 2008, Ricardo Teixeira enfrentou chapa concorrente de Carlos Alberto Oliveira, então presidente da Federação Pernambucana de Futebol, falecido no final de agosto de 2011. Uma das propostas de Carlos Alberto era a de ampliar o sufrágio para eleição do presidente da CBF, com participação dos clubes da Série B, Série C e da Copa do Brasil, uma vez que todos esses torneios são organizados pela CBF;

- Favas contadas: a dinastia Teixeira persiste até 2015. Ricardão pode levantar o dedo e afiançar: “La CBF c’est moi!”.

Dentre os 5 vice-presidentes de Teixeira, consta o nome de Fernando Sarney, que também ocupa os cargos de filho do homem e de alvo da Operação Faktor da Polícia Federal, operação omitida pela TV Mirante, afilhada da Globo em São Luís e motivo de censura por parte do desembargador Dácio Vieira do TJDFT ao jornal Estado de São Paulo.

No início desse ano o deputado Anthony Garotinho (PR/RJ) iniciou empreitada na casa para a criação de uma CPI da CBF, e conseguiu coletar assinaturas. A CPI investigaria irregularidades sobre Teixeira ser um dos dois sócios, como pessoa física, do Comitê Organizador Local da Copa de 2014. Teixeira teria 0,01% das ações enquanto a outra sócia, a CBF, teria os 99,9% restantes.

Alguns deputados mantiveram a assinatura e outros retiraram as suas, talvez, em troca de uma camisa da seleção ou coisa que o valha. Um dengo de Dom Teixeira. Veja alista.

Poderia arrazoar aqui todas as denúncias de irregularidades: as negociatas de bastidores entreCBF e Globo, dívidas com o Fisco, lobby na Casa para não instalação da CPMI Corinthians/MSI no trágico episódio do clube, as doações irregulares a campanhas políticas, o esquema milionário de propina, o recente patrocínio à copa dosjuízes federais e grandes feitos afins.

Sem contar o tradicionalmente desorganizado calendário da CBF, com partidas oficiais marcadas em datas FIFA e durante as olimpíadas de Londres, prejudicando os clubes brasileiros que cedem seus jogadores à seleção.

No entanto, com receio da prolixidade, atenho-me a mostrar, com a clareza que esse covil me permite, o quanto o futebol brasileiro, de interesse público, é refém do negócio privado, corporativista, corrupto e fisiologista.

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