Não há, no
léxico, palavra mais violentada que “democracia”. A origem é grega, o uso é universal
e a situação é russa. Morfologicamente, um substantivo. Tomando como bom
exemplo o exame gramatical já empreendido sobre o PMDB, acho prudente
debruçarmo-nos sobre a acepção de tão fundamental vocábulo.
Foto: João Faissal |
Malfadado
polissílabo! Sujeito de tantos lúgubres predicados! Os que contam a história
fizeram questão de empunhar o escudo como espada; e a democracia foi adornada
com os menos democráticos adjetivos. Prostituída.
Saqueada. Distorcida.
Como há de
lembrar, da etimologia sabemos que “democracia” poderia ser, em si, substantivo
e adjetivo. Dos gregos demo (povo) e kratos (poder) poderíamos supor que
sempre que a palavra aparece, há o poder popular. Mas as palavras mudam de
opinião, por assim dizer.
Elucidando,
o DEMocratas, partido brasileiro, não pode ter esse nome, uma vez que tem
origem em barões, latifundiários e grandes empresários. E não pode não por
proibição ou moral, mas por pura inconsistência etimológica.
Partamos à
análise morfológica.
“Liberal”, como
adjetivo, compreende uma extensa seara semântica, de acordo com o uso.
Aprendemos, nos afáveis anos de escola, que o adjetivo muda a qualidade do
substantivo.
Veja você a
enorme discrepância entre “saia curta” e “saia longa”, “copo cheio” e “copo
vazio” etc. Quão poderoso é o adjetivo, capaz de colocar o substantivo onde ele
bem entender!
Morfologicamente
a relação é de quase dominação. O substantivo “céu” não pode ser “azul” se o
“cinza” se assenta, e por aí vamos.
Quanto ao
substantivo “democracia”, nosso enfermo e corrompido oxítono, a regra é a
mesma. Sem delongas, adjetivos como “liberal” (no sentido usurário comumente
aplicado), “cristã” e “representativa”, modificam o sentido de “democracia”,
imputando-lhe uma qualidade ao bel prazer de quem escreve.