quarta-feira, 26 de outubro de 2011

“As sombras de tudo o que fomos nós”


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“Se você quiser me destruir, vou te destruir primeiro”. Teria sido essa indelicada declaração, segundo consta, que inaugurou a desforra de Gilberto Kassab a Rodrigo Garcia, até então sua eterna metade da laranja. Chega um momento na vida a dois em que a fidelidade é abalada, em que surgem terceiros, e as mágoas irrompem do não-dito. São as escuras nuvens do divórcio.

São Paulo assiste passivamente aos “DR” do alto clero da política local. A briga na corte é forte, ameaça a dinastia tucana e confessa a debandada dos oportunos integrantes do PSD. Anos de afeto, jingles e presentes abalados pelo “salve-se quem puder” de Kassab e seus novos amigos.

Já não se sabe, aqui em baixo, quem governa a maior cidade do país. A descaracterização governamental é refletida nas políticas confusas e eleitoreiras do prefeito que, apesar do que faz, agora se diz socialista. São Paulo passa mal, e somada à enferma cidade está o processo diaspórico de inauguração do PSD.

E os paulistanos, devem estar indignados com toda essa picuinha, não? Não. Não se percebe. Enquanto a vaidade esfria a brasa de Kassab e Garcia, estamos no trânsito ou na balada, temos os nossos amores pra cuidar, eles os deles.

O PSD conseguiu nascer, parto dificultado por Rodrigo Garcia (tu quoque?) e seu DEM. Não são tão adversários hoje, aquela ternura sempre fica, não fica? O partido de Kassab esvazia o DEM. Mas Rodrigo e seus parceiros não vão dar ao prefeito o enorme prazer de lhes ver chorar.

O estoicismo que cabe aos barões do DEM também não importuna Kassab. O que ele quer é seguir em frente, esquecer que aquela união, por mais afetuosa, poderia lhe render rejeição popular. Flerta com quem tem aprovação do público votante.

Depois de muitos anos juntos, foi difícil até para a mãe de Rodrigo Garcia aceitar a separação. As coisas são assim mesmo, crianças. Se não se cultiva a relação, a menor das brisas desfolha a árvore, galho por galho.

Os ânimos já amainaram e Kassab ainda acha que está fazendo o que é certo, pela política e pela cidade. E assim, os sabores e dissabores das paixões da fidalguia paulista sobressaem ante as necessidades da plebe paulistana. Estamos acostumados mesmo a torcer pelos amores impossíveis de novela e a esquecer os nossos próprios desejos.

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