quarta-feira, 20 de junho de 2012

O PT de Erundina não existe mais.


Existe um debate político sério que resume o velho dilema de quem não está no poder: Continuar fiel à sua ideologia, tentando conquistar a opinião pública através da argumentação, ainda que esse processo seja demorado e muito possivelmente infrutífero, ou aceitar uma flexibilização para adaptar-se a novos eleitores de forma mais rápida, mesmo perdendo sua identidade.

Esse é o cálculo político que, em tese, massacra a cabeça de marqueteiros e candidatos a cada 4 anos (ou a cada dois, dependendo de quem estamos falando). Em tese, que na prática, a teoria é outra, como nos mostrou o PT recentemente.

A ideologia partidária foi assassinada há muito tempo pelo fisiologismo, que os pesares que temos vistos são até antiquados. Taí a lei que impõe a fidelidade partidária aos políticos pra provar que, só por ter sido necessária, já mostra o valor da identificação entre partidos e candidatos.

As bandeiras dos principais partidos hoje não são mais que grifes políticas: brilha mais aos holofotes quem estiver no PT ou no PSDB, apita entre estes quem está no PMDB ou DEM, e o resto se espreme entre no máximo mais 10 partidos. Não há nem mesmo ideologias políticas suficientes para dar conta de tanto partido que o nosso sistema abriga. O Fundo partidário, no entanto, justifica a existência de todos.

Vai daí que temos a esdrúxula aliança do PT paulistano com Maluf, que comprometeu inclusive, sua feliz aliança com um dos símbolos de integridade do partido, Luíza Erundina, hoje no PSB. Ambos representam a morada da ideologia dos nossos tempos: a ideologia do indivíduo em quem se vota - a despeito de seu partido.

"A gente vai conseguir um bom tempo de TV, e ..."

O cálculo político não é complexo. O eleitorado paulistano é udenista: opositor do que considera populista, conservador, crê no mito da segurança pública via repressão, tem aversão à corrupção (sobretudo a que supostamente enriqueça os candidatos opositores) e desenvolvimentista. Maluf é a síntese prefeita dessa ideologia, tem uma frase de efeito pra cada pré-requisito. E mesmo chafurdado em denúncias, e mesmo depois do Pitta, ainda influencia em boa parte do voto "bandeirante".

Se saísse candidato hoje, uns bons 8% ficariam com o Maluf. Nada, nada, dá uma briga por um terceiro ou quarto lugar. Isso não faz jus ao currículo do Dr. Paulo, muito menos à necessária renuncia ao cargo de deputado federal para entrar em campanha. Por outro lado, a chance de voltar a fazer parte do executivo, dos holofotes, e a doce voz de Lula devem ter feito Maluf repensar seu ostracismo.

Talvez Haddad não consiga abranger os votos de todos os simpatizantes do Maluf. Mas este é um eleitorado que jamais votaria no PT. Para além dos minutos de TV, Haddad tira votos do Russomano (hoje no PRB, seu 5º partido), que são votos ainda em disputa. Vale ressaltar, a amizade entre Maluf e Russomano é a igual a de Alckmin e Serra. Realpolitik no seu estado mais transparente, pois.

Já Luíza Erundina (PSB) é uma espécie em extinção. A ex-prefeita de São Paulo praticou o tal Realpolitk ao entrar no governo de Itamar, oposição clássica de seu partido, mas convenhamos, os tempos eram tão outros que foi substituída por um militar. Foi um movimento de autonomia, em oposição ao seu partido, talvez precipitado, inclusive, por tão pouco que durou. Hoje, ao abrir mão de montar a chapa com Haddad, ela novamente personaliza sua ideologia própria, e paga o preço por sua coerência.

"o que você achou da proposta, Deputada?" 

Apesar de decepcionado, o eleitorado petista deve manter seu voto. O que não está sendo mantida é a identidade do PT. O partido escolheu usar as armas do inimigo para vencer a batalha, às custas de sua história e identidade. O que não é muito diferente de assumir extinção do projeto original, ou o que restava dele, e ainda interessava Erundina.

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