O ladrão
quer, o professor quer, o policial quer assim como o traficante também quer.
Você quer, o político corrupto quer, sua mãe quer e até o irregular pedinte de
metrô ainda quer. O médico quer, o empresário sempre quer, o funcionário quer e
até o índio passou a querer.
Vendaval ou
solução, o certo é que já passamos do antropocentrismo e orbitamos outro
núcleo, mais rentável. Nenhuma evolução é linear, e só é progressista se a fazemos
assim. Deus, o homem e o dinheiro. Podemos assegurar com retas sentenças que o
mundo gira hoje em torno do último, seja através do primeiro ou do segundo.
Do miserável
ao milionário, estamos todos condenados à lógica das cifras. Invariavelmente,
temos o nosso valor, o nosso valorar. Somos compradores e comprados,
consumistas e meras moedas de troca.
Não é espantoso
o fato de que todos os nossos dias perseguimos um objetivo que se vai por aí?
Somos incitados pelo imperativo do dinheiro. E, ao mesmo tempo em que somos usurpados,
perseguidos, subjugados e oprimidos por ele, a ele sempre tornamos de braços
abertos.
Mais do que
qualquer outra razão, o dinheiro nos faz perder horas de nossas vidas a
executar um trabalho sem sentido, ao qual fomos empurrados e sem o qual sofremos
as mais doídas dores que o humano pode vender.
O dinheiro
nos joga uns contra os outros. Compra alegrias, tristezas, fantasias, compra
liberdade. Usamos um mundo sombrio em que educação é consumida e saúde é
comprada.
Os crimes -
do furto ao parricídio, do sequestro às guerras civis – boa parte deles têm o
dinheiro como motivo, ou a falta dele, mais precisamente, como ensejo. E mesmo
sendo o gatilho da violência, da segregação e de tantas outras tribulações de
uma espécie tão desenvolvida, ainda reina triunfante sobre nossas existências.
Alternativas
sempre há. Aquelas que priorizam o essencial, o humano, em vez do intermediário
capital. Mas é duro reverter a situação. Sobretudo em lugares em que as raízes
do privado estão tão encravadas nas costas do trabalho e os braços do dinheiro
agarram a humanidade por todos os lados.
A discussão
é eterna. E em momentos de crise ela deve ser travada com mais seriedade. O
sistema erigido sobre a propriedade, o lucro e o salário com a compra da
atividade não é solidário, não é coletivo, não é humano.
No entanto
da discussão deve se passar à práxis. Em ano de eleições esses pontos mais
fundamentais devem abalizar propostas de realização concreta. São Paulo já
mostrou para todo o mundo que não tem vocação para o coletivo, sobretudo
centrifugamente, dado o claro conservadorismo nos bairros centrais que
sustentam a atual administração.
E de nada
valem esforços para minimizar efeitos devastadores do capitalocentrismo, por
mais cobertos de adornos de boa vontade que estejam esses esforços, como
campanhas disso e aquilo. São paliativos, e na maioria das vezes escondem
perversos desígnios.
Se não se
aponta o fundamento dos principais males humanos, qualquer cuidado é anódino.
Aliena, conforta e conforma conforme a cobiça de quem faz a cabeça das pessoas.
Dia-a-dia
vendemos nossos sonhos, nosso ser, nossa liberdade, em troca da subsistência
que o dinheiro autoriza. Desistimos de nossos desejos para realizar desejos
estranhos aos nossos, em troca de migalhas de uma sustentação, toda a vida.
É bom a
humanidade dar outros passos, coletivos e, imprescindivelmente,
impreterivelmente humanos. Caso contrário, não carregaremos mais o dinheiro,
mas continuaremos por ele carregados.