sexta-feira, 23 de março de 2012

Estados Unidos Aristocráticos do Brasil


Retomando o macambúzio destino do sorumbático vocábulo “democracia”, cabe contrastá-lo com demais formas de poder. Assim, um diagnóstico diferencial, para tirar a prova dos nove. Sobretudo vale inquirir e averiguar as diferenças a posteriori, baseados na experiência, entre democracia e aristocracia.

O título do presente texto já taxa a República Federativa, ou “Estados Unidos do Brasil”,como deseja José, de estado aristocrático. E não sem motivo. Intentarei perscrutar o que se apresenta como aristocrático e como democrático para chegarmos a uma conclusão razoavelmente sensata.

De volta àquelas, talvez, maçantes análises sintáticas morfológicas e semânticas do “cunho vernáculo” do vocábulo “democracia”, temos plena ciência de que o sentido deste termo, de origem grega, nada mais é do que o nobre poder do povo.

Sabemos, também, que na prática a teoria é outra. Os incontáveis adjetivos que desvirtuam o sentido da palavra atravessaram os séculos de história humana. “Democracia liberal”, “democracia representativa”, “democracia cristã” e mesmo o pleonástico “democracia popular”.

A situação é feia. E se agrava com o fomento à aristocracia brasileira. Rigorosamente, aristos, do grego, traduz-se “melhores”. Em sua República, Platão já defendia que apenas filósofos governassem o Estado. O contratualista Rousseau destaca as vantagens de um governo aristocrático, desde que apenas executor da vontade geral.

Em todo caso, Aristocracia denomina o poder dos melhores. E melhores sempre delimitou uma amostragem populacional, uma minoria. Podemos arriscar a pensar que se trata do poder de uma minoria, quando há aristocracia, vice versa.

Desde a redemocratização, vimos o crescimento de uma tal “democracia representativa”, constituída em 1988. A divisão de poderes entre legislativo, executivo e judiciário tem Montesquieu como padrinho e outros Estados como exemplos. O drama de um estado extenso que se diz democrático reside na representação da vontade do povo no poder legislativo.

Consta no Capítulo IV, Art. 14 da nossa carta magna, que a soberania popular se exercerá via sufrágio universal mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular. No entanto, a lentura, a burocracia e a, ainda, precária mobilização coletiva, fazem da tal soberania popular mera formalidade, “um papelzinho”.

Somos governados por grupos, os “melhores” para se ter mais exatidão. Grandes corporações jornalísticas como Abril, Folha, Estadão, Globo, Bandeirantes e outros filtram informação e formam opinião. Reproduzem entretenimento comprado, quase sempre acrítico e pseudo politizado quando critica.

Somos governados por partidões. Sim, boa parte deles são partidões, ou você acha que o Código Florestal ou o piso de policiais e professores são analisados pelo teor social do tema? Conchavo. Fisiologismo passou de vício a costume. Corporativismo é mal necessário. E assim vamos, permitimos desmatamento porque parte dos “melhores” assim quer, na busca por cargos.

Somos governados por caciques. Do Maranhão 66 à serrista Pauliceia. E os caciques lideram bancadas, partidos, Estados. São os “melhores”.

Somos governados pelo lobby, pelas grandes montadoras para que tenhamos mais carros e menos bicicletas; somos governados pelas imobiliárias, pela especulação e pelo aluguel salgado, extorsivo no custo/benefício, além do higienismo , a gentrificação para a valorização de regiões. É o sistema.

E a birra da base aliada do governo federal vai por esse caminho. Grupos querem poder, querem altos cargos da gestão, pelo simples poder. Descambamos já, talvez, para a oligarquia, ou “governo de poucos”, não necessariamente melhores.

Assim, são os grupos que governam. O povo deixa espaço para os melhores, ou os poucos. Tá aí, no seu dia-a-dia. No trânsito que você pega, no imóvel em que você dorme, no entretenimento em que você se distrai, no trabalho que você atura e na vida que você vive.

Um comentário:

João Vitor Campos dos Reis disse...

Post de sentido real, poderoso, impactante. Com certeza frutos de uma perspectiva cartesianista do pensamento humano. As medidas que definem quem são os melhores permitem que eles se sintam no direito de ter o poder afinal.

Isso quando o 'poder dos melhores' não sobrevive dos subterfúgios ideológicos