domingo, 30 de janeiro de 2011

Bolada garantida

Pela odisseia virtual cotidiana, encontrei o blog de um professor de literatura, a quem devo boa parte da minha nota no último vestibular que prestei. Desnecessário recomendar a leitura do blog de alguém que tanto admiro, mas recomendo em especial este post.

Ele faz 5 perguntas sobre eleições que eu me atrevi a discutir (na verdade 4, que a última exigiria um conhecimento sobre pós-modernidade que eu jamais fingiria possuir). De pensar nas respostas, surgiu meu interesse no fundo partidário.

É aquela grana que os partidos recebem do Estado pra se bancar (mais os trocados das doações). Antes chingar os malditos e dizer que os impostos deveriam ser usados pra outra coisa, um partido político é uma instituição importante para a democracia. Seria importante que o Estado garantisse sua existência.

Seria, porque deveriam garantir a liberdade política de todas as ideologias presentes no país, assegurando assim a liberdade de escolha do cidadão. Utópico bagarai. Vamos falar de realidade agora:

Os partidos não representam ideologias. Como tudo que sobrou para este miserável planeta, eles são empresas. Tal qual existem Nikes e Adiddas numa loja de calçados, seu partido figura o horário político. Cada produto tem sua vitrine adequada.

Seu governante é um produto. Bem como existem tênis pretos e brancos, masculinos, femininos, all-stars, de couro , de plástico, rígidos ou maleáveis, assim são seus candidatos. Em comum, são descartáveis. Com a diferença que um tênis não dura 4 anos nem na gaveta.

Agora posde chingar os malditos: cada partido tem um CEO e um conselho que não vai sair do poder. Pode votar à vontade. Não os culpe, você não largaria o osso também. Eles recebem uma bolada todo ano, e não é pra menos. Senão , em quem você votaria?

O Fundo Partidário é o que fecha a conta das campanhas. Tanto que, para a campanha mais cara da história, o rechonchudo subsídio engordou 65% (parlamentares gostam dessa porcentagem, né?). Resgatando o Chico Anysio, e o humor televisivo, ido há tantos, "e o salário, ó...".

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

BBB ou eleição? Eis a questão

Resolvi provocar nesse meu primeiro post em 2011!

Um pouco antes de começar o Big Brother eu li, via Twitter, um desabafo "Prefiro 3º turno de eleições à BBB11 no Twitter". E quando se fala em Twitter*, se fala na vida real.

Na hora achei engraçado e até retuitei (quem não entendeu pergunta pro filho), mas depois pensei mais sobre a asseveração (quem não entendeu pergunta pro papai).

Eu não assisto Big Brother, mas nessa luta, resolvi defendê-lo**. Ou ao menos lançar argumentos para uma matutação.

Vamos lá. Para quem gosta de política e não gosta de produtos de massa, é inevitável ir direto na primeira opção. Mas pera lá. Pensando nisso, uni os prós e contras de cada um.

Porque preferir eleições ao BBB:
- o Brasil está longe de ser um país perfeito e tem muita coisa a ser discutida. Eleição é a hora para isso. Não é hora de ficar vendo TV achar que tudo está ótimo se o seu BBB favorito vence
- é muito mais importante para o país debater mudanças estruturais e gastos públicos do que ver um programa de TV e decidir quem fica milionário ou não
- o Big Brother não traz nenhum retorno ao telespectador. O dinheiro do vencedor é problema dele. O ex-BBB não faz nada que influa na sua vida. Só serve para ser admirado, mesmo que não faça nada. Para completar, o povo ainda paga ligação e sms pra escolher o eliminado.
- tem gente que cria idolatria pelo participante do programa, mesmo sabendo que a profissão dele é "ex-BBB".
- ninguém merece aquelas revistas, programas de tv e sites que só falam do programa, dos personagens, das intrigas e fofocas.
- por fim... os BBBs são tontos, superficiais, cheios de plásticas, arrogantes, falsos e tudo mais.

Claro... mas e o outro lado, como fica?

