Você que
virou à direita, ao encontro simpático da força sociopolítica com tendências conservadoras,
individualistas, segregacionistas e mercadológicas, que muito fez por poucos na
história do país, assuma o mundo cão que essa força ainda alastra pelo Brasil.
Não se esconda por trás de moralismos baratos, acríticos e fanáticos. Seja
sujeito de seus atos, de suas decisões.
As
implicações de uma tomada à direita não recaem somente sobre uma eleição local,
preferindo o aparentemente menos corrupto ao crucificado por entidades que,
também elas, viram muitas vezes à direita. Quem opta por essa forma de governo,
de gestão, de poder, sustenta e conserva um extenso enredo de ações em todos os
rincões do país e em todas as esferas de atuação política.
Quem vira à
direita autoriza a violência no campo na luta por terras, a segregação social
urbana, a venda do Estado e tantos outros infelizes descaminhos típicos dessa
tendência. À direita se relativizam os direitos humanos em nome do lucro, se
concentra a renda, à direita se mantêm a desigualdade, o analfabetismo e a
fome, se mercantiliza a saúde, a educação, o transporte, os direitos civis, à
direita se institui um paradigma coercitivo, punitivo e dominador de Estado que
não garante direitos, os terceiriza.
Você, que
optou por virar à direita, reflita sobre o peso da sua decisão na luta por
terras no Brasil. Saiba de que lado ficaram lideranças de seus representantes
quando da votação do novo Código Florestal. Procure analisar com sua humanidade
do dia-a-dia a situação indígena e campesina no Brasil, os interesses do grande
latifúndio sustentados pela direita e cada bala que fere o corpo de um pequeno
produtor em nome do lucro de poucos e grandes, que você elege.
Não se
aproveite de um julgamento midiático para fundamentar seu repúdio à esquerda e
aos que pensam diferente de você. Assuma seu desprezo puro e simples, mas
justifique. Assuma-se contra a reforma agrária, contra o acesso irrestrito à
educação gratuita e de qualidade e a uma saúde digna por parte de parcela da
população que lhe inspira desdém. Não faça do moralismo a sua bandeira, se a
moral não lhe acompanha.
Você, que
virou à direita, seja pragmático, faça um exercício de visitar uma periferia.
Viva, ao menos por algumas horas, a aventura dos suburbanos, frutos do
apartheid social que vigora, sobretudo, em grandes cidades. Extrapole sua bolha
porque você tem que viver com o povo da periferia assim como, infelizmente,
esse povo tem que viver com você.
Compreenda o
papel das suas escolhas políticas, de ação ou de não ação, com milhares de
famílias que moram nas ruas, que sofrem para pagar um aluguel inflado pela
especulação imobiliária. Famílias que sofrem com bairros escuros e violentos,
com pouca perspectiva e oportunidade porque lhes faltou a sustentação que te
acompanha desde o berço.
Se virou à direita, encare o que a direita
cria, e você patrocina, debaixo das pontes de grandes cidades. Entenda e se
responsabilize pelo abismo de qualidade entre a escola privada e a escola
pública, pela proliferação empresarial de educação superior voltada só ao
trabalho, com muitos profissionais mal formados ou mal fabricados.
Por virar à
direita, descubra e reconheça que a coerção, a segregação e a marginalização
alimentadas pela sua corrente política são agentes da violência, do roubo, do
sequestro e do furto do seu iPhone.
Por fim, você
que virou à direita, vire mesmo. Mas vire com gosto, não se acanhe. Não se
atenha a um mero votar e está feito. Responsabilize-se pela força política que
escolhe, que elege. Mas não cobre ética, justiça social, igualdade de direitos
e oportunidades se não é isso que você efetivamente cria.
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