sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

No rastro federal


Prédios dos ministérios em Brasília. Com um bloco
de notas nas mãos e um ministro na cabeça,
os inspetorescaçam testemunhas. Foto: Orlando Brito

“E agora, qual ministro investigamos?” Essa batida frase deve ser repetida a cada queda de ministro na sala da justiça da grande imprensa nacional.

No rastro federal seguem os Holmes das redações, os Dupins dos editoriais, os detetives ávidos pelo furo. Aliás, conhece alguém que pode incriminar algum dos ministros? Toma meu cartão e aventamos contrapartidas.

Não que seja errado, pelo contrário. Jornalismo investigativo deve estar a serviço da população exatamente por essa trilha. Já passamos tantos anos anestesiados com a corrupção aqui e acolá quando o papo é política. Nada nos surpreende.

Mas sete ministros? É muita corrupção, não é?

Talvez, caro cidadão. Os ministros caíram como suspeitos. Alguns com comprovada irregularidade, caso de Pedro Novais (PMDB) e Carlos Lupi (PDT). E os demais, houve investigação jornalística depois da queda? Uma nota aqui, outra ali. O importante é cair.

Mas no rastro federal eles prosseguem. Os Poirots no planalto central, os Clouseaus atrás das ONGs e de suas prováveis irregularidades. Lupa na mão e gravador no bolso. A primeira fagulha de suspeita vira sermão acusatório. Implacabilidade.

Segura Negromonte! Já não basta a má fama do seu partido, se aparece irregularidade com seu nome, a defenestração é sumária. Os inspetores seguem seu rastro, em Brasília e em Cuiabá.

E traga às claras, Pimentel. Onde há a fumaça da suspeita há o fogo mortífero dos, por assim dizer, paladinos da ética da oposição direitista. Que papo é esse envolvendo sua consultoria?

A sala da justiça da grande imprensa deve ter informantes pela esplanada. Ou melhor: só deve ter informantes na esplanada, nesse nosso rastro federal.

Agora, imagine você se o Kassab fosse ministro. Com a chuva de suspeitas de fraudes contratuais envolvendo a Controlar. E o que dizer do secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente da Pauliceia, Eduardo Jorge? Seu cargo é o mesmo de um ministro, mas no plano municipal. Em virtude disso seremos mais brandos?

E nas demais capitais, nos estados da federação, a seguir o exemplo paulista, será que só há corrupção no rastro federal?

Um dos principais motivos da numerosa queda de ministros nesse ano não foi meramente a corrupção. Essa nossa ancestral conhecida não discrimina instância governamental. Ela faz folia no plano federal, no estadual e no municipal. Ela homenageia Montesquieu e dá suas caras nos legislativos, nos executivos e no judiciário.

Os ministros caem porque subiram sob o abjeto regime de coalizão governamental. E é assim em qualquer canto. Os coligados do vencedor só precisam de uma piscadela para arrebatar cargos do alto escalão. Vencemos juntos, governamos juntos. Acordo tácito.

O problema é que são escolhidos os caciques, os figurões de cada partido coligado. E repito: é assim na União, nas unidades federativas e nos municípios. Velho costume.

Elementar, caro cidadão. Que caiam os que precisam cair. Mas e os demais secretários estaduais e municipais pelos desconfiáveis becos da política nacional? Tantos suspeitos, como em qualquer conto policial.

Fiquem atentos, nobres detetives de diários, tablóides e periódicos. Há mais rastros a seguir pela noite, pois se esses são preteridos, a suspeita pode cair sobre vocês.

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