Há cerca de
um ano escrevi, neste mesmo blog, meu primeiro texto. Tratava-se de uma crítica
à espada dos bons costumes que os moralistas políticos empunhavam contra
Tiririca, o “deputado palhaço”. A pudica e ilibada pose dos que ecoam como
injúria o fato de um palhaço ser deputado ainda é grande, grande como a
ignorância que dedicam à política nacional.
Pois bem. Passado
esse tempo, surgiram rumores de uma eventual candidatura de Francisco Everardo,
o Tiririca, à prefeitura da maior cidade do hemisfério sul. Os castos gritos de
desagravo novamente ressoam nessa treva de cidadania. Mesmo aqueles que,
sabendo ou não o que faziam, dedicaram seu voto a Gilberto Kassab, acham
censurável um palhaço no comando da cidade.
Para retificar
essa carência de informação, julguei prudente trazer à tona um balanço da
legislatura de Francisco Everardo, o Tiririca, para que os delatores imaculados
encontrem um pouco de paz para suas lamúrias.
Assiduidade.
No ano de 2011, Francisco Everardo se ausentou de apenas duas sessões
ordinárias no Congresso, uma em 23/03 e outra em 27/09. No entanto esteve
presente nos mesmos dias em sessões extraordinárias, fazendo com que sua
frequência em plenário tenha sido de 100%.
No presente
ano, Francisco Everardo se ausentou no dia 27/03, mas mais uma vez apenas na
sessão ordinária, estando presente na sessão extraordinária do mesmo dia.
Novamente 100% de assiduidade em 2012.
Tiririca é
também titular da CEC, Comissão de Educação e Cultura da “casa”. Aqui sua assiduidade
não foi exemplar, para delírio dos probos paladinos dos bons costumes. No ano
de 2011, Tiririca se ausentou sem justificativa em 9 de 66 sessões, o que lhe
dá uma frequência de 86,4%. Já em 2012, ainda titular, se ausentou apenas em
11/04, até então, tendo 83,3% de presença.
Em sua
atividade parlamentar, Tiririca tem se focado em questões que concernem à sua
comissão e, sobretudo, à sua experiência profissional. Tem defendido os
interesses de artistas circenses e junto aos ministérios da Educação e da
Cultura, tem atentado a programas culturais com fins educativos.
Ao contrário
do que muitos íntegros patronos da probidade advogam, palhaços não são
simplesmente estúpidos indivíduos que só servem para nos fazer rir. Vemos como
é difícil fazer rir hoje em dia, muitas vezes sendo necessário mergulhar nas profundezas
da humilhação racial e social. Mas esse é um rico diálogo que tem dado ares
neste blog, lanço apenas uma breve consideração.
Tiririca
procura se informar sobre ações de amparo à atividade circense arquitetados
pela Funarte, tem defendido interesses de artistas circenses e a
profissionalização da educação no circo.
Em matéria
de direitos sociais, Tiririca é autor de um projeto que visa à criação de
programas de amparo a famílias e pessoas que exercem atividades circenses e
diversões itinerantes. É autor de um projeto de lei que autoriza à União a
criação do programa Bolsa-Alfabetização, para alunos maiores de 18 anos
matriculados na rede oficial de ensino.
Ainda em
cultura, criou projeto de lei de incentivo à leitura com Vale-Livro para
incrementar a Política Nacional do Livro e tornar a leitura acessível a camadas
literariamente abandonadas pela excludente indústria editorial.
Os projetos
de Francisco Everardo são voltados à cultura, como o “Cultura Viva” e os
supracitados planos, além de defender os direitos de artistas circenses e
itinerantes, inclusive a educação formal de adultos e crianças desse público.
Infelizmente,
Tiririca ainda está longe de uma atuação parlamentar ideal. Mas para um país em
que o eleitorado, sobretudo a classe média intelectualmente ativa, ainda reproduz
o discurso moralista, presumivelmente ilibado, e alheio à realidade política
nacional, o palhaço é a tradução perfeita da representatividade política.