Foi necessária uma iminente queda
política de Chávez, ou mesmo sua quase morte, para que a Venezuela fosse tão
falada pela alta casta da imprensa nativa. Não que Caracas jamais tenha
recebido tanta atenção quanto agora. Recebeu. Mas uma atenção limitada ao
indisfarçável descontentamento quanto à continuidade do governo chavista.
Sobretudo pelo jornalismo da Rede Globo que, se efetivo fosse, apoiaria e
laurearia um golpe direitista, golpe “democrático”, ao Palácio de Miraflores,
tal qual ocorrido com Lugo no Paraguai.
O brasileiro médio, bombardeado pelo
cartel da informação (e por cartel da informação entenda a indexação de um
mesmo ponto de vista por diversas empresas da comunicação, por força do
interesse corporativo), condena Chávez como um ditador. Aludido a conclusões
irrefletidas, esse mero receptor de informações que consome a notícia pensa que
há, em território venezuelano, um despotismo como o sírio de Assad ou mesmo um
regime como o fascista de “Il Duce” Mussolini.
Quanto ao “despotismo” eleito pelo
povo, ideia tão paradoxal quanto à de um golpe “democrático” como o paraguaio,
vale frisar que Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA e Nobel da paz por seu instituto de monitoramento de eleições, considera
o pleito venezuelano o melhor do mundo. E quando aquele seu colega, ou
um jornalista desses de 50 tons do mesmo ponto de vista, disser que “democracia
é alternância de poder”, argumente que essa equação semântica não fecha e faz
tanto sentido quanto uma “ditadura” eleita por sufrágio.
Em texto bem esclarecedor divulgado
recentemente, o economista estadosunidense Mark Weisbrot mostra que as
hostilidades a Chávez pela imprensa se fazem presentes em outros cantos do
mundo. No artigo, Weisbrot mostra como um jornalismo desinformador faz
projeções absurdas com base no partidarismo e na alucinação.
O economista também protagonizou um estudo sobre o crescimento econômico e
social da Venezuela com Chávez. Com média anual de mais de 13% no aumento do
Produto Interno Bruto (PIB), redução acentuada da inflação, aumento do
investimento em serviços públicos como saúde e educação, redução da pobreza de
54% para 26% e da pobreza extrema em 72%, cabe perguntar se a insânia
antichavista consegue convencer o povo de que a Venezuela precisa de um governo
diferente.
Na quarta-feira última (16/01), dia em
que Obama decretou medidas contra a cultura
bélica nos EUA, Arnaldo Jabor reclamou que a “consciência
social coletivista” jamais passou por esse país. Mas que “consciência social
coletivista” habitava os reclamos de Jabor? Foi tocante o jornalista condenar o
individualismo refratário à intervenção do Estado, como ocorre nos EUA. Que
"democracia moderna", segundo o próprio e mesmo jornalista, quer
Obama para a América? A de contínua hostilidade à democratização latino
americana?
Hei de lembrar que, como em outro texto tentei indicar, quando o já
batido substantivo "democracia" vem acompanhado de um adjetivo,
suspeite.
Que democracia seria essa, a “moderna”,
de Jabor? A das oligarquias da informação, como a da Rede Globo, que omitem excelentes indicadores venezuelanos e tentam
passar uma eleição exemplar por golpe? Desinformam seu público alegando que um
país democrático é uma ditadura? Jabor viaja, delira, na pompa do próprio
discurso. E só não é um pensar masturbatório porque agrada seus superiores na
Rede Globo. No mais, é reflexão severamente deslocada da realidade.
E esse delírio foi respondido pela
Embaixada da República Bolivariana da Venezuela, em nota. No entanto Jabor continua cineasta,
trabalhando na fantasia. Mas um cineasta a agradar seu patrão, ou seu salário,
na confusa metonímia das relações sociais sob o pano do capital. Arnaldo Jabor
produz comercialmente, como todas as peças da Rede Globo, não cultural e
artisticamente com crítica produtiva e esclarecedora.
A alta casta da notícia, o cartel da
informação, nem sob pena de perda de concessão, nessa nossa tão oligárquica e
paranoicamente ameaçada liberdade de imprensa, noticiaria que a Venezuela com
Chávez se tornou território livre do analfabetismo. Ou a Bolívia com Evo Moralez. Ou o Equador com Rafael Correa. Nem há de
noticiar as boas novas que vêm do Uruguai com Mujica.
Assim como a “Tela Quente” não passará
“South of the Border”, documentário elucidativo de Oliver Stone (“Natural Born
Killers”, “Wall Street”, “Platoon”, “U Turn”, “World Trade Center”) com presidentes
de esquerda eleitos na América Latina depois da ascensão de Chávez na
Venezuela.
“The
Revolution Will Not Be Televised”, outro excelente documentário
sobre o golpe sofrido pela Venezuela em 2002. Não só a revolução, mas mesmo um
reformismo social-democrata tende a não agradar aos Citizens
Kane modernos.
Felizmente, uma espécie de ley
de medios conquistada com a abertura à informação na internet
ameniza o impacto do oligopólio da mídia. E com isso, não dependemos mais
daqueles velhos padrões informativos que orbitam um só e mesmo propósito. Em
Caracas e no resto do país, a preocupação do povo venezuelano não é a de
se livrar de uma ditadura, mas sim a de viver uma.
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