Porque preferir BBB a eleições:
- quem assiste, assiste porque quer e vota porque quer. Não tem essa de voto obrigatório, horário eleitoral.
- o dinheiro do cara do BBB é dele? Melhor ainda. E o dinheiro do povo que o político usa mal, quando não usa em benefício próprio?
- BBB te irrita? E os jingles de campanha? E o carro de som? Já viu santinho de BBB espalhado pelo chão?
- na política não tem ninguém que cria idolatria por um candidato? Não tem o sujeito que trabalha na profissão "candidato"?
- ninguém merece a cobertura eleitoral e eleitoreira de alguns jornais, tvs e revistas sobre as eleições!
- você vai me dizer que não conhece nenhum político ou candidato que seja tonto, superficial, cheio de plástica, arrogante, falso, e PRINCIPALMENTE "tudo mais"?

*em tempo: também surgiu no Twitter a campanha "troque o BBB por um livro". Cito o brilhante adendo de @jota66: Se o livro for do Paulo Coelho "troque o livro pelo BBB'.
**aviso aos navegantes: estou tentando dar ideias, questionar, discordar do senso comum. Não estou fazendo campanha pela Globo, ou pelo BBB. Gosto de política e não assisto o reality show. Só estou levando a questão. OPINE!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Não sou eu, é você...

A brilhante análise do meu re-estreante (Sabe lá o Pasquale se com hífen ou não) amigo Gabriel sobre as enchentes tocou num assunto interessante pra quem gosta de mídia: essa história de interesse público e interesse do público (Não é trocadilho, é redundância mesmo!)

Como os três, se tantos, leitores desse blog são jornalistas (e, eventualmente, blogueiros), essa é uma questão que nos tira o sono. E eu acho que nela se esconde um dos maiores migués da profissão.

A justificativa dessa dicotomia, assim apresentada, é essa: "o povo não gosta de pensar, e um programa de qualidade exige raciocínio pra ser absorvido. Daí por que os BBBs, Datenas e Zorras Totais têm tanta audiência e o Provocações da TVCultura, bem, você sabe. Como a gente é da revolução e o senso comum é de direita, dizemos que fugir do senso comum exige raciocínio e os programas não o fazem, por isso tanta gente concorda com eles."

O pessoal observa que o conteúdo dos programas é diferente (até dói bancar o relativista e dizer só "diferente") mas ninguém observa que a linguagem também é distinta, e que o Datena é muito mais competente que o Abujanra para falar com as pessoas. O Abujanra nem deve ter amigos.

Outro detalhe que ilude os pesquisadores é que eles, como eu, são esquerdistas. E essa doença Marxista que ativa o raciocínio para as mazelas do mundo desativa a observação do óbvio: o Tim Maia avisou há tempos e a gente não aprendeu: "O Brasil é o único país que pobre é de direita".

A gente fecha os olhos pra isso, não quer acreditar, mas essa é a explicação mais coerente; o povo não quer ver o que a gente quer ver: pra grande audiência, os programas são bons porque reafirmam o que ela acredita. O Jabor faz sucesso quando voicifera seus impropérios porque reafirma o que a população quer dizer.

Por que o povo pensa assim? ou, por que a grande audiência é tão reaça? são outros debates. A mídia reafirmando esses valores evidentemente reforça essa característica, mas isso vem depois. Se o Datena e os colunistas que o povo gosta dão opiniões que refletem o senso comum, não é por não pensarem, mas por pensarem assim. Fazer o quê?

Ok, o conservadorismo da tv passa, mas e o BBB, pânico, Zorra etc? Porra, por quê tantas pessoas assistem isso? Uai, pelo mesmo motivo que a pornografia é dos maiores negócios do mundo (ok, isso foi um trocadilho), pulam carnaval ou leem Harry Potter: as pessoas querem entretenimento.

Nao é culpa da TV. Se só houvesse programas sobre alta-cultura as pessoas seriam mais interessadas nos filmes da Nouvelle Vague ou na Bienal do Livro? Eu sei que essa é uma hipótese absurda , mas me parece mais absurdo achar que as pessoas não iriam buscar entretenimento barato.

a internet oferece de tudo, mais do que se pode imaginar, mas quase tudo gira em torno de fofoca e sexo, que é o que resume o que pensamos a maior parte do tempo. Talvez não os intelectuais, claro, e é por isso que reclamam tanto.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fraca cobertura sobre os desastres faz com que se esqueçam da essência do problema e de quem é a responsabilidade

Os desastres ocasionados pelos desmoronamentos na região Serrana do Rio de Janeiro vem pautando a mídia com imagens chocantes e histórias tristes nos últimos dias. É um prato cheio aos que buscam atingir altos níveis de audiência e buscam, para isso, atingir os telespectadores, leitores e internautas com sensibilidade minimamente aguçada diante da tragédia.

