Diante de um país cuja divisão política se materializou muito injustamente em dois candidatos, era inevitável que começassem a surgir opiniões radicais em oposição ao sistema democrático por parte dos insatisfeitos.
Do outro lado, defende-se que a esquerda deve se levantar contra os pedidos de intervenção militar pela troca de regime. Seria um tiro no pé. É importante ressaltar que essa polarização é virtual e injusta: nem todo mundo que votou na Dilma é petista; nem todo mundo que votou na Dilma é de a esquerda; nem todo mundo que votou na Dilma é assim tão democrata; Da mesma forma, nem todo mundo que votou no Aécio é tucano; nem todo mundo que votou no Aécio é de direita; e definitivamente, uma minoria dos eleitores de Aécio são defensores de uma intervenção militar. Fazer essa divisão política polarizar também Democracia x Ditadura só serviria para engrossar essa minoria autoritária, que é contrariada por ambos os lados.
Um dos exemplos mais importantes foi dado por Geraldo Alckmin. A fala da direita derrotada no pleito presidencial - ainda que vencedora nas casas do legislativo - é mais legítima que a fala dos aparentemente vencedores, pois é a eles a quem coube o ônus da democracia desta vez.
Quando Alckmin defende a democracia, por mais relativa e criticável que seja essa defesa pelos argumentos da esquerda, ele fala a muito mais pessoas e com muito mais reconhecimento, vide o apoio expressivo que possui da população, sobretudo entre os extremistas da direita.
É importante que reconheçam que o mesmo sistema eleitoral ora criticado por ter eleito Dilma também garantiu a eleição do governador de São Paulo, do Alvaro Dias, do Serra e do clã Bolsonaro inteiro. E isso só é possível na democracia, ainda que falha.
A voz de Alckmin é importante para trazer para a realidade essa parcela da população - bem menor que a esquerda, mas muito influente - que acha possível privatizar as Forças Armadas Brasileiras para aplicar seu Golpe de Estado.
Que fique claro, este não é um elogio à gestão Alckmin, mas à específica postura que tomou nesta situação limite. É uma atitude tão louvável quanto a dos militares que, mesmo se opondo ao atual governo, se empenham em realizar seu trabalho da melhor forma possível, respeitando a soberania nacional.
Alguém pode dizer que este seria o dever dessas pessoas em um Estado Democrático. E é mesmo, mas quem disse que a democracia não depende de atitudes louváveis? É da voz dessas pessoas, como Xico Graziano, e não de nós da esquerda - que teoricamente estamos satisfeitos com o resultado das eleições, pelo menos do ponto de vista da oposição - que depende o futuro civilizado do nosso país.