sábado, 7 de março de 2009

É subjetivo...

Um ótimo texto de Marcos Guterman ilustra muito bem quão questionáveis são as leis.
O artigo do link critica a excomunhão, anunciada por dom José Cardoso Sobrinho, dos médicos que realizaram o aborto dos gêmeos de uma menina de nove anos, fecundada por conta de um estupro.
Segundo Guterman, de acordo com a atitude do arcebispo de Olinda, "O que importa é que todos os pecadores devem pagar, mesmo que junto com eles pereçam os justos e os inocentes.", que vai de encontro ao que afirmaria Deus à Abraão nos capítulos 18 e 19.

Daí pensemos: se a leitura da Bíblia e das admoestações divinas feita por um arcebispo são assim discutíveis, a ponto de parecerem retrógradas e atrasadas ( convenhamos, o livro é objeto de pesquisa tem mais de dois mil anos)  que dizer do raciocínio da lei de talião, tão tristemente similar à política adotada por dom José ?

E agravemos: as técnicas de segurança pública que a polícia adota (e só as adota por que a sociedade assim o deseja, haja vista este absurdo verbete da Wikipedia) , não só se regem por carniceiros (como este) que ainda obedecem ao código de Hamurabi , como seguem uma filosofia muito similar à descritar por guterman, tratando civis e bandidos na mira de suas armas.

Não é hora de repensar esse monte de sucata?

2 comentários:

Unknown disse...

Não fui a favor da excomunhão, no entanto creio que eu deva dar algumas considerações teológicas sobre o porque da excomunhão de quem efetuou o aborto e não o estuprador.

Bem, o aborto, segundo a Igreja, é um crime grave contra a vida (mais grave ainda que o estupro) porque mata uma vida indefesa. A mãe sofria risco de morrer, mesmo assim é crime contra a vida? Sim, pois, segundo a teologia da Igreja tirar uma vida para salvar outra não é uma prática louvável.
Porque o aborto seria pior que o estupro, então?
Porque esse crime, apesar de brutal, e com certeza condenável, não absoluto, ou seja, ainda a possibilidades da estuprada se recuperar e o estuprador se arrepender verdadeiramente, entrando na 'lei' do perdão e da penitencia.

Como no estupro a morte do feto não pode ser revertida, além de se tratar de um ser inofensivo, é considerado crime digno e excomunhão. No entanto, se os acusados de excomunhão se mostrarem arrependidos pelo que fizeram, a excomunhão pode ser revogada.

Enfim, isso é apenas um parâmetro teológico para o fato, para justificar a posição da Igreja, e mostrar o 'outro lado', afinal é evidente a oposição da mídia à decisão da Igreja. Como disse não sou a favor da decisão, apenas entendo os porquês dela.

O que infelizmente eu percebo em tudo isso é que ficou mais em voga a questão da excomunhão do que do próprio estupro, como se o crime da igreja fosse pior, digamos assim.
Na verdade, toda discussão em cima deste fato não vai mudar a situação de que há uma criança estuprada e traumaizada, um feto abortado, e uma família perturbada pelo acontecimento.

Quanto a lei de Hamurab estar cada vez mais em evidencia na sociedade, é realmente um pesar...principalmente quando vemos-a sendo aplicada por aqueles que deveriam promover a justiça verdadeira: a força policial.

Unknown disse...

então , Pedro, a argumentação faz bastante sentido, seguindo a ótica católica.
Mas, e então , os médicos e a menina não poderiam se arrepender , tal qual o estuprador? Ainda não percebo onde um "pecado" é maior que o outro.
Outro detalhe: nunca vi nenhum assassino, de crianças ou adultos, ser excomungado. Por quê os médicos foram? Nunca excomungaram os Pimenta Neves,Coronéis Ubiratam, Antonio Carlos Magalhães ou afins.

Agradeço muito a participação e a oportunidade de discussão.Espero não parecer agressivo, é meu jeito de defender meu ponto de vista. Mas, saiba, preservo grande respeito pelo seu.