Já não é segredo, nem novidade, que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é um tonel de anomalias. A entidade é responsável por uma das maiores alegrias do brasileiro, o futebol, instituição cultural nacional, quiçá mundial. Sua atual estrutura e seu regimento não fazem jus ao novo e crescente movimento por transparência e democracia, que abala a cultura oligárquica que tanto tem perdurado em solo brasileiro.
Foto: Agência Estado
É possível
conhecer a estrutura da instituição pelo seu site. Conhecemos o nome do
presidente, vice-presidentes regionais, secretário geral, diretores e toda a
hierarquia detalhadamente desenhada. Inclui-se nessa apresentação, a posição
destacada das federações estaduais, se é que podem ser legalmente assim
definidas.
Trata-se de
uma instituição privada, gozando dos direitos de associação que a Carta Magna
assegura em seu Art. 5º (XVII). E que fique claro que essa liberdade assegurada
pela constituição se refere a “associações para fins lícitos”. Juridicamente a
CBF tem, logo, direito de auto-organização e de auto-regulação.
Pouco se
sabe, entretanto, do estatuto e consequente regimento interno da CBF, uma vez
que não estão acessíveis no site. Mas é de quase conhecimento público que o
presidente da entidade é eleito por votação. Têm direito ao voto as 27
federações filiadas à CBF, apesar de Roraima misteriosamente não constar na
estrutura interna, mais 24 clubes.
O
obscurantismo por trás da eleição do presidente é tal que alguns fatos atraem a
atenção:
- Na última
eleição, em 2008, votaram as 27 federações estaduais e presidentes de 24
clubes, quais sejam esses times: a escuridão não me permitiu averiguar;
- Essa mesma
eleição foi alterada em 18 de abril de 2006 pela Assembléia Geral da CBF para
que, assim que eleito, o próximo presidente perdurasse no cargo até 2015, sendo
que a eleição segue normalmente o intervalo de 4 anos;
- Na eleição
de 2008, Ricardo Teixeira enfrentou chapa concorrente de Carlos Alberto
Oliveira, então presidente da Federação Pernambucana de Futebol, falecido no
final de agosto de 2011. Uma das propostas de Carlos Alberto era a de ampliar o
sufrágio para eleição do presidente da CBF, com participação dos clubes da
Série B, Série C e da Copa do Brasil, uma vez que todos esses torneios são
organizados pela CBF;
- Favas
contadas: a dinastia Teixeira persiste até 2015. Ricardão pode levantar o dedo
e afiançar: “La CBF c’est moi!”.
Dentre os 5
vice-presidentes de Teixeira, consta o nome de Fernando Sarney, que também
ocupa os cargos de filho do homem e de alvo da Operação Faktor da Polícia
Federal, operação omitida pela TV Mirante, afilhada da Globo em São Luís e
motivo de censura por parte do desembargador Dácio Vieira do TJDFT ao jornal
Estado de São Paulo.
No início
desse ano o deputado Anthony Garotinho (PR/RJ) iniciou empreitada na casa para
a criação de uma CPI da CBF, e conseguiu coletar assinaturas. A CPI investigaria
irregularidades sobre Teixeira ser um dos dois sócios, como pessoa física, do
Comitê Organizador Local da Copa de 2014. Teixeira teria 0,01% das ações
enquanto a outra sócia, a CBF, teria os 99,9% restantes.
Alguns
deputados mantiveram a assinatura e outros retiraram as suas, talvez, em troca
de uma camisa da seleção ou coisa que o valha. Um dengo de Dom Teixeira. Veja alista.
Poderia arrazoar
aqui todas as denúncias de irregularidades: as negociatas de bastidores entreCBF e Globo, dívidas com o Fisco, lobby na Casa para não instalação da CPMI
Corinthians/MSI no trágico episódio do clube, as doações irregulares a campanhas
políticas, o esquema milionário de propina, o recente patrocínio à copa dosjuízes federais e grandes feitos afins.
Sem contar o
tradicionalmente desorganizado calendário da CBF, com partidas oficiais marcadas
em datas FIFA e durante as olimpíadas de Londres, prejudicando os clubes
brasileiros que cedem seus jogadores à seleção.
No entanto,
com receio da prolixidade, atenho-me a mostrar, com a clareza que esse covil me
permite, o quanto o futebol brasileiro, de interesse público, é refém do
negócio privado, corporativista, corrupto e fisiologista.
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