Em mais um delírio contra o Estado Laico (você viu algum por aí?) , Carlos Apolinário (DEM - confira aqui, São paulo e Rio são os maiores empregadores desse partido em demorada extinção) mandou um projeto pra câmara dos vereadores de São Paulo para comemorar o Dia do Orgulho Hétero. Nesse dia, a paróquia da Câmara deu até quermesse.
Deprimente? Deprimente é morar num dos bairros onde o bendito teve maior votação. Deprimente é o argumento religioso para justificar o projeto:
"A criação do Dia do Hétero não simboliza uma luta contra a figura humana dos gays, e sim contra aquilo que considero que são excessos e privilégios".
De hétero mesmo não tem muita coisa neste argumento, reparou? Ele não quer saber é de privilégios para gays. Tenho mais uma frase brilhante do seu Carlos:
"Tiraram Jesus, tiraram CUT (Central Única dos Trabalhadores) e mantiveram parada gay. Mas se pode parada gay, por que não pode as outras? Não tenho nada contra o evento dos homossexuais, [não tem mesmo, o cabeleireiro dele é gay...] é direito deles.Mas em muitos casos eles não têm buscado direitos, e sim privilégios"
Um dia oficial sempre quer dizer alguma coisa. Mesmo assim, seria absurdo um religioso cristão, que organiza sua agenda por meio de um calendário que conta os anos a partir do provável nascimento de Cristo, sinta invejinha de uma passeata. Mas desde quando político dá ponto sem nó?
Lembra da PLC 122, hoje Lei Alexandre Ivo, que pretende criminalizar a homofobia tal qual se faz com outros preconceitos? Esse é o privilégio do ao qual se referem o vereador - por ser religioso - e uns liberalistas - por serem contra um suposto favorecimento do Estado em relação a determinada classe de cidadãos.
Até o Magno Malta já entendeu, parece, mas eu trago estatística pra mostrar que não é uma questão de privilégio, mas um problema crescente para a segurança e saúde públicas.
Os números da estatística foram tirados de notícias de jornais, ou seja: a conta pode ser muito pior, já que morte de homossexual (desconhecido) não vende, e pauta repetitiva não costuma dar cobertura sempre.
Na última década, 1429 foram vítimas fatais da homofobia. Dá mais que um pra cada três dias, na conta mais otimista. Não é um privilégio. É que nossa sociedade ainda não aceita os homossexuais: os hostiliza nas ruas, restringe sua imagem e seus atos nos meios de comunicação. É uma questão de direito a identidade, que lhes temos negado até hoje.
Quando aprovamos um "dia do orgulho Hétero", dizemos: não queremos que tenham mais direitos, queremos as coisas como estão. "Já deixamos vocês se casarem (como se isso fosse alguma gentileza), não venham com essa de discriminação."
Um comentário:
E o tempo se esgotando. Não é uma decisão política, é ética. O Apolinário acabou encostando o Kassab na parede. E pior: o vereador vai ser reeleito no ano que vem.
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