sexta-feira, 19 de junho de 2009

liberdade, e sua maldita polissemia

Vamos brincar de discordar.

Eu sou um dos que chora a queda da obrigatoriedade do diploma de jornalista.
É corporativista de minha parte, como seria um engenheiro civíl se algo similar acontecesse com sua profisão. Não me venha dizer que o trabalho de engenheiros é mais importante que o de jornalistas. Um lide da Folha, trinta segundos do Jornal Nacional, um comentário na CBN trazendo críticas negativas sobre a qualidade de um prédio e me diga então de que vale o esforço do diplomado calculista.

O que o STF nos apresentou novamente foi seu hábito de defender a liberdade de mercado, sob o demagogo pretexto de defender a liberdade de expressão.
Não é a primeira vez que isso ocorre, haja vista o projeto de classificação etária dos programas de tv elaborado pelo governo federal, multilado para que, no final das contas, permitisse que as empresas de comunicação se autorregulassem com sempre fizeram.
Não é a segunda, afinal, caiu recentemente a lei de imprensa, eliminando toda a legislação sobre o mérito, sem qualquer projeto para tratar de direitos de resposta , por exemplo. Fica à mercê dos donos da mídia ponderar sobre essas questões.
Nem será a última, logo a regulamentação da profissão entra em Pauta no STF. Jornada de cinco e sete horas, piso salarial, benefícios e direitos tabalhistas funcionarão à veneta dos Marinho, Mesquita, Frias, Civita e outros membros da aristocracia midiática.

Existe uma visão romântica da profissão que alega que muitos jornalistas não possuem diploma e ainda assim seriam melhores que os acadêmicos, cuja precária formação não lhes forneceria base sólida o suficiente para a exercerem a profissão. Exemplos não faltaríam , segundo Gilmar Dantas: o colombiano Gabriel Garcia Marquez, o peruano Mário Vargas Llosa e os brasileiros Machado de Assis e Nelson Rodrigues. Esses seriam importantes fatores para provar quão desnecessário é o diploma.

Os grandes exemplos citados Pelo presidente do STF são mais talentosos que qualquer jornalista no tocante à arte da escrita, não sou estúpido a ponto de discordar disso só pra defender minha perspectiva. Todavia, é um contrasenso óbvio: os mestres citados são reconhecidos por seus dotes literários, que , apesar de serem muito aprazivelmente próximos do fazer jornalístico, não o resumem nem se limitam a ele. E não seria por possuir o diploma que um dos quatro citados tornar-se-ia menos talentoso.

Aliás, se o problema é a falta de qualidade dos jornalistas formados pelas faculdades nacionais, que se lute então pelo aprimoramento dos cursos. Não faz mais sentido? Convenhamos, se mesmo formados muitos não estão aptos para exercer a profissão, o que embasa a idéia de que o estudo do jornalismo seria desnecessário? Tanto faz quanto tanto fez? a idéia é nivelar por baixo?

Números da Folha, dos quase 80 mil jornalistas do país, pouco mais de dez por cento não possuem diploma, dois mil a mais do que produz a indústria de focas nacional anualmente. Seis mil novos fomandos é um número absurdo de novos jornalistas, não há espaço pra tantos no restrito mercado. Diminuir as exigências para o ingresso neste é estupidez.

Há quem reclame que o diploma era uma exigência simplesmente retórica, já que muitos exerciam a profissão mesmo contra a regulamentação. Pois bem, se tantos já exerciam a profissão com a prática proibida, agora que há respaldo legal, não sei o que levaria uma empresa a contratar um jornalista para escrever sobre economia, se pode disponibilizar o cargo a um economista. E último terá mais credibilidade, obviamente. Azar de quem não souber o que vem a ser IGP-M/FGV ou spreads.

Para concluir, uma piada. o argumento principal do Gilmar Dantas,no Estadão:
"Relator do caso no STF, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, disse que o jornalismo é uma profissão diferenciada, que tem vinculação com o exercício amplo das liberdades de expressão e de informação. Segundo ele, exigir o diploma de quem exerce jornalismo é contra a Constituição Federal, que garante essas liberdades."

Derrubar o Diploma não vai permitir a todos o acesso à expressar-se na grande mídia. Em mídias consideradas menos abrangentes, nada impede ninguém de lançar um blog na internet, por exemplo. Não é o diploma quer estringe a liberdade de expressão, portanto.

Pois é, deixoa pergunta: Agora que todos podem escrever jornais, você vai dar credibilidade para um jornal escrito por qualquer um?

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