Novamente violando o véu da moral e dos bons costumes da classe dita politizada, nos debrucemos, com o devido respeito, sobre o grosso da matéria. Recentemente, Fábio Góis do Congresso em Foco divulgou um breve balanço da atividade parlamentar dos “deputados celebridades” no primeiro semestre de suas legislaturas. Em sua avaliação, deputados como Romário (PSB-RJ) e Jean Willys (PSOL-RJ) têm se destacado em suas atividades legislativas; assim como Francisco Everardo (PR-SP), o execrado, desprestigiado, satirizado, crucificado e tantas vezes condenado à jaula do leão, palhaço Tiririca, em proporção mais módica.
A análise é honesta e precisa sempre ser feita, se de fato louvamos a crítica aos “políticos”. No entanto é possível ir além, e comparar as atividades das celebridades parlamentares supracitadas com as atividades dos parlamentares celebridades que sempre têm voz nos compromissados jornais de horário nobre.
Dentre as celebridades que se tornaram parlamentares, pode-se observar um trabalho mais próximo das necessidades da população, fora da “sociedade política” que se instaurou no país. Romário, por exemplo, têm se dedicado a promover políticas inclusivas para pessoas portadoras de deficiência e se mostra uma figura combativa no cenário esportivo, requerendo aumento de recursos ao paradesporto e demandando explicações sobre a organização da Copa de 2014 e as sempre obscuras atividades de Ricardo Teixeira e sua CBF.
Jean Willys, “ex-BBB”, trouxe a discussão de direitos humanos às pautas do congresso. Tem batalhado pelos direitos dos homossexuais, pelo maior investimento em educação e liberdade religiosa e de expressão. É alvo de costumes higienistas, como do parlamentar celebridade Jair Bolsonaro (PP-RJ), exemplo de membro da “sociedade política”, que reina sobre nós, míseros cidadãos.
Já Tiririca tem uma postura mais tímida. Convenhamos. Entretanto não peca pela omissão, muito menos pela ausência. Já salientei a importância de sua presença na casa, e sua atividade parlamentar tem rendido mais do que qualquer um esperava. Além da grande assiduidade de Tiririca, o deputado tem representado sua classe, propondo a instituição de programas nacionais de cultura e sugerindo distribuição de material didático a alunos e educadores circenses, por exemplo.
Em contramão, muitos dos parlamentares celebridades dedicam suas atividades legislativas, seja a pormenores técnicos com a manutenção da “sociedade política”, seja à rinha partidária que tanto desvirtua o sistema representativo.
Não entro tanto no mérito dos projetos e emendas de ordem técnica e burocrática. É insuportavelmente desestimulante, para quem está fora da “sociedade política”, a leitura de solicitações de alteração de palavras no parágrafo do artigo do regimento interno de alguma subcomissão ou trâmites burocráticos assustadoramente parecidos. Muitas vezes essas solicitações são frutos da democracia, mas a emperram em sua essência.
Além da máquina política e seu burocrático funcionamento, o mal do partidarismo e suas negociatas só desestimulam o interesse pela política no Brasil. A votação da ruralista reforma do código florestal, por exemplo, foi resultado muito mais de negociações entre governo e oposição, do que propriamente de uma atenção do congresso aos impactos socioambientais da nova proposta, que não são poucos.
A diferença parece ser de postura política. Enquanto alguns veteranos enaltecem seus enfrentamentos político partidários sob as luzes dos jornais de horário nobre, há novatos como um boleiro defendendo políticas de acessibilidade, um ex-BBB resguardando direitos de minorias e um palhaço, tímido, aprendendo a legislar e apoiando projetos educacionais.