Já se conjectura,
nos cenários mais prováveis, uma São Paulo governada por Celso Russomanno. O
candidato não para de subir nas pesquisas e começou a receber hostilidades de
José Serra: sinal de que se tornou popular. Enquanto o pleito não fecha, o
populismo dá as caras em mais um antigo aliado político de Paulo Maluf, muito
provavelmente o terceiro a reinar na Pauliceia.
Maluf, o
próprio, inaugurou o espírito político paulistano. “Perguntem aos taxistas!”. Nomeado
prefeito da capital paulista pelo Marechal Costa e Silva, presidente ditador a
quem posteriormente homenageou com seu “Minhocão”, Maluf sempre gozou de apoio
do povo paulistano. Se não do todo, ao menos da maioria. E se não sua pessoa,
ao menos seu clássico know how eleitoral.
Com obras
gigantescas, rica retórica e a malandragem do conservadorismo, Paulo Maluf
reinou em São Paulo, pela segunda vez, de 1993 a 1997 e, apesar do hoje
deplorável “rouba, mas faz”, teve hábil tato público para eleger seu sucessor
Celso Pitta, Maluf II.
Na época,
Celso Russomanno galgava seu espaço público na televisão, em programas como o
fenecido Aqui e Agora e se aventurava pela política pelo não fenecido PFL,
aquele velho partido do regime militar que nomeou Maluf. Candidato à câmara
nacional, foi o deputado mais votado em 1994.
Maluf II,
Celso Pitta, herdou o trono e a perversão. Selando fidelidade à casa real, se
tornou réu em treze ações civis, aumentou a dívida pública da cidade em 110% e,
com o escândalo dos precatórios, perpetrou formação de quadrilha, lavagem de
dinheiro e desvio de verbas públicas. 83% dos paulistanos não gostaram de sua
gestão, democraticamente eleita pelos mesmos paulistanos.
Nesse
ínterim, Russomanno antecipava a banalização da fidelidade partidária e,
legislando agora pelo PSDB, de 1994 a 1997, passou no meio de seu mandato para
o antigo PPB, atual PP, cujo brasão ostentava as grandes obras de seu maior
ícone: Paulo Maluf.
Vale lembrar
a linhagem dessas casas reais. Da dinastia ARENA fez-se a ditadura militar ou
vice-versa. Com o advento do fim do bipartidarismo, em 1980, do governo ditador
se fez o PDS. Com a redemocratização, a dinastia se enfraqueceu, laços foram
rompidos e desse afã de salvação política nasceram dissidências, nem tanto
ideológicas, mas sim puramente nominais: PFL e PPB, antigo e atual, na nossa
narrativa, partidos de Celso Russomanno.
Retomando a
história desse triste fado paulistano, após cerca de 6 anos mais um herdeiro de
Maluf herda a prefeitura. Desta vez Maluf III, Gilberto Kassab, recebe o comando
por um “papelzinho” e dá andamento ao tradicional reinar malufista.
Sua
coligação com José Serra não é de surpreender. A social-democracia, às avessas com
PSDB, sempre teve no PFL-DEM um forte aliado. Kassab veio daí, e mais tarde
criou o PSD. Social democracia com tendências liberais, democráticas, pro povo,
só que não. A raiz é a ARENA do golpe militar. Perseguições políticas, tortura
e extermínio antes era política de Estado, hoje só pega mal.
De 1997 a 2011,
durante mais de 10 anos, Celso Russomanno esteve ao lado de Paulo Maluf no
PPB-PP. Em 1998 foi acusado de exercício indevido da advocacia e de cobrar caro
por auxílio a seus clientes, falsidade ideológica para concorrer à prefeitura
andreense em 2000 e destinação de verba pública para uma ONG que preside, em
2010.
De 2006 até
a presente data, Maluf III tem dado continuidade à política de seu padrinho,
Maluf I. Especulação imobiliária governando a cidade, política de proibições,
obras eleitoreiras de fim de mandato e, fiel à fama: denúncias. Fraude no Controlar, venda da cidade e, depois
do escândalo da “máfia dos alvarás”, Kassab tenta limpar a barra com urgência.
Além de tudo, Maluf III foi secretário de Planejamento de Maluf II, e hoje enfrenta rejeição de 48% da cidade que o elegeu.
Candidato de
Maluf I na corrida estadual de 2010, Russomanno hoje renuncia ao, até pouco
tempo atrás, “querido” colega. Atualmente no PRB, seu quinto partido e grupo
fortemente apoiado por igrejas evangélicas, tenta desvencilhar sua imagem da
Igreja Universal, influente no partido.
A vitória é
quase certa. Com apoio evangélico e de um tradicional eleitorado que sempre
preferiu os métodos de Maluf, populismo paulistano, Russomanno segue tranquilo
na liderança e vence em qualquer cenário de segundo turno.
Resta saber
se a história se repetirá como farsa, pela terceira vez, coroando um modo de
governar tipicamente paulistano.