segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Quando é que a gente vai debater política?

"- O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para diante daqui?
- Isso depende muito de para onde você quer ir.
- Não me importo muito para onde.
- Então não importa o caminho que você escolha.
- Contanto que dê em algum lugar...

Não importa se você se sente no país das Maravilhas ou dos Pesadelos, diante da urna estará como Alice e o Gato. Sem uma posição segura sobre pra onde devemos ir, escolhemos entre teclar 13 ou 45 para evitar a alternativa que desprezamos. Ainda podemos teclar 69 para evitar promover qualquer das duas, mas com a certeza de que, apesar do protesto, vamos acabar seguindo por um dos lados.

Se a princípio o caminho que queremos seguir não é tão certo, a repulsa ao oposto é tão absoluta que nos faz agarrar desesperadamente a opção restante. E aí a gente vota tão influenciado pelo personalismo, com uma idolatria tão infantil, que parece acreditar que Dilma ou Aécio governariam sozinhos todos os seus ministérios e secretarias e ainda liderariam bancadas no Congresso. Deve ter gente achando que vai ser atendido pela pessoa em quem votou quando for a um posto de saúde ou escola pública.

As já corriqueiras briguinhas de Facebook são forte sinal disso. É uma cultura tão enraizada que chegou aos debates presidenciais televisionados, nos quais os candidatos se vangloriam e se acusam sobre seus governos como se fossem os únicos responsáveis por tudo que aconteceu durante as gestões que chefiavam.

O flagrante desrespeito com os servidores públicos, cujo trabalho continua dia a dia a despeito de quem sejam os eleitos, produzindo as estatísticas tão divulgadas no horário político, não é o único inconveniente dessa cultura política tão birrenta.

As orientações do marketing político - de quem entende muito de imagem, mas pouco de política, e parece evitá-la - são cada vez mais estúpidas. Num esforço para incentivar a gritaria fanática e acrítica das redes sociais, atiçam seus clientes a arriscarem seu tempo de TV em um "nocaute retórico", fazendo do debate uma rinha de denúncias a seus adversários e expondo pessoas próximas, repetindo velhas críticas insistentemente em cada um dos minutos tão suadamente negociados em alianças contraditórias.

Já no plano social, por outro lado, a estratégia é não contrariar consensos. Quanto mais gente concorda com uma questão, menos ela tende a ser questionada por presidenciáveis. Com alto risco eleitoral, é difícil que as candidaturas abordem claramente a ampliação de direitos civis, ainda que estas violações impeçam a plena cidadania de grande parte dos brasileiros.

É até risível como essa postura conservadora foi vendida pelas três principais campanhas como uma forma de "mudança". Não se engane, meu caro, não há político capaz de mudar o país sem nem mesmo tentar mudar a nossa cabecinha de vento. 

E, no fim, o mais importante, que é o debate sobre políticas públicas, a política que impacta diretamente a vida das pessoas, fica negligenciado. O tema é considerado complexo demais, talvez pela incompetência dos técnicos de ambos os times, que são capazes de convencer bancas acadêmicas de que possuem a solução para o país, mas não conseguem explicá-las para as pessoas que precisam dessas soluções.

Como consequência, não nos esforçarmos para entender o funcionamento dos programas que os candidatos nos propõem, não avaliamos a perspectiva sobre os problemas que cada um deles oferece, nem observamos a forma como pretendem viabilizar suas propostas. Ainda que quiséssemos, nem recebemos informação pra isso.

Só sabemos da vida pessoal dos candidatos, sobre isso, temos notícias de sobra. Daí, como falíveis somos todos, a equivocada conclusão de que são iguais é inevitável, mesmo que representem projetos absolutamente diferentes.

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