Mais uma vez, a grande mídia se utiliza de uma programação viciada e cega diante dos verdadeiros culpados por desastres naturais. Será o acaso e a má sorte que fizeram com que a British Petroleum derramasse os milhares e milhares de barris de petróleo no Golfo do México? São Pedro está naqueles dias e, indignado com toda perversão humana, resolveu mandar algumas doses a mais de água aqui para baixo? Parece que os grandes veículos acreditam que sim.

A rede Record, por exemplo, faz a cobertura dos desastres sob a ótica dos desesperados, conta uma história mais triste e mais angustiante que a outra e aproveita para fazer o merchan da caridade realizada pela Igreja que a sustenta. A rede Globo elabora noticiários cheios de “exclusivas”, imagens de helicópteros, narra a ajuda proveniente de várias partes do país e até mesmo de pessoas que acabaram de perder seus parentes.

A visão superficial da mídia não só desrespeita o que é realmente de interesse público, como possui, mais esta vez, responsabilidades sérias por se perpetuar o descaso e a ignorância da população quanto aos deveres dos órgãos do Estado. Está na hora dos “grandes” veículos se lembrarem do que se aprende no primeiro ano da faculdade de comunicação social: a diferença clara e crucial entre interesse público e interesso do público.

É interesse público fornecer acesso a uma informação digna e de qualidade. É interesse público fazer com que a população saiba que a responsabilidade por tais tragédias pré-anunciadas é de um Estado omisso frente às más condições de moradia e subsistência de seus eleitores.
Não é nada honesto, aliás, utilizar-se do poder imagético atrativo da destruição e do caos para se fazer acreditar que “a natureza tem seus momentos de vingança”. Como foi veiculado pelo portal UOL ao utilizar a declaração do pároco da igreja matriz de Santa Tereza, o monsenhor Antônio Carlos Mota do Carmo.

Além do Estado, a mídia se omite e quem paga o pato mais uma vez é a população pobre e periférica que tem que pagar impostos do país com taxas tributárias maiores que a de países como o Japão, os Estados Unidos, a Suíça e o Canadá.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Não há caronas na política

Sabe o que é fisiologismo? É quando um representante do povo cede seu voto ao interesse de um lobbista (você também pode chamar de requerênte) em troca de favores pessoais (que você pode chamar de "pastas" de um governo que se forma, mensalão, licitações para a empresa de um camarada etc, a lista é grande).

Se você não for um acadêmico muito sisudo, também pode chamar de patrimonialismo, que é mais ou menos isso aí. É engraçado tanto formalismo pra uma atividade tão informal e cotidiana. Tão cotidiana que tem até um partido só pra garantir que continue existindo. O famigerado PMDB.

Em suma, o PMDB é um partido interesseiro, essa é a palavra, sem firulas. Há muito, o partido abandonou um passado ilustre para defender essa prática, quase uma instituição nacional - que ainda não ganhou data comemorativa por que Sarney ainda vive!

Pois bem. Hoje o nome do Guido Mantega estava nos Trending Topics.
O motivo, uma declaração curta e grossa sobre o salário mínimo, que recebeu RT até do Buda:
"se passar de R$540,00 nóis veta, mano!"
Não é frase mais popular do ministro. Por que ele diria isso? Até quem gosta de bater no governo petista preferiu denunciar a tática fisiologista dos parceiros da situação. A negociação é simples, liberem pastas legais no segundo escalão do governo, e o pessoal do salário mínimo engole o chororô, qual uma criança mimada ao receber sua mamadeira.

É justo não curtir a frase do Mantega. Mas imagine você, por que será que nenhum tucano ou demista apareceu no noticiário para dar coro à reclamação? Lembre-se que a promessa de campanha do Serra era de 600 mangos de salário mínimo, não era?

Já que todo mundo pode palpitar sobre economia e política, eu que não vou me fazer de rogado: os 600 mangos eram papo furado. Não fosse, o PT não brigaria com o aliado por conta de 20 mangos a mais pra passar aumento tranquilo e sem perdas políticas. Tucanos e demistas não dão o pitaco deles porque, se alguém perguntar de onde tirar o dinheiro, eles vão ter que explicar a fórmula mágica. É melhor deixar de lado.