sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Apartheid estudantil

Na cidade de Bauru, localizada no centro do Estado de São Paulo, é cada vez mais comum a proibição do aluguel de apartamentos para estudantes. Fora isso, vários proprietários de casas se recusam a alugar imóveis a universitários.

Vamos começar de maneira radical: proibir estudantes em apartamento é o mesmo que proibir negros, pobres. Ou seja: puro preconceito.

Escutei um cidadão dizendo: "Não é preconceito. É uma situação que eles mesmos criam, fazendo baderna. Só quem mora ao lado de república sabe como é".

Não é preconceito dizer que: estudante = baderna?

Não estou dizendo que estudante não exagera. Alguns exageram sim. Fazem barulho, festas até o início da manhã seguinte. Mas se fazem isso, estão quebrando a lei do silêncio pós 22h. Daí baixa polícia na frente da casa e tudo mais.

E quanto aos apartamentos? Estudantes fazem barulho. Sim, alguns fazem. Mas se o condomínio pode colocar multas (no meu prédio a multa é de R$ 500 reais!!!) o barulho diminui. Do mesmo jeito muitos não-estudantes fazem barulhos e aprontam as suas nos condomínios. Eles só não são etiquetáveis.

Uma coisa é repreender e punir quem comete excessos. Outra coisa é simplesmente proibir alguém de entrar ou morar em um lugar porque outros da "mesma classe" (falam de classe de estudantes fosse uma coisa homogênea) fizeram bagunça.

Quem procura um lugar para morar, ao saber das regras daquele local, fica ciente do que pode ou não fazer. Mostrar o que pode ou não pode é completamente diferente de (e muito mais difícil que) proibir todos que um dia talvez, quem sabe, numa hipótese, possam vir a infringir a regra.

É a punição a quem não fez nada errado.

E mesmo quem exagera é tratado de maneira extremamente preconceituosa, como se aquele "pai de família" (e nem dá pra sabem o quão 'pai de família' que diz isso realmente é) nunca tivesse sido jovem, aprontado as suas. Como se nunca tivesse ido numa festa, ou como se no fundo, não estivesse com enorme inveja de poder trocar aquele terno por uma roupa casual e entrar na festa do "vizinho bagunceiro".


**************
Aliás, em Bauru começou um apelo pela recontagem da população no Censo do IBGE. Falam em 400 mil, mas o Instituto apontou 335 mil. Os bauruenses retrucam: "mas Bauru é uma cidade universitária, tem 9 faculdades... os estudantes foram contados em outras cidades".

Na hora de inflar estatísticas lembram dos universitários.

Às vezes não dá vontade de ser contado como habitante da cidade.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Salve CQC - ou não

Pergunta: O CQC é um bom programa ou já está apelando?

Quando o Pânico na TV surgiu, há 7 anos (estou ficando velho), o programa era o máximo. Parecia algo impensável um repórter fazer piadas com o próprio entrevistado. Eu assistia o programa inteiro para poder ver o Vesgo e o Sílvio cobrindo festas. Eis que uma professora minha profetizou: "Eles são ricos e engraçados. Daqui a pouco ficam milionários e sem-graça".

E foi o aconteceu. O programa ficou repetitivo, agressivo, e não saiu daquelas histórias de sandália da humildade, porrada no Vesgo e tudo mais.

Aí surgiu o CQC. Era o Pânico politizado e com mais conteúdo. As piadas não eram mais sexuais (apenas). Tinha crítica, posicionamento político, crítica social. Os deputados tinham que responder as perguntas capciosas e se não respondessem pegava mal. Rafinha Bastos, na bancada ao lado de Marcelo Tás, dava voz às piadas pesadíssimas enquanto Marco Luque era o responsável pelas piadas (nem um pouco) inocentes. Surge também o Top Five, e as mazelas da TV brasileira são expostas. Genial.

Eis que... Danilo Gentili começou a apanhar (Vesgo 2?) Tudo bem, era o ímpeto "jornalístico" pela notícia, pela entrevista. Forças ocultas agiam contra o programa televisivo. Mas depois, Rafael Cortez começou a distribuir selinhos em atrizes (Vesgo 2...).

Não dá pra dizer se a máscara caiu e dizer que de programa revolucionário, o CQC parece ter virado reacionário. Tás, durante a greve de estudantes da USP, chegou ao escrever no seu blog "Cadeia nesses vagabundos!" se referindo aos estudantes. Parecia até apresentador do Balanço Geral.

Durante a eleição de Dilma Rousseff mais uma do CQC pegou mal: "Danilo Gentili foi agredido por militantes do PT" denunciou Tás no Twitter. Absurdo, com certeza. Mas não era nada disso. Ele mesmo admitiu depois no Twitter: "Danilo Gentili foi agredido por seguranças do hotel onde Dilma estava hospedada". Segurança virou petista. Para completar, o apresentador dizia "Assistam o CQC e tirem suas próprias conclusões". É, pego mal para o CQC, pelo menos na minha opinião.

O CQC levanta diversas questões: é um programa jornalístico? Deve ter espaço numa entrevista coletiva? [vamos lembrar que os próprios jornalistas esportivos pediram a saída dos humoristas em entrevistas durante a Copa]. Alías, o que o CQC faz é jornalismo? A Revista Imprensa, em 2009 apontou os programas humorísticos com uma das causas da futura morte do jornalismo.

Bom, parece que daqui só vai sair uma chuva de críticas, mas pelo contrário. Eu adoro o CQC, acho o melhor programa da TV na atualidade e quando não consigo assistir vejo na Internet.
Acho que Marcelo Tás é um ícone do jornalismo de humor - daí pra saltar dizendo que é jornalismo eu fico em cima do muro. Se não concordamos sobre o jornalismo, garanto que entretenimento mais informativo que o CQC não há.

Na verdade, os repórteres do CQC fazem algumas perguntas muito melhores que as de outros jornalistas. A criatividade das matérias, dos assuntos e das edições acabou servindo de lição para o noticiário fraquinho que a gente via por aí. Alguns dos assuntos levantados no programa pautaram o noticiário nacional - violência de seguranças, mordaça aos humoristas são alguns exemplos.

Há quem diga que o programa ridiculariza o jornalismo e a política. Eu acho que o programa questiona e altera ambos.

E vocês? O que acham?