quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Quem é Bundão Levanta a Mão 1


O Bunraku (não é palavrão, adianto) é um gênero do teatro de marionetes que surgiu no século XVI, no Japão. No Bunraku figuras articuladas de mais ou menos um metro, semelhantes a crianças, são manipuladas por profissionais vestidos de preto, cerca de três por boneco. O resultado é uma belíssima cena em que as marionetes parecem ter vida própria.
Não serei o primeiro, nem o último, a fazer uma analogia entre marionetes, como o Bunraku (Luis Fernando Veríssimo, por exemplo), e a vida política e social, por mais desgastada que essas comparações possam parecer. Dizer que somos “manipulados dia após dia” e “simples marionetes do capital internacional” são frases já extensamente repetidas. Mas é aquela velha história, nada é novo e de velharias podem sair idéias originais.
Mas estava falando da arte japonesa do Bunraku. Há um detalhe nesse teatro que chama a atenção, que soa muito peculiar nas artes cênicas. No teatro clássico, todos sabem que o que se representa nos palcos é uma mentira, é pura ficção, muito embora essa mesma ficção diga muito sobre a realidade que a permeia. Portanto, há uma cumplicidade entre espectador e ator, um jogo de adesão. Mas em nenhum outro gênero isso se faz tão explicitamente quanto no Bunraku.
Os manipuladores estão sempre à vista, mas cobertos de preto, dos pés à cabeça. Ficou convencionado, então, que são invisíveis. Simplesmente, por uma questão de convenção, eles adquirem esse atributo de invisibilidade e assistimos a toda a peça sem sequer notar a presença dos manipuladores de preto.
Hoje acontece coisa semelhante: ficou combinado que ninguém vê os manipuladores na cena política e social do país (no caso, os bonecos somos nós, a população). Como se isso não bastasse, ainda querem nos convencer não só a respeito da ausência de manipuladores, mas que os bonecos têm, sim senhor, autonomia. Ou seja, uma "autonomia" articulada por terceiros. Puro jogo de ilusão.

Um comentário:

Mais que Pélvis! disse...

como parte desse público (ou boneca), além de ser manipulada o tempo todo, eu aplaudo esse seu texto excelente, Roney!
Parabéns...
Beijãaooo!
Ana Lis (Lora)