domingo, 7 de agosto de 2011

Dia do Orgulho Hétero. Pra que serve isso?

Não dá pra acreditar, mas é verdade... é, conta até dez, segue a vida...

Em mais um delírio contra o Estado Laico (você viu algum por aí?) , Carlos Apolinário (DEM - confira aqui, São paulo e Rio são os maiores empregadores desse partido em demorada extinção) mandou um projeto pra câmara dos vereadores de São Paulo para comemorar o Dia do Orgulho Hétero. Nesse dia, a paróquia da Câmara deu até quermesse.

Deprimente? Deprimente é morar num dos bairros onde o bendito teve maior votação. Deprimente é o argumento religioso para justificar o projeto:
"A criação do Dia do Hétero não simboliza uma luta contra a figura humana dos gays, e sim contra aquilo que considero que são excessos e privilégios".
De hétero mesmo não tem muita coisa neste argumento, reparou? Ele não quer saber é de privilégios para gays. Tenho mais uma frase brilhante do seu Carlos:
"Tiraram Jesus, tiraram CUT (Central Única dos Trabalhadores) e mantiveram parada gay. Mas se pode parada gay, por que não pode as outras? Não tenho nada contra o evento dos homossexuais, [não tem mesmo, o cabeleireiro dele é gay...] é direito deles.Mas em muitos casos eles não têm buscado direitos, e sim privilégios"
Um dia oficial sempre quer dizer alguma coisa. Mesmo assim, seria absurdo um religioso cristão, que organiza sua agenda por meio de um calendário que conta os anos a partir do provável nascimento de Cristo, sinta invejinha de uma passeata. Mas desde quando político dá ponto sem nó?

Lembra da PLC 122, hoje Lei Alexandre Ivo, que pretende criminalizar a homofobia tal qual se faz com outros preconceitos? Esse é o privilégio do ao qual se referem o vereador - por ser religioso - e uns liberalistas - por serem contra um suposto favorecimento do Estado em relação a determinada classe de cidadãos.

Até o Magno Malta já entendeu, parece, mas eu trago estatística pra mostrar que não é uma questão de privilégio, mas um problema crescente para a segurança e saúde públicas.
Os números da estatística foram tirados de notícias de jornais, ou seja: a conta pode ser muito pior, já que morte de homossexual (desconhecido) não vende, e pauta repetitiva não costuma dar cobertura sempre.

Na última década, 1429 foram vítimas fatais da homofobia. Dá mais que um pra cada três dias, na conta mais otimista. Não é um privilégio. É que nossa sociedade ainda não aceita os homossexuais: os hostiliza nas ruas, restringe sua imagem e seus atos nos meios de comunicação. É uma questão de direito a identidade, que lhes temos negado até hoje.

Quando aprovamos um "dia do orgulho Hétero", dizemos: não queremos que tenham mais direitos, queremos as coisas como estão. "Já deixamos vocês se casarem (como se isso fosse alguma gentileza), não venham com essa de discriminação."

E, por irônico que possa parecer, a única possibilidade dessa sandice não se confirmar é o prefeito vetar o projeto. Passado despótico ele tem. Afinidade com a causa também, supõe-se. Mas até quando as coisas são favoráveis, ele já dá sinais de que vai pisar na bola...

Um comentário:

Yuri disse...

E o tempo se esgotando. Não é uma decisão política, é ética. O Apolinário acabou encostando o Kassab na parede. E pior: o vereador vai ser reeleito no ano que vem.