Para a
cólera e contrariedade dos que só aceitam políticos de carreira na política, é
de autoria do deputado e ex-jogador Romário (PSB-RJ) um dos projetos mais
promissores para a ciência brasileira. O PL 4411/2012 tem por finalidade desburocratizar
as “importações de bens destinados às pesquisas científicas e tecnológicas”,
como declarado na ementa do próprio projeto. Através de um cadastro nacional
feito pelo CNPq, cientistas que importam esses bens terão desembaraços
aduaneiros e outros tradicionais trâmites simplificados. É um importante passo
para a evolução da produção científica no Brasil.
As
dificuldades encontradas por pesquisadores que precisam de material são
grandes. No projeto de lei do deputado Romário, a liberação para aquisição de material científico importado será imediata para cientistas
previamente cadastrados pelo CNPq.
Outros
planos similares visando à simplificação do processo de importação já foram
criados, como a Instrução Normativa nº 799 de 26 de dezembro de 2007 da Receita
Federal e a Resolução nº 1 da Diretoria Colegiada da ANVISA em 22 de janeiro de
2008. No entanto, como revelado na justificação do projeto de lei, 91% dos
pesquisadores que fazem uso de material importado não encontraram melhorias depois
dessas portarias.
Essa
iniciativa de Romário não é só relevante para a produção científica nacional,
que está sem competitividade e acaba não retendo cientistas nas mais diversas
áreas. Mas também para o sistema de saúde brasileiro, que depende muitas vezes
de pesquisas e consequentes avanços científicos e tecnológicos.
Tal é o caso
das pesquisas com células tronco embrionárias. Em abril deste ano o Ministério
da Saúde anunciou o investimento de R$ 8 milhões para construção e
reestruturação de Centros de Tecnologia Celular. O intuito da medida é a
produção interna, que ainda é muito refém de importações e da consequente
burocracia e custos envolvidos.
No entanto,
o investimento é só uma parte e o prejuízo é de toda a comunidade científica. Segundo
Lygia da Veiga Pereira, uma das mais reconhecidas pesquisadoras brasileiras, 95%
dos reagentes usados em laboratórios nacionais são importados e agências do
próprio governo acabam atravancando o trabalho de cientistas.
Segundo a
mesma pesquisadora, o Brasil tem um potencial científico grande, mas peca em
alguns pontos, dentre eles a burocracia em importações. Em consulta à emenda ao
projeto de lei, de autoria do deputado federal Vanderlei Siraque (PT-SP), vê-se
que a taxa de produção de artigos científicos no Brasil nos últimos 10 anos é
de 8%, muito acima dos 2% da média mundial. Potencial há, o que falta é a
facilitação do trabalho.
Em dados de
pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ publicada em 2010, 99% dos
pesquisadores consultados têm necessidade de importar materiais; 76% já
perderam material retido na alfândega; para 68% as importações demoram mais de
3 meses para chegar nos laboratórios e 98% dos pesquisadores já deixaram de
realizar pesquisa, ou parte dela, por problemas relacionados à importação.
Em muitas
outras partes do mundo os materiais são recebidos em até 24 horas.
No projeto
apresentado por Romário, o material importado será livre de taxa e de total
responsabilidade do pesquisador cadastrado. Inclusive eventuais danos à saúde
individual, coletiva e ao meio ambiente são passíveis de sanções penais ou
civis.
O
PL4411/2012 foi apresentado em 5 de setembro. A Mesa Diretora da Câmara indicou
a passagem do projeto por 4 comissões: Seguridade Social e Família; Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática; Finanças e Tributação e à de
Constituição e Justiça e de Cidadania. Atualmente o projeto está na primeira,
aguardando apreciação.
É mais uma
grande iniciativa de Romário, que vem sendo combativo e destaque em sua atuação
legislativa. O PL4411/2012 pode ser um divisor de águas para a ciência
brasileira, concretizando o potencial científico e tecnológico de um país que
precisa se livrar dos próprios entraves para crescer.
Só espera-se
que um projeto que desburocratiza a aquisição de materiais importados para
pesquisas científicas não fique retido na tradicional e morosa burocracia
parlamentar.
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