Em novembro
de 1806, Napoleão Bonaparte deflagrara, via decreto, o bloqueio continental
contra a frota mercante inglesa. Uma manobra de guerra, mais que política. Sem
poder contestar o domínio da rainha sobre os mares, a alternativa protecionista,
por assim dizer, do império francês, acabou por não durar muito.
A tentativa
de minar a economia de uma ilha via bloqueio viria a se repetir, tal qual farsa, como preveria Marx. Também uma manobra de
guerra, apesar das convenções internacionais acharem natural um país
influenciar diretamente a economia de outro com ameaças a terceiros.
E o
bloqueio, ou embargo, é considerado um ato de guerra desde a London Naval
Conference de 1909.
OMCs e ONUs a parte, a difícil situação econômica de Cuba tem sua origem 50 anos
atrás. Quem mandou derrubar uma ditadura e querer organizar um sistema
econômico igualitário com supressão de opressão e criação de sistemas de
educação e saúde universais?
É praxe nas
aberturas da Assembleia Geral da ONU a condenação, por esmagadora maioria, do
embargo econômico imposto pelos Estados Unidos desde Fevereiro de 1962.
Mas, de
acordo com o que temos apreciado na guerra cambial entre os ricos e os
emergentes, expondo a inutilidade da OMC, e conforme vimos nas invasões
norte-americanas ao oriente médio apesar do indeferimento do também inútil
conselho de segurança da ONU, as convenções internacionais são meramente
figurativas, pois sanções só são levadas a cabo contra os inimigos do ocidente,
nesse já batido maniqueísmo global.
A imposição
dos EUA de que Cuba não tem direito de escolher seu próprio regime social e
econômico trouxe severos danos ao povo cubano. A proibição de países e
companhias estrangeiras e ianques de negociarem com a ilha, sob pena de
retaliação, isolou Cuba e os cubanos por todo esse tempo.
O bloqueio
dificulta a troca comercial de excedentes e mesmo a importação de vacinas
infantis, remédios e novos métodos de diagnóstico por parte do governo cubano. 85%
das patentes dos produtos farmacêuticos no planeta são de empresas
estadosunidenses, e Cuba não tem acesso a esses medicamentos por conta do
bloqueio.
Violação de
preceitos do direito internacional humanitário que proíbe a restrição à
circulação de medicamentos e alimentos, mesmo em estado de guerra.
Para a
diplomacia do governo dos EUA, direitos humanos parecem ser relativos. Hão de
defender esses direitos quando andarem em conformidade com os interesses
nacionais dos EUA e financeiros de suas companhias.
É como aquela
velha lição de História. Não que a Inglaterra não fosse humana ao lutar contra
a escravidão em colônias de aliados em séculos passados, mas alforriados
assalariados são potenciais consumidores, a questão humana é secundária.
Foi, por
esse caminho, que o obsequioso governo dos EUA enviou ajuda humanitária a Cuba,
sobretudo entre 1992 e 1995. É como o sequestrador que, por benevolente que é,
joga um prato de comida no cativeiro do sequestrado.
Cuba destina
13,4% de seu PIB à Educação, o dobro do segundo colocado na América Latina e o
segundo melhor nível do mundo, segundo dados da UNESCO. Ainda segundo a mesma
organização, o analfabetismo em Cuba é da taxa de 0,2%, o menor do mundo. 11,3%
do PIB cubano são dedicados à saúde, mais que Israel, único país na ONU que
apoia o bloqueio e taxa equivalente a países como a Alemanha, segundo dados da
OMS.
Até 1959,
antes da revolução, 70% das importações cubanas tinham origem dos EUA e 73% das
exportações da ilha encontravam o mercado do vizinho do norte. As dificuldades
impostas pelo bloqueio, como pagamento antecipado a raros produtos e trâmites
de câmbio que oneram transações cubanas são realidade ainda hoje, meio século
após o início do embargo.
Em 1992 com
a Lei Torricelli, os EUA limitaram ainda mais o comercio cubano com navios de
outras bandeiras, dificultando transações entre Cuba e outros países no mundo.
Especialistas elucidam que se trata de grave violação do direito internacional.
Violando
muitos acordos da OMC, do direito internacional e de convenções globais, o
embargo não tem previsão de aliviamento, nem de plena retirada. Na Cúpula das Américas que ocorre nesse fim de semana, a pressão dos países latino-americanos
para um relaxamento do cabresto estadosunidense virá mais uma vez à luz, como
de praxe e como nas assembléias da ONU. Mas com vias à reeleição, o change de Obama não chegará tão longe, e
o ato de guerra permanecerá.
Qual a razão
do bloqueio? A luta dos paladinos da “democracia” e sua cruzada contra os
inimigos de seus próprios interesses nacionais? Ou o medo de que um regime
socialista ou comunista se mostre mais humano, eficiente e democrático que a
selva do dinheiro e dos juros? Direitos humanos ou direitos financeiros?